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quarta-feira, 27 de maio de 2020

O Falso Mendigo (Vinícios de Morais)

O falso mendigo

Rio de Janeiro , 1938

Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
Quero fazer uma poesia.

Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave
Quero fazer uma poesia.
Se me telefonarem, só estou para Maria
Se for o Ministro, só recebo amanhã
Se for um trote, me chama depressa
Tenho um tédio enorme da vida.
Diz a Amélia para procurar a “Patética” no rádio
Se houver um grande desastre vem logo contar
Se o aneurisma de dona Ângela arrebentar, me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.
Liga para vovó Neném, pede a ela uma ideia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
Se eu dormir, pelo amor de Deus, me acordem
Não quero perder nada na vida.
Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme da vida.
Minha mãe estou com vontade de chorar
Estou com taquicardia, me dá um remédio
Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
Já não me diz mais nada
Tenho horror da vida, quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.
Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não aguento mais ser censor.
Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.
 
   
 
Peniche, 27 de Maio de 2020
António Barreto              

domingo, 10 de maio de 2020

O Confinamento da Comunidade Cigana

Tribunal Eclesiástico da Inquisição
 
O que se me oferece dizer sobre o tema do confinamento dos ciganos e da intervenção de Ricardo Quaresma:

   Ricardo Quaresma insinuou que André Ventura estava a fomentar a violência entre os ciganos e os não ciganos, o que pode ser interpretado como uma ameaça velada, próprio aliás, do comportamento característico daquela comunidade. 

   Na verdade distorceu os factos, a proposta de Ventura destinava-se a prevenir a propagação da doença entre os vários grupos daquela etnia e entre estes e a comunidade em geral, tendo em conta o facto de, habitualmente, não acatarem as regras gerais.
   Como é que isto pode ser considerado uma ofensa? Não pode!
    Por outro lado os casos de violência envolvendo elementos ciganos são recorrentes e resultantes do entendimento destes de que detêm um estatuto especial, que os dispensa do cumprimento das leis do país, e provoca mal estar e confrontos com a população não cigana.
   Mas o Quaresma não se pronunciou sobre esta realidade. Porquê?
   Ricardo Quaresma, ao que consta é de origem cigana e parece que ostenta um certo orgulho nisso. Integrou-se e elevou o seu estatuto social e económico pelo futebol, sendo, hoje, respeitado por todos.
   Juntou-se aos seus amigos, sujeitou-se aos critérios de avaliação de competências desportivas, cumpriu as regras dos treinos, conquistou um lugar nas suas equipas em competição com os seus colegas, construiu uma carreira internacional de prestígio, ascendeu à Seleção Nacional  que representou com destaque e orgulho de todos, ciganos e não ciganos, portistas, benfiquistas, sportinguistas incluídos (eu também) sendo um exemplo para ciganos e não ciganos.
   Portanto o seu exemplo de luta e superação das dificuldades respeitando as regras comuns, integrado na sociedade, deveria servir de exemplo para aos próprios ciganos e ele mesmo constituir-se como agente dessa mudança junto da comunidade, incitando-a a respeitar os outros.
   Claro que não acredito que, esta, tenha sido uma ação espontânea de Quaresma. Creio que foi manipulado pelos opositores de Ventura, incomodados e receosos de o confrontar no local próprio nos termos adequados, incluindo António Costa, que não hesita em usar a estratégia do enxovalho pessoal, eximindo-se ao debate dos temas que o incomodam.
   No fundo desta polémica está o preconceito antidemocrático de certos partidos com assento parlamentar, incluído o do governo, que se recusam a debater qualquer assunto proposto por Ventura, manifestando um desprezo execrável, como se Ventura fosse um troglodita, que é extensível aos seus eleitores e simpatizantes. Preconceito que se pensava banido do xadrez político nacional depois do 25 de Novembro de 1975.
   Finalmente, está patente, mais uma vez, algo que ninguém tem coragem de abordar mas que existe desde os anos 80; a partidarização do futebol. Uma insensatez que, fatalmente, dará mau resultado.
Uma última nota para referir que nem todos os ciganos são problemáticos; há muitos amistosos e alguns integrados em funções notáveis, aos quais ninguém nega consideração pessoal.
Peniche, 10 de Maio de 2020 
António Barreto                                                          

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Os Democratas que Destruiram a Democracia


Os Democratas que Destruíram a Democracia

(João Maurício Brás)

   “O vitimismo é factualmente uma das principais estratégias da agenda do progresso e representa o triunfo dos novos inquisidores com os seus prosélitos e novos bruxos e bruxas. Eles são os descendentes mentais dos grandes inquisidores, dos jacobinos e dos arautos do terror da revolução francesa, da polícia de Lenine e Estaline, da Gestapo, etc. A esquerda pós-moderna, o democrata liberal moderado e progressista, todos os novos progressistas são os novos algozes ou os cúmplices pelo silêncio e branqueamento desse novo terror cada vez menos impercetível, cada vez mais perverso que impõe a nova ordem e nos submete ao inferno da sua salvação.”
 
 

Peniche, 6 de Maio de 2020

António Barreto 

sábado, 2 de maio de 2020

Os Democratas que Destruiram a Democracia (2)


Os Democratas que Destruíram a Democracia

(João Maurício Brás)

 

   “A humanidade depende da conservação e transmissão dos elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida. Os novos jacobinismos e estalinismos disfarçados que encontramos nas morais culturalistas e relativistas e seus primos do mercado livre sem regras, senão as do darwinismo social e económico, destroem a civilização e acirram o pior da natureza humana. Não nascemos ontem, há uma longa sabedoria e aprendizagem que não devemos descartar por uma qualquer tentação de mudar radicalmente o ser humano. O comunismo e o nazismo foram experiências desse quilate, como é hoje o neoliberalismo progressista. Não devemos ter medo de nos opormos a essas experiências contra a realidade, mesmo que nos chamem fascistas e nos queiram internar ou prender. Como refere a boa tradição conservadora, nós não podemos transformar a terra num paraíso, mas conseguimos, já o sabemos, criar na terra um inferno. Não há progresso sem o reconhecimento das nossas limitações e das barreiras que não devemos franquear.”
João Maurício Brás

Peniche, 1 de Maio de 2020
António Barreto