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Olhando Para Dentro (notas)

Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O Homem de Estado


   Georges Pompidou era não apenas um homem político mas também um homem de Estado. Uma das raras coisas que aprendi na vida é que a diferença entre um homem político e um homem de Estado reside nisto: só o homem de Estado encaixa as más notícias. O homem político receia-as, e dizendo isto diz-se que tem pouco de homem de Estado. Um homem político é antes de tudo um mercador de boas notícias. Não sei se vê a vida cor-de-rosa, mas com as suas promessas demagógicas e outras, tenta fazer acreditar ao eleitor que a vida é cor-de-rosa. O homem de Estado, na primeira ocasião, como Churchil, quando a sua consciência lhe dita, promete sangue, suor e lágrimas.

   A regra que Georges Pompidou me dera, era que as boas notícias não lhe interessavam grandemente. Apreciava sobretudo as más.

   Nunca vira tal linguagem.”

(Conde de Marenches, ex-chefe dos serviços secretos franceses, em “No Segredo dos Deuses”)
 

Peniche, 26 de Janeiro de 2020
António Barreto

sábado, 25 de janeiro de 2020

Argélia; as teias de abril, a descolonização e as independências africanas


   Foi na Argélia pós-independência - 1962 -, no turbilhão político económico, social e militar que se lhe seguiu, que, um punhado de portugueses - cerca de 40; exilados, fugitivos, refratários e desertores -, controlados por opositores ao regime autoritário de Salazar - através da FPLN; Frente Patriótica de Libertação Nacional -, de que se destacou Humberto Delgado, Piteira Santos, Mário Soares e Álvaro Cunhal, foi tecendo a teia que haveria de lhes proporcionar os frutos políticos da “revolução” de abril. Em simultâneo, os movimentos independentistas das províncias portuguesas - com sede em Rabat na CONCP; Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas - lutavam pela acreditação e apoios externos, protagonizando uma luta interna fratricida induzida pelo imperialismo soviético, na sua ânsia de controlo de África, em compensação da desistência de Estaline dos propósitos da 3ª Internacional, conforme acordado na Conferência de “Yalta”.
   Muita coisa pouco edificante por lá sucedeu por parte dos, posteriormente aclamados, heróis da revolução dos cravos. O Estado prepotente e controlador, que os portugueses, hoje, sofrem na pele, já estava bem patente na espécie de embrião que germinava na pátria dos berberes.
   Vejamos o que diz “Patrícia McGowan” - testemunha direta -no seu livro “O Bando de Argel”, pág. 35 e 36:
   “A Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) tinha a sua sede em Rabat, capital de Marrocos. Secretariado por Aquino de Bragança (Goa) e por Marcelino dos Santos (Moçambique), este organismo recebeu asilo e ajuda em Marrocos, graças à amizade pessoal existente entre o rei Hassan II e Marcelino dos Santos. Este último, quando estudante em Paris, tinha prestado serviços ao então príncipe herdeiro de Mohamed V, quando os marroquinos ainda estavam em luta pela independência do antigo protetorado francês.
   Ao princípio, as relações dos nacionalistas das colónias portuguesas com os argelinos não eram estreitas. Os lusófonos eram marxistas, críticos do PCP, mas desconfiados do islamismo dos argelinos. Em segundo lugar, os argelinos pareciam já comprometidos em ajudar a UPA de “Holden Roberto”, movimento francamente anticomunista. “Holden Roberto” mantinha excelentes relações com muitos dirigentes argelinos, principalmente na Tunísia.
   Os chefes do MPLA, do PAIGC e da futura FRELIMO, reunidos na CONCP, aguardavam nervosíssimos uma independência argelina que poderia trazer à UPA um apoio prestigioso.
   Em 1962 andavam desesperadamente à procura dum esquema que pudesse impressionar os argelinos e anular a influência de “Holden Roberto”, mas, entretanto, era difícil saber qual a fação argelina que iria ganhar.
   Foi nesse Rabat de verão quente, a arder de intrigas, cheio de grupos de pressão internacionais, que veio cair o Fernando António Piteira Santos. Fugido de Portugal, após um período de clandestinidade, tinha atravessado a fronteira com três fatos vestidos, já a pensar na sua futura vida social pelas alcatifas de governos e embaixadas.
   Um indivíduo com muitos inimigos na oposição., “perigosamente ambicioso” (como diria mais tarde Delgado), Piteira Santos era dos poucos portugueses que já tinha uma certa familiaridade com as dissidências do movimento marxista. Expulso do PC por duas vezes, em 1945 e 1951, a primeira vez por denunciante na polícia e a segunda, acusado de pró-Jugoslávia, tinha fama de trotskista, e era tido, a bem ou a mal, pelos militantes do PCP, como agente de PIDE.
   Foi bem acolhido pela CONCP, que, na altura, não se entendia com Cunhal por este querer dominar a política dos nacionalistas africanos. Conseguiram-lhe a ajuda dos marroquinos e documentos para poder viajar. E naturalmente, apresentaram-no a “Michel Raptis”  (Pablo) que o recebeu de braços abertos.
   Estavam agora todos os personagens principais em contacto. Nenhum deles representava qualquer movimento real no seu país de origem. Cada um ambicionava o poder.”
   Hoje, 45 anos decorridos sobre o fim da “longa noite fascista” e das independências “libertadoras”, toda a insana corrupção que jorra dos respetivos regimes confirma isso mesmo. Nunca foi o bem-estar dos povos nem a justiça social, nem a igualdade de oportunidades e o fim de todo o tipo de descriminações que motivou os mentores dos novos regimes, mas, apenas e tão só, o exercício do poder e o acesso às prerrogativas, económicas e sociais, que tal proporciona.
Eis como um punhado de “chicos-espertos” controlam todo um povo, em nome da "liberdade".
 
 
(Alcácer Quibir)

Peniche, 25 de Janeiro de 2020
António Barreto

domingo, 19 de janeiro de 2020

O exílio dos “heroicos antifascistas”

  
    Pensávamos nós, o povo ingénuo e laborioso, em 74, que os excluídos políticos da “longa noite fascista” tinham suportado as agruras do exílio numa espécie de imolação patriótica, enfrentando a pobreza e o opróbrio político e social, sem desfalecimento, pelas causas da democracia e da autodeterminação dos povos das províncias ultramarinas. Engano, nalguns casos a realidade foi bem diversa. Acreditados junto de Ben Bella pela mão de Humberto Delgado, convocado a líder da “Frente”, os “heroicos antifascistas” beneficiaram dos apoios logísticos e financeiros do novel Presidente. Instalados em moradias abandonadas pelos colonos franceses, cedidas pela Presidência argelina, não lhes faltaram cargos bem remunerados no aparelho estatal, nem sequer meios para operacionalizar a “Rádio Portugal Livre”. Valendo-se da prerrogativa presidencial de validação prévia das entradas e saídas na Argélia dos seus concidadãos, os “heroicos antifascistas” logo trataram de taxar drasticamente os parcos rendimentos dos exilados residentes - cerca de 40 - para financiar o “altruísmo” da Frente e o salário do seu Secretário-Geral, Piteira Santos. Foi esta uma das causas da rotura de Humberto Delgado com a FPLN - Frente Patriótica de Libertação Nacional - o qual se recusou a pactuar com tal prepotência, denunciando-a frontalmente, como era seu timbre. A outra causa da rotura prende-se com divergências de estratégia; enquanto Delgado queria passar, de imediato, à ação armada - tal como a FAP, Frente de Ação Popular, de Francisco Martins Rodrigues, João Pulido Valente e Rui D’Espiney, dissidentes do PCP -, Cunhal e o seu PCP, faziam jogo duplo; comprometendo-se com esta estratégia na 2ª conferência da FPLN, ato contínuo, trataram de protelar a preparação inerente, congeminando a 3ª conferência em moldes tais - cerca de dois terços dos participantes eram membros do PCP - que provocaram o a rotura de Delgado com a FPLN e o abandono da mesma pelo democrata Emídio Guerreiro. 

   Foi o princípio do fim de Humberto Delgado, o qual, a partir desse momento, só morto, serviria a causa da oposição. 
   Vejamos o que diz Patrícia Mcgowan, no seu livro “O Bando de Argel” (pág. 29/30):
“O que aconteceu na Argélia, e levou à morte do General Delgado, situa-se no mesmo quadro. A Frente Patriótica de Libertação Nacional, foi o título pomposo de um grupo de conspiradores, cujo fim era o aproveitamento político de ações e sacrifícios feitos por outros. Os Piteiras, Alegres, Titos de Morais e companhia, não comeram em África do Norte o pão amargo do genuíno exilado político. Gozaram dum exílio dourado, à custa dum povo árabe que ainda chorava um milhão de mortos, reclamando-se falsamente duma representatividade que não tinham; à espera, como abutres, que, em África, o sangue de pretos e brancos preparasse a queda do regime que eles próprios eram incapazes de derrubar.”




Ben Bella (Presidente argelino em 1964)

Peniche, 19 de Janeiro de 2020
António Barreto

sábado, 18 de janeiro de 2020

Heróis de ficção


   Da “revolução dos cravos” emergiu uma plêiade de “heróis antifascistas”, “intransigentes defensores da liberdade, do Estado de Direito, do progresso social e económico, da probidade, enfim; da democracia autêntica, pelo povo e para o povo. Instituiu-se no espaço público uma monótona retórica encomiástica da nova ordem onde a intolerância e a censura implícita e explícita se fazem sentir. O povo, cansado, inseguro, descrente, aceita esta espécie de poluição da narrativa política, quase indiferente, aceitando-a, e aos autoproclamados “heróis”, impotente, como uma fatalidade, chegando mesmo a colaborar na farsa.  Porém, um povo que preza a sua história, a sua dignidade e a liberdade, deve saber distinguir os falsos mitos das pessoas que cultivam e defendam os valores da dignidade humana.

   Patrícia Mcgowan, no seu livro “O Bando de Argel” dá-nos o seu testemunho. Eis um trecho da correspondente introdução:

   “O mistério do caso Delgado e os factos insólitos que o rodeiam ilustram duma forma cabal o que foram e o que são certas figuras proeminentes da classe política portuguesa. A protelação do julgamento durante longos anos, a libertação inexplicada de réus principais, o desaparecimento de documentação fundamental dos arquivos da PIDE, as proibições e censuras a obras de inquérito sobre o assunto nos meios de comunicação social, as calúnias e perseguições dirigidas a quem quisesse apresentar testemunho fundamentado - e, finalmente, um julgamento em moldes deficientes, baseado num libelo acusatório risível: tudo isto se passa num país que pretende passar por um Estado de Direito!

   Os responsáveis por esta situação estão despidos de autoridade moral para criticar o antigo regime. E o povo sente-o.

   Os responsáveis são muitos e o “bando de Argel” minúsculo Mas esse pequeno grupo, firmemente enraizado nas cúpulas do PS ou por elas protegido, continua impune, ocupando posições de relevo na vida nacional. O “bando”( com as suas múltiplas ramificações no PS, no PCP e no setor militar ) esteve no centro do “PREC”, da “descolonização exemplar, de dois governos constitucionais e continua ativo e esperançado em vir de novo ocupar o centro do poder.”
 

 

Peniche, 19 de Junho de 2020
António Barreto

Humberto Delgado e a “invasão” de Portugal



   Humberto Delgado foi o promotor e organizador do fracassado assalto ao quartel de Beja realizado em 31 de Dezembro de 1961, no qual participaram, entre outros, Adolfo Ayala, Manuel Serra e o capitão Varela Gomes. Na sua passagem por Argel, em 1964, qual Dom Quixote, planeava, com o apoio de Ben Bella - Presidente da Argélia pós independência até ao golpe de Estado de Boumedienne em 1965 - e a colaboração de um militar republicano espanhol no exílio, constituir e treinar, na Argélia, um exército, para invadir, a partir do Algarve, Portugal e Espanha, destituir os respectivos governos e instaurar democracias (foi também a causa de Henrique Galvão, o criador do Humberto Delgado político).

   No seu livro “ O Bando de Argel” Patrícia Mcgowan, a esse respeito, diz o seguinte:

“ Não se sabe ao certo o que Ben Bella prometeu a Delgado na famosa conversa de 30 de Julho. Pessoas próximas do General diziam, na altura, que houvera promessas de dinheiro, de material, de campos de treino- e até homens -, para uma acção de envergadura contra Salazar a partir do exterior. Mas, mesmo que Ben Bella tivesse sido momentaneamente sincero com Delgado, a realidade era que não tinha possibilidade de cumprir as suas promessas. O poder estava fraccionado entre diversos feudos militares cujas origens datavam da guerra contra os franceses. Quem iria ganhar a luta surda que se tratava nos bastidores (nesse ano que antecedeu o golpe de Estado de Boumedienne em Junho de 1965) era um mistério, mesmo para os argelinos melhor informados.
   No vazio de poder real criado à volta da presidência, os PCs, argelino e francês, manobravam, com a ajuda sempre presente dos serviços soviéticos.”
Humberto Delgado

Peniche, 18 de Janeiro de 2020
António Barreto

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

A dissidência de “Che”


“Che” Guevara um dos líderes mais carismáticos da revolução cubana, ícone do movimento revolucionário internacional, entrou dissídio com Fidel Castro devido à orientação de submissão do novo governo cubano à União Soviética. Afastou-se dos companheiros de luta, passou por Argel em 1964 - no período quente da pós independência - e acabou na Bolívia em 1967, lutando dos seus ideais. “Che” não era comunista. A revolução cubana não nasceu comunista. Os comunistas apropriaram-se dela, tal como fizeram em muitos outros lugares, como, por exemplo, na Revolução dos Cravos.

   Eis um extrato de Patrícia Mcgowan no seu livro “O Bando de Argel” (pág.. 142):

“….Entretanto, chegavam-nos rumores de que a independência da Revolução cubana perante Moscovo estava a acabar. “Che” Guevara, que já não fazia parte do elenco governativo de Cuba, permanecia, inexplicavelmente, na Argélia numa espécie de exílio voluntário. Na intimidade, confidenciava que, em Cuba teria que sentar-se à mesma mesa com indivíduos que mereciam ser fuzilados por traição à revolução! Os comunistas portugueses, pelo contrário, estavam agora mais à vontade com os cubanos….”
 
 

Peniche, 15 de Janeiro de 2020
António Barreto

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Os "democratas", "perseguidores de portugueses".


“---
5.e) “G.C.4” ou guerra do compadrio. Refere-se ao despotismo, com o correspondente terror, difundido entre a colónia portuguesa da Argélia, que estava dependente para a sua entrada e saída do país, dos caprichos das informações do sr. Piteira Santos, sempre muito interessado nestas funções de querer mostrar força aos compatriotas, na falta de força política real atrás dele.
---
9.….Nestas condições o pessoal de que disponho é o que se debruça muito mais sobre os pequeninos problemas de Argel - ódios e prestigiozitos pessoais - do que sobre assuntos sérios. Mal entro na Junta, é quási certo: o sr. Piteira arenga ou quer arengar contra os portugueses de Argel! Que obsessão!
---
13. Isto no material. No representativo, tem o seu quê de cómico ver o sr. Piteira Santos empurrando o sr. Cabeçadas, querendo à força ver se volta a ficar dono do “poder” sobre os pobres compatriotas. Furioso, escumando raiva, saiu-lhe da boca ameaça dizendo que eu me arrependeria (!) de lhe ter tirado esse poder com que criou o terror em Argel, como ditador. Está querendo cumprir a ameaça através de ações de tipo psicológico “uterino” - passe o termo.
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15.c) Substituir, por agora interinamente, neste Comando Operacional, o sr. Piteira Santos, pelo sr. Eng. Manuel Tito de Morais que tratará de ir desempenhando as funções já fixadas para o primeiro.
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15.g) Suspender de funções para averiguações sob acusação de traidor, perseguidor de portugueses, intriguista e indivíduo perigosamente ambicioso, o sr. Piteira Santos a quem fica vedado pisar a sede da Junta como membro, até que o órgão maior da Oposição decida do que deve ser o seu destino. Deve entregar imediatamente, até ao dia 6 do corrente, o que à Junta pertença.
   Extrato da carta dirigida por Humberto Delgado em Agosto de 1964, com a referência Nº P/89, aos membros da Junta Revolucionária Portuguesa, com sede em Argel, enquanto seu Presidente, publicada em “O Bando de Argel” (de Patrícia Mcgowan).
 
 
 

Peniche, 13 de Janeiro de 2020
António Barreto

domingo, 12 de janeiro de 2020

Afonso Costa


A república, o socialismo e a Igreja:
 

"As leis de Afonso Costa eram, sem sombra de dúvida, de perseguição, de ataque à Igreja, ao clero e à própria religião. Eram leis violentas, revolucionárias. Afonso Costa sabia bem que nenhuma revolução podia ser levada a bom termo, escrever-se com R maiúsculo, sem destruir, primeiro, na sua essência, o poder económico, político e psicológico das religiões organizadas. É um facto que a história tem claramente demonstrado, nos últimos duzentos anos. Bem o compreenderam os dirigentes de outras revoluções - no México, em Cuba, na União Soviética. Onde as Igrejas poderosas não foram vencidas, as revoluções fracassaram. Conciliar esta necessidade de perseguição com a tolerância poética e romântica que constituía um dos tons da geração de 1890-1891, eis uma das grandes contradições que os homens da República não puderam superar.." (A.H. de Oliveira Marques, cadernos do FAOJ, Afonso Costa).

 

 

(Afonso Costa, março de 1921)

 

Peniche, 11 de Janeiro de 2020

António Barreto

Os "democratas", a censura e a PIDE

 
   “Pela primeira vez na vida, os portugueses tomaram conhecimento do complexo mundo que as duas censuras da mãe pátria lhes tinha ocultado. Descobriram - atónitos – que não fora o Partido Comunista argelino que havia feito a revolução, mas a FLN, anticomunista. Ouviram as queixas contra Cunhal dos nacionalistas angolanos, membros desse MPLA que ainda não era de Neto. Descobriram, enfim, que se podia ser de esquerda e criticar, alto e bom som, os comunistas, sem ser-se apodado de PIDE ou ser-se denunciado à PIDE:”

   Patrícia Mcgowan em, “O Bando de Argel” (Intervenção)
 
 
Piteira Santos e Manuel Alegre

Peniche, 12 de Janeiro de 2020
António Barreto

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Com cravos e bolos…


Com cravos e bolos…

“O General Spínola encontrava-se num estado de grande depressão. Chegara ao ponto de chorar abertamente numa das audiências. Sentia-se que estava submetido às maiores pressões contra as quais mal podia reagir. Desabafara afirmando que estava “rodeado por covardes e traidores”.

   Contou toda a história das negociações, afirmando que nunca transigiria com o que lhe queriam impor. Os próprios ministros Mário Soares e Almeida Santos, que os emissários viram sem lhes falar, pareciam acabrunhados.

   Quando se mencionou o nome do Maj. Melo Antunes, o Gen. Spínola não se conteve gritando que “esse é um comunista, não tenho já dúvidas a tal respeito”.

   Referiram a possibilidade de ele ser nomeado para Moçambique (como os jornais haviam largamente noticiado) e o Presidente da República acrescentou; “Se isso acontecer há que abatê-lo. Têm três dias para lhe darem um tiro na cabeça.”

Penso que a ninguém ocorreu objetar que seria mais simples não chegar a nomeá-lo, uma vez que essa prerrogativa pertencia ao Chefe de Estado.

   Ainda mais simples teria sido prendê-lo em vez de oficiais considerados patriotas (como o Tem. Cor. Alexandre Lousada, o Com. Almeida e Costa e o Maj. Casanova Ferreira) aceitarem fazer parte do séquito de um “comunista” na sua triunfalista deslocação a Lusaka.”

“Moçambique Terra Queimada”, Jorge Jardim, Intervenção.

Peniche 03 de Janeiro de 2020
António Barreto

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Além da cortina das aparências jazem os falsos mitos


Além da cortina das aparências jazem os falsos mitos

   Mas onde os socialistas não encontram desculpa foi em terem persistido em jogar o papel liderante de descolonizadores para daí recolherem benefícios de prestígio político à custa dos povos que entregavam à escravidão.

    O Dr. Mário Soares e o Dr. Almeida Santos aceitaram, até ao fim, oferecer cobertura às manobras do Major Melo Antunes que os ultrapassava nos contactos negociadores e deram mesmo o seu aval à assinatura dos acordos em que esse caminho se preparava. Estando no seio do Governo e conhecendo a evolução das negociações, é imperdoável que o não tenham denunciado se os seus propósitos não eram idênticos.”

Jorge Jardim em Moçambique Terra Queimada (intervenção)
Peniche, 2 de Janeiro de 2020
António Barreto