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sábado, 25 de janeiro de 2020

Argélia; as teias de abril, a descolonização e as independências africanas


   Foi na Argélia pós-independência - 1962 -, no turbilhão político económico, social e militar que se lhe seguiu, que, um punhado de portugueses - cerca de 40; exilados, fugitivos, refratários e desertores -, controlados por opositores ao regime autoritário de Salazar - através da FPLN; Frente Patriótica de Libertação Nacional -, de que se destacou Humberto Delgado, Piteira Santos, Mário Soares e Álvaro Cunhal, foi tecendo a teia que haveria de lhes proporcionar os frutos políticos da “revolução” de abril. Em simultâneo, os movimentos independentistas das províncias portuguesas - com sede em Rabat na CONCP; Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas - lutavam pela acreditação e apoios externos, protagonizando uma luta interna fratricida induzida pelo imperialismo soviético, na sua ânsia de controlo de África, em compensação da desistência de Estaline dos propósitos da 3ª Internacional, conforme acordado na Conferência de “Yalta”.
   Muita coisa pouco edificante por lá sucedeu por parte dos, posteriormente aclamados, heróis da revolução dos cravos. O Estado prepotente e controlador, que os portugueses, hoje, sofrem na pele, já estava bem patente na espécie de embrião que germinava na pátria dos berberes.
   Vejamos o que diz “Patrícia McGowan” - testemunha direta -no seu livro “O Bando de Argel”, pág. 35 e 36:
   “A Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) tinha a sua sede em Rabat, capital de Marrocos. Secretariado por Aquino de Bragança (Goa) e por Marcelino dos Santos (Moçambique), este organismo recebeu asilo e ajuda em Marrocos, graças à amizade pessoal existente entre o rei Hassan II e Marcelino dos Santos. Este último, quando estudante em Paris, tinha prestado serviços ao então príncipe herdeiro de Mohamed V, quando os marroquinos ainda estavam em luta pela independência do antigo protetorado francês.
   Ao princípio, as relações dos nacionalistas das colónias portuguesas com os argelinos não eram estreitas. Os lusófonos eram marxistas, críticos do PCP, mas desconfiados do islamismo dos argelinos. Em segundo lugar, os argelinos pareciam já comprometidos em ajudar a UPA de “Holden Roberto”, movimento francamente anticomunista. “Holden Roberto” mantinha excelentes relações com muitos dirigentes argelinos, principalmente na Tunísia.
   Os chefes do MPLA, do PAIGC e da futura FRELIMO, reunidos na CONCP, aguardavam nervosíssimos uma independência argelina que poderia trazer à UPA um apoio prestigioso.
   Em 1962 andavam desesperadamente à procura dum esquema que pudesse impressionar os argelinos e anular a influência de “Holden Roberto”, mas, entretanto, era difícil saber qual a fação argelina que iria ganhar.
   Foi nesse Rabat de verão quente, a arder de intrigas, cheio de grupos de pressão internacionais, que veio cair o Fernando António Piteira Santos. Fugido de Portugal, após um período de clandestinidade, tinha atravessado a fronteira com três fatos vestidos, já a pensar na sua futura vida social pelas alcatifas de governos e embaixadas.
   Um indivíduo com muitos inimigos na oposição., “perigosamente ambicioso” (como diria mais tarde Delgado), Piteira Santos era dos poucos portugueses que já tinha uma certa familiaridade com as dissidências do movimento marxista. Expulso do PC por duas vezes, em 1945 e 1951, a primeira vez por denunciante na polícia e a segunda, acusado de pró-Jugoslávia, tinha fama de trotskista, e era tido, a bem ou a mal, pelos militantes do PCP, como agente de PIDE.
   Foi bem acolhido pela CONCP, que, na altura, não se entendia com Cunhal por este querer dominar a política dos nacionalistas africanos. Conseguiram-lhe a ajuda dos marroquinos e documentos para poder viajar. E naturalmente, apresentaram-no a “Michel Raptis”  (Pablo) que o recebeu de braços abertos.
   Estavam agora todos os personagens principais em contacto. Nenhum deles representava qualquer movimento real no seu país de origem. Cada um ambicionava o poder.”
   Hoje, 45 anos decorridos sobre o fim da “longa noite fascista” e das independências “libertadoras”, toda a insana corrupção que jorra dos respetivos regimes confirma isso mesmo. Nunca foi o bem-estar dos povos nem a justiça social, nem a igualdade de oportunidades e o fim de todo o tipo de descriminações que motivou os mentores dos novos regimes, mas, apenas e tão só, o exercício do poder e o acesso às prerrogativas, económicas e sociais, que tal proporciona.
Eis como um punhado de “chicos-espertos” controlam todo um povo, em nome da "liberdade".
 
 
(Alcácer Quibir)

Peniche, 25 de Janeiro de 2020
António Barreto

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