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Olhando Para Dentro (notas)

Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Acreditar em nada, é acreditar em tudo




Maternity (Tamara de Lempika)

“When men choose not to believe in God, they do not thereafter believe in nothing, they then become capable of believing in anything.”
  • G K Chesterton
http://realclimatescience.com/2016/12/twenty-five-years-of-almost-no-global-warming/

domingo, 18 de dezembro de 2016

Lélé da cuca


  
   O Presidente da República (PR) solidarizou-se com Luís Miguel Cintra (LMC) e a sua Cornucópia face ao anúncio de fecho desta conhecida e respeitada companhia de teatro, devido a financiamento público insuficiente. Aprendi a respeitar LMC pela persistência e excelência do seu desempenho como ator e encenador, com impacto além fronteiras. Compreendo e aceito o apoio público às artes, condicionado a critérios de interesse público  e de universalidade. Apesar da longevidade do percurso da Cornucópia, o seu raio de ação limitou-se ao restrito âmbito da Capital, refletindo, talvez, os velhos preconceitos das elites relativamente à população da "província". Por outro lado, suspeito que, LMC cumpria uma agenda política, disseminando, com subtileza, entre o seu público, uma certa realidade e interpretação da mesma.

   Posto isto, considero a atuação do PR, estapafúrdia, por invasão direta da área de competência do Governo, discriminatória face a outros casos idênticos, populista por garantir a adesão de grande público e das esquerdas, e hipócrita, por não lhe reconhecer genuína preocupação com as pessoas. De facto, não me constou que se tivesse deslocado ao hospital que recusou alimentos e medicação aos seus doentes durante dois dias "por falta de pessoal". Ter-me-ia convencido da bondade das suas causas se tivesse contribuído para a clarificação do caso e para a punição dos eventuais autores desta barbaridade cometida sobre gente inocente, quem sabe, vítimas das reivindicações sindicais.
Tudo isto deixa no ar a preocupação de perceber "que raio de PR temos?".

sábado, 17 de dezembro de 2016

Os beneficiários do progresso

  
Edvard Munch - Vampire, c. 1895.
   Segundo noticiou a Comunicação Social nos últimos dias, há setecentos e tal mil cidadãos que prescinde da água e saneamento públicos e outros tantos beneficiários da tarifa social de eletricidade! No primeiro caso, dá-se conta da ameaça de aplicação de multas por parte das câmaras municipais que, segundo o articulista, estão a perder muito dinheiro. No segundo elogia-se o ministro da tutela pelo alargamento do número de beneficiários que anteriormente eram apenas de oitenta e tal mil .

   O que aqui se revela é o absurdo de quase 10 % da população não ter acesso a serviços  públicos básicos e outro tanto estarem em risco de os perder. As soluções preconizadas são típicas dos Estados repressivos; a punição ou a esmolinha. Nem por um momento se equacionam os respetivos custos; os de exploração e os políticos. Em qualquer dos casos, cerca de metade do valor faturado, correspondendo a carga tributária, destina-se a financiamento dos desvarios do Estado. Esta realidade tarde ou cedo acabará por pôr em causa o próprio Estado e o seu real interesse para os cidadãos. A memória da Revolta da Patuleia, despoletada por séculos de acumulação tributária do reino, ainda não se desvaneceu totalmente. De facto, o crescente custo de financiamento daquele constitui fator de exclusão social, seja pelo agravamento dos custos dos serviços que presta ou concessiona, seja pelo agravamento fiscal da sociedade civil, cidadãos e empresas; aqueles, vendo reduzir o seu poder de compra, estas, assistindo à queda da sua competitividade e de mercado. Em vez do castigo e da esmolinha, deveria pôr-se a tónica na redução dos custos de funcionamento do Estado, na supressão dos encargos políticos dos serviços e na eficiência destes. Quer o abastecimento de água quer o da energia elétrica carecem de ganhos de eficiência, sempre adiados por dificuldades de financiamento ou direcionamento de lucros para outras "prioridades", como seja a remuneração dos acionistas ou a retribuição dos trabalhadores. As próprias câmaras municipais têm a "distinta lata" de cobrar ao distribuidor de energia elétrica uma taxa de ocupação de espaço aéreo, sabendo que é o "desgraçado" do munícipe" a pagá-la. E ameaçam fazer o mesmo aos bancos a propósito das máquinas de multibanco, por ocupação da via pública. Entretanto, depois de verem duplicada a receita de IMI, em cerca de dez anos, reivindicam aumentos brutais do preço da água e a "mochila financeira", perante a promessa de descentralização do atual Governo.

  Tal como em qualquer máquina, nenhum Estado dá mais do que tira, mas todos têm a tentação da mistificação. Afinal, contrariamente à espectativa dos inocentes, as democracias não livram os cidadãos da prepotência do Estado e da demagogia dos "democratas".

Demostração da descorrelação ente a concentração de CO2 e a temperatura da Terra, a partir de medições efetuadas nos últimos 38 anos via satélite.

Luis Carlos Molion
"It follows that this synthesis of empirical data conclusively reveals that CO2 has not caused temperature change over the past 38 years but that the rate of change in CO2 concentration may have been influenced to a statistically significant degree by the temperature level. Note that it is not possible for a rise in CO2 concentration to cause the temperature to increase and for the temperature level to control the rate of change of CO2 concentration as this would mean that there was a positive feedback loop causing both CO2 concentration and temperature to rise continuously and the oceans would have evaporated long ago." (Essay by Beven Dockery, plublished in Whatsupwitnthat) 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Nova versão do caso Angoche (Macua de Moçambique)



   

   Esta nova versão do caso Angoche não tem a menor credibilidade, mas, enfim, cada um que faça a sua avaliação.  A ter sido assim, os comunistas já tinham o capitalizado políticamnte e estão caladinhos que nem ratos.

""O 'caso Angoche' foi de facto um contra-golpe para fazer abortar um golpe por parte de gente da ala esquerda das forças armadas, da ARA/PCP muito possivelmente, e que podia ser até do conhecimento das figuras sempre apontadas como os 'suspeitos do costume' - Crespo, Coutinho, etc.

A única vítima desse sector de esquerda foi a 'suicidada' Olívia Mestre, a do 'miramortos' da Beira, infiltrada pela PIDE e afins, no seio do núcleo esquerdista. A sua morte foi apenas uma eliminação da agente delatora. A moça estava a ser controlada por um 'patriota' comandante de corveta, alternava em clubes nocturnos da Beira, mas pescada meses antes para essa missão, pela PIDE em Lisboa, onde era dactilógrafa no Ministério do Ultramar.""

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2016/12/opera%C3%A7%C3%A3o-angoche-uma-opera%C3%A7%C3%A3o-condor-%C3%A0-portuguesa-m%C3%A3os-sujas.html

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Falsas personagens

 
 
    
 
   "Eu e os Políticos", de José António Saraiva (Gradiva), longe de ser o livro de mexericos  que se temia, constitui uma preciosa ajuda, ainda que restrita, para a desconstrução de algumas personagens que "o sistema" tem "vendido" aos cidadãos. Esta camuflagem tem sido perpetrada ao longo de várias décadas com a cumplicidade da generalidade dos meios de comunicação social e contribuiu para a materialização de vários equívocos com reflexo na (in)sanidade democrática.
 
   Trata-se de confidências relativamente a alguns episódios que o autor viveu com personalidades diversas, algumas de grande proeminência política, e que, no termo da sua carreira no jornalismo, entendeu, a título de dívida de consciência, partilhar com o público.
 
   Entre outros, há episódios com Álvaro Cunhal, Cavaco Silva, António Costa, António Guterres, Ramalho Eanes, Freitas do Amaral, Duarte Lima, Pinto Balsemão, Medina Carreira, Jardim Gonçalves, Jorge Sampaio, Durão Barroso, José Sócrates, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Manuel Maria Carrilho, Marcelo Rebelo de Sousa, Margarida Marante, Mário Soares, Miguel Portas, Paulo Portas, Passos Coelho, Santana Lopes e Vitor Constâncio.
 
   Relativamente a José Sócrates, respigo: "Na época eu conhecia mal Sócrates. Se o conhecesse melhor, saberia que nele não há qualquer distinção entre a verdade e a mentira. Diz em cada momento, com o maior à-vontade, aquilo que lhe convém dizer."
   Isto é demolidor para o regime como um todo! Como é possível que tal personagem tenha passado pelo crivo do seu partido, do dos restantes partidos, do da comunicação social em geral, do da Assembleia da República, do da Presidência da República e do do Poder Judicial, acabando por conduzir o país à pré-insolvência, lançando o pânico na comunicação social, com suspeitas cada vez mais sólidas de envolvimento em atos ilícitos, cometidos no desempenho do alto cargo que ocupou? E como pode o cidadão comum confiar num regime que tal consente? Não é este um sinal de promiscuidade geral e de subordinação da Nação a interesses partidários e particulares?
 
   Do capítulo reservado a Álvaro Cunhal; "Depois de Cunhal voltar a Portugal, a seguir ao 25 de Abril, a minha tia Natália decide dizer-lhe isto. ...ela conta-lhe o que se passara (a pedido de Avelino Cunhal, pai de Álvaro Cunhal, de quem o seu marido tinha sido amigo, atirou-lhe um punhado de terra sobre o caixão em nome do filho ausente). Cunhal escuta-a em silêncio e no fim diz: "Foi a coisa mais bonita que ouvi nos últimos 10 anos". E rolam-lhe as lágrimas pela face... Uma faceta que Cunhal e os comunistas em geral procuram esconder, apresentando-se como se fossem destituídos de afeto, prontos para todos os sacrifícios pela causa marxista.
 
   De António Guterres, refere a sua "grande descoberta": que a maior parte dos problemas se resolvem por si sós.
 
   De Jorge Sampaio refere a sua estratégia de "manter a bola a bater" no tratamento dos assuntos mais complicados.
 
   De Mário Soares refere o seu testemunho quanto a algumas "brincadeiras" que vão acontecendo lá por Bruxelas e Estrasburgo, no âmbito das instituições da União Europeia, nas costas dos "patos" dos cidadãos.
 
   Vale a pena referir a visão de Jardim Gonçalves quanto necessidade de manutenção em mãos nacionais os centros de poder das grandes empresas, considerando que tal propicia um conhecimento mais detalhado e seguro da realidade local. Ora, eis, quanto a mim, uma patetice inesperada! Como tem vindo a ser comprovado nos últimos anos, essa é precisamente a causa da fragilidade do sistema bancário português. Essa promiscuidade que dispensa a racionalidade é provocada, precisamente, pelo conhecimento pessoal. Quem diria.
 
   Refere o formalismo de Cavaco Silva, a seriedade de Ramalho Eanes e de Passos Coelho, a leviandade de Santana Lopes e de Marcelo Rebelo de Sousa, a dimensão cultural de Miguel Portas, a homossexualidade de Paulo Portas, a imprudência de Fernanda Câncio, as dúvidas de Durão Barroso, a frieza de Duarte Lima, a competência, ambição e angústia de Ernâni Lopes, o deslizamento para a esquerda de Freitas do Amaral, o paradoxo de Hélder Bataglia, a estupefação pela inconsequência de Medina Carreira, a crispação de Vitor Constâncio e o domínio da ideologia socialista na comunicação social nacional.
 
   Enfim; uma escrita simples, eficaz, que nunca me pareceu guiada pelo doentio voyeurismo, duma obra em que o poder de influência dos grandes jornalistas sobre personalidades públicas e sobre a política nacional fica bem demonstrado, não fosse o jornalismo tido por muitos como o quarto poder, ou até o primeiro.        

Isto é bom!

 
 

O calor de dentro!



http://climatechangedispatch.com/natural-geological-heat-flow-causing-west-antarctic-glacial-ice-melting-not-global-warming/

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

CO2+>T=desenvolvimento florestal




gauguin_riders

"O aumento da concentração de CO2 na atmosfera associado ao aumento da temperatura da Terra, acelera a reprodução vegetal, permitindo a arborização das zonas áridas."

https://wattsupwiththat.com/2016/12/05/co2-good-or-bad/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Inovação tecnológica na climatização dos edifícios.



“It is a very windy day in Liechtenstein. We’ve come here to film this container. Looks like an ordinary container but it is not. And it is due to these windows. They have have been injected with special fluids. The outer face of the window is this way able to collect solar radiation and transform it into energyand the inner face is able to cool or heat the space inside the container,” he said.

//www.euronews.com/2016/11/28/fluid-glass-in-windows-developed-in-liechtenstein-which-could-provide-an-energy

domingo, 20 de novembro de 2016

O desencanto alastra!

 
 
Egon Schiele, Agonia, 1912

António Barreto (o sociólogo, meu homónimo) em Jacarandá:

"Criámos uma sociedade de direitos sem mérito, de garantias sem esforço e de privilégios sem valor. Dissemos a todos que podiam aspirar a tudo, à gratuitidade, à assistência, à estabilidade vitalícia, a toda a educação, cultura e ciência e criámos classes médias prontas para tudo, desde que o consumo seja ilimitado e o crédito infinito. Fomentámos a substituição da família pela escola. Demos à política o direito de tudo dominar, a economia, a cultura, a ciência e a moral."
http://o-jacaranda.blogspot.pt/2016/11/sem-emenda-o-mundo-que-criamos.html

sábado, 19 de novembro de 2016

Do Capitalismo (X)


 
Henri Matisse - Trois Odalisques, 1928-29.
 
O movimento das enclosores intensifica-se no século XVIII pela ação do Parlamento, em especial a partir de 1760, deixando desamparados os squaters e os pequenos camponeses, relegando-os à miséria e a reserva de mão de obra, decisiva para o desenvolvimento das atividades mineira e manufatureira. Com a propriedade da terra concentrada na aristocracia e grandes proprietários rurais e sob a liderança de Lord Twonshend inicia-se a modernização da agricultura - com secagem de pântanos, novos métodos de cultivo, adoção de charruas de ferro e rotação de culturas - e da criação de gado - cruzamento e seleção de raças. 

A escassez de madeira e os baixos custos do transporte, propiciam a expansão da produção de carvão de coque - hulha branca e negra - dos 2,5 milhões de toneladas até aos 10 milhões, em todo o século XVIII; dois terços da produção europeia. Hulha branca e negra sucedem à energia hídrica. Expande-se o salariado, exceto na Escócia, onde os operários, na mina ou na salina, têm o estatuto de servos, usando coleiras com o nome do proprietário gravado. 

Um turbilhão de sucessivas inovações tecnológicas percorreu todo o século XVIII, alterando os métodos de produção manufatureira. As máquinas de fiar e de tecer tornaram-se mais eficientes, desenvolvem-se novos métodos de tratamento de tecidos, como o branqueamento e a tinturaria, aperfeiçoou-se a fundição do ferro e do aço, criaram-se novas ferramentas e utensílios domésticos, fabricam-se carris de ferro potenciando a exploração das minas e permitindo o desenvolvimento do caminhos de ferro, a construção de pontes e barcos, inventou-se a máquina a vapor de simples efeito adotando-a para acionamento das bombas de esgoto nas minas, das máquinas de fiar e tecer e das carruagens usadas nos caminhos de ferro. Desenvolvem-se as indústrias da produção de papel, oficinas de serração e de trabalhos em madeira, altos fornos e fundições. Da produção dispersa em que o mercador-fabricante distribuía as matérias- primas aos camponeses artesãos e a fabricantes intermédios - que as redistribuíam à sua rede de artesãos -, passou-se à produção em fábrica, onde, ao contrário dos artesãos independentes, os operários - maioritariamente crianças a cargo das paróquias -, mas também mulheres, ex-camponeses desenraizados e indigentes - são agora operários sujeitos a uma disciplina rígida de produção. As revoltas sociais sucedem-se, primeiro dos artesãos, entre o desemprego e a perda de autonomia, depois dos operários sujeitos a violentas condições de trabalho.  

Na transição da produção para o capitalismo em Inglaterra, o Estado adota o mercantilismo - com medidas protecionistas, atribuindo privilégios e monopólios -, apoia politicamente e militarmente a expansão comercial e colonial, controlando os pobres, proibindo alianças operárias e reprimindo violentamente as suas revoltas - condenando à pena de morte os autores da destruição de máquinas ou edifícios.  

No centro das múltiplas e heterogéneas transformações que constituíram, a, posteriormente designada Revolução Industrial, define-se a nova burguesia, constituída por aristocratas, envolvidos no comércio, na agricultura ou na exploração mineira, grandes mercadores ou financeiros, adquirindo terras, mercadores construindo fábricas, fabricantes e negociantes, transformando-se em banqueiros, homens de leis, notáveis locais, rendeiros abastados, clérigos e académicos. Detentores exclusivos do direito de voto, os novos burgueses - quatrocentos e cinquenta mil - impõem os seus interesses ao Parlamento conduzindo a política britânica à defesa do seu comércio.
 
(Síntese livre de História do Capitalismo de Michele Beaud)

domingo, 13 de novembro de 2016

Mundialistas, Oportunistas e Traidores (a propósito do 25 de Abril)



Heróis ou farsantes?

   Do extraordinário Blogue "Macua de Moçambique"de que junto o link,  respiguei os textos em baixo.

Trata de explicar as verdadeiras causas de 25 de Abril, que terão sido gizadas no final da II Guerra Mundial entre Roosvelt e Estaline; em que aquele prometia entregar as colónias portuguesas, mediante uma compensação financeira a Portugal, como contrapartida da cessação da interferência da União Soviética na sociedade americana. Rotchild, Rockfeller e Oppenheimer, teriam gizado um plano de unificação da áfrica austral para garantia da exclusividade de exploração petrolifera da Gulf Oil, propriedade de Rockfeller. O texto dá ainda conta do envolvimento de; EUA, URSS, CUBA, RFA, CEE, PS (Ação Socialista), PCP, MPLA, FRELIMO, PAIGC, D. António Ferreira Gomes, Vaticano, Grupo Bilderberg, Vasco Gonçalves, Melo Antunues, Franco Charais, Costa Brás e outros. 

No que me diz respeito, deveria constituir-se um Tribunal especial para julgar todo este processo, avaliar e condenar os Traidores de Portugal e dos povos das ex-colónias que vivem na miséria, carentes dos mais básicos meios de salubridade, subsistência e segurança, contrastando com a opulência dos  "libertadores" e seus herdeiros, sem que tal provoque a indignação e a ira dos defensores da emancipação dos povos.

Não, não encomendemos ossanas pelo 25 de Abril; glória de traidores e conforto de ingénuos.


"Em 1941, Franklim Delano Roosevelt endereçou uma carta ao Kremlin (carta que o Le Figaro publicou em 7/2/51) onde, a dado passo, afirmava: «... quanto à África, será preciso dar à Espanha e a Portugal compensações pela renúncia dos seus territórios ultramarinos, para um melhor equilíbrio mundial.
Os Estados Unidos instalar‑se‑ão aí por direito de conquista e reclamarão inevitavelmente alguns pontos vitais para a zona de tutela americana. Será mais do que justo. Queira transmitir a Estaline, meu caro senhor Zabrusky, que, para o bem geral e para o aniquilamento de Reich, lhe cederemos as colónia africanas se ele refrear a sua propaganda na América e cessar a interferência nos meios liberais.»
Porquê Portugal e as suas províncias ultramarinas? Terá sido apenas mais um Yalta?"   

"A revolução do 25 de Abril não foi uma revolta de povo contra a ditadura nem contra uma guerra colonial perdida. Foi sim mais uma vitória da fria estratégia dos mundialis­tas, que teve o seu epílogo numa madrugada de Abril mas que começara muito antes, com a primavera da marcelice e a consequente assalto ao poder da incontável caterva de pu­lhas, bandidos e com alguns inocentes úteis à mistura."
Franco Vale

In Último Reduto, n.º 6, 1984, págs. 8/9

Aqui estão os links para o fantástico "Macua de Moçambique" e para o "NONAS", de onde foi extraído o texto original.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ai democracia!

  

   Das eleições americanas em curso colhe-se uma sensação de inapelável decadência em direção a um qualquer holocausto. Uma qualquer doença social leva os cidadãos a apoiar candidatos, manifestamente ineptos, ao cargo supremo do país! O mundo assiste estupefacto e amedrontado!

   A democracia, constituindo na sua essência, o melhor sistema de prevenção da guerra e de promoção do progresso económico e social, caracterizada pela tolerância, pela transparência, pela dispersão e independência dos vários poderes, pela liberdade de expressão, pelo confronto político e debate permanente e pelo sufrágio universal, em alguns casos, como nos EUA, parece ter-se transformado em algo diferente; uma espécie de caricatura em que os seus principais atores, os partidos políticos, adotam um comportamento tribal, derramando intolerância, ódio e demagogia sobre os cidadãos; em que estes optam pelo seguidismo "caudilhista", por preguiça, cansaço, ou ingenuidade, deixando cair o bem maior do regime democrático; o espírito crítico ativo.

   A figura grotesca de Trump propiciou aos adeptos adversários uma plêiade de insultos indecorosos denunciadores da falta de argumentação política e medo, resultante da consciência de fragilidades próprias. Por muito caricato que seja, um candidato que faz fortuna por si próprio e que tem o apoio de metade da população deve suscitar respeito; algo terá de que o povo carece e não reconhece nos outros.

   Isto apesar dos apoios de peso à causa democrata, o mais relevante dos quais o do próprio Presidente Obama! É desonesto! O Presidente deveria manter-se neutro deixando ao povo soberano a responsabilidade da escolha. Intervindo a favor de um candidato revela falta de confiança nos eleitores e  desconsideração pelas regras democráticas.

   Aconteça o que acontecer, Obama é o grande derrotado destas eleições; os apoiantes de Trump assim o confirmam. O estilo confiante de Obama, que a tudo prometia soluções, revelou-se efémero e vazio; o seu programa de saúde ameaça estiolar as contas públicas, o endividamento continua estratosférico, a economia tarda em "arrancar", o seu projeto geoestratégico para o médio oriente revela-se desastroso e o seu contributo na antecipação das metas do Protocolo de Quioto é deplorável.

   Com efeito, a guerra na Síria, tal como a da Líbia, desde o início que tem o dedo de Obama, apostado em afastar a ditadura de Bashar Al Assad, aliado histórico russo,  país este com o qual disputa a influência política na zona dada a sua relevância energética, arrastando a Europa numa aventura que a pode desintegrar. O que talvez seja do seu interesse. E do seu inimigo Putin. Obama, nada resolveu no médio Oriente; as anunciadas primaveras mais se revelaram tormentosos invernos.

   O prometido encerramento de Guantánamo continua adiado, o que não espanta num país que pratica a pena de morte e que, ao contrário de todos os outros, está dispensado de responder no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra. A suposta humanidade de Obama não lhe permitiu aperceber-se das barbaridades que se praticam no país a que preside e pôr-lhes termo.

   Em matéria climática, está prestes a conseguir antecipar as metas definidas no Protocolo de Quioto, tornando-se cúmplice do que constitui uma espécie de 3º Acto Colonial, em que, a troco de cem mil milhões de dólares anuais, os países pobres prometem abdicar do seu desenvolvimento, aceitando as diretivas e a tecnologia dos países mais avançados. Precisamente os mais ativos no combate ao "holocausto" ambiental. E os mais interessados.

   Um dos grandes sucessos do seu consulado; as inovações tecnológicas, que multiplicaram as reservas energéticas do país: o gás de xisto, o gás natural e o petróleo, devem-se, exclusivamente, aos operadores privados, que inverteram a posição dos EUA no mercado energético mundial, razão da baixa dos preços destas "comodities". Quanto ao Governo Federal,  incrementou a aposta nas energia verdes, nomeadamente na eólica, ignorando os nefastos efeitos que provoca no mundo animal, no ambiente e no bolso dos contribuintes.

   Trump representa os americanos que se sentem ameaçados pelo galopante aumento de imigração não integrável e hostil, transformador da tradição cultural do país, cansados de intermináveis guerras e receosos da sua segurança.

   Hillary Clinton,  representa a imutabilidade do "sistema", a dissimulação, o nepotismo e o recorrente contorcionismo político.

   Por cá, só fugazmente, a comunicação social, se debruçou sobre o conteúdo dos dois projetos! Na maior parte dos casos, limitaram-se a relatar as excentricidades e as picardias de mau gosto.

   Tudo se decidirá hoje. Finalmente!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

De trapalhada em trapalhada!

      

   As peripécias que se têm verificado em torno da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, revelam, mais uma vez, o estado de insanidade a que a governação do país chegou! A CGD é um instrumento fundamental de estabilização e funcionamento do mercado financeiro e da economia interna, atualmente fragilizada, devido aos sucessivos "disparates" cometidos ao longo dos anos mais recentes. Aprovada a recapitalização, num processo controverso e demorado, a nova administração deveria ter entrado em funções de imediato, com uma estratégia bem definida de reestruturação interna e de desenvolvimento do negócio. Não está! 

   O lamentável episódio do momento, a declaração de rendimentos, que até já mereceu a intervenção do Presidente da República - valha-nos Deus -, foi precedido por uma saraivada de tiros nos pés do Governo; ele foi o aumento do número de administradores; ele foi o desbloqueamento do teto salarial dos respetivos cargos; ele foi o "puxão de orelhas" do BCE, que exigiu formação técnica a alguns deles; ele foram os obstáculos ao escrutínio da entidade, ele foram as dúvidas em torno das necessidades de financiamento; e agora o indecoroso braço de ferro entre o indigitado Presidente do Conselho de Administração e o Estado de Direito! Mil "boas" razões que possam existir para todo este alvoroço, o cidadão comum, atribui-o à incompetência e, ou, a manobras obscuras de manipulação; seja associadas à possibilidade de desorçamentação de despesa pública, seja para fins obscuros e venais.  Toda a sucessão de desgraças que se tem abatido sobre os contribuintes resultantes da falência do Estado e do o sistema bancário, o justificam.

   Compreende-se e louva-se que se procurem os profissionais com provas dadas no ramo; percebe-se que o BPI, pelo seu desempenho nos últimos anos, seja uma excelente escola de administração; e também se entende que tenha sido necessário oferecer condições ao nível do setor privado ao  profissional em causa. Mas não se aceita que o Primeiro-Ministro tenha subrestimado a sua capacidade, e do seu Governo, de alterar as leis aplicáveis substimando o papel dos outros órgãos de soberania e da opinião pública. E isso revela um fraco entendimento da natureza da Democracia, dispensável, quarenta e tal anos depois do afastamento do Antigo Regime, que alimenta a desconfiança dos cidadãos e dos agentes económicos.

   Noutro contexto, parece estarmos perante mais um caso de "homem providencial", tão característico da cultura portuguesa, quais Marquês de Pombal, Salazar, Cavaco Silva ou José Sócrates. Creio mesmo que, António Costa, se julga, ele próprio, "o homem providencial" e essa é mais uma reminiscência cultural que parecemos incapazes de erradicar dos nossos hábitos. Na verdade, grande parte dos cidadãos, continua a desejar essa figura "sebastiânica", essa espécie de "super homem"  capaz de entender as necessidades de cada um e de as satisfazer. Talvez seja este o maior drama da frágil democracia portuguesa.

sábado, 29 de outubro de 2016

Os Animais

 
 
 
   Esta súbito desvelo pelos os animais tem algo de preocupante; por um lado a aparente evidencia da banalização dos maus tratos, por outro a tendência de equiparação destes aos seres humanos é uma parvoíce que vai custar caro. Não se percebe  como vai controlar-se a proliferação de cães e gatos por esse país fora, havendo já alguns relatos de situações perigosas relacionadas com matilhas em algumas cidades. Noutro âmbito, há que aguardar se esta não é mais uma porta de entrada dos falsos progressistas na esfera política. Veremos.
 
   Tem graça que, segundo constou, uma das primeiras preocupações dos novos políticos foi expressarem a sua discordância pela utilização da Águia Vitória do Benfica nos espetáculos de futebol no Estádio da Luz!
 
   Compreendo; a águia deveria andar lá pelas florestas a caçar coelhos, ratos e outras iguarias e a procriar livremente. Nada contra. Mas então e os animais do Jardim Zoológico de Lisboa? Haverá algo mais deprimente e bárbaro para os animais? Se tivesse poder para tal, mandava encerrar todos os Jardins Zoológicos do planeta. Ao menos o de Lisboa. O que é aquilo? Para que serve? É demência civilizacional sem qualquer razão de ser nos dias de hoje. E o Pan está calado porquê? Estes animais não têm direitos?
 
   É este silencio que nos faz duvidar dos verdadeiros propósitos deste partido.
 
   A ver vamos!

sábado, 22 de outubro de 2016

Do Capitalismo (IX)


No início do século XVIII alvoreceu a Revolução Industrial com seu cortejo de implicações económicas e sociais muito semelhantes às que se verificam hoje, refletidas num texto anónimo de 1701 de nome Considerations upon the East Indian Trade: com efeito fará desaparecer naquelas indústrias, as que são menos úteis e menos lucrativas. As pessoas que aí estiverem empregadas procurarão outras ocupações, mais simples e mais fáceis de encontrar: ou então ocupar-se-ão de tarefas parcelares e especiais nas indústrias mais complexas. ...Assim, o comércio com as Índias terá o seguinte resultado: distribuir-se-ão as diferentes operações que constituem os trabalhos mais difíceis por vários operários qualificados, em vez de confiar excessivamente na habilidade de um só. …Enfim, o comércio com as Índias Orientais, trazendo-nos artigos fabricados por um preço mais baixo que os nossos, terá muito provavelmente como efeito obrigar-nos a inventar processos e máquinas que nos permitam produzir com menos mão de obra e menor custo, e através disso, baixar os preços dos produtos manufaturados. 

A Revolução Industrial, considerada por muitos como a transformação mais fundamental da vida humana na História do mundo, surgiu e desenvolveu-se no quadro da expansão comercial decorrente da colonização encetada pelos portugueses em 1419 com a tomada de Ceuta, confundindo-se por breve período com a História da Grã-Bretanha, na sequência da Revolução Gloriosa, de 1688 - que impôs o fim da Monarquia absolutista - Jaime II -, e implantou a Monarquia Parlamentar Constitucional - Guilherme III - proporcionando a ascensão da burguesia responsável pela criação das condições para a sua eclosão: …a única oficina do mundo, o seu único importador e exportador em grande escala, o seu único transportador, o seu único imperialista, praticamente o seu único investidor estrangeiro; por essa razão a única potência naval e o único país que se pode dizer que possuía uma verdadeira política mundial (E.J.Hobsbawm, Industry and Empire 1968/69). 

Combatem-se os monopólios, aumenta a concorrência, introduzem-se na sociedade inglesa; o chá das Índias, as porcelanas da China popularizadas pela rainha Maria da Holanda, os tecidos de algodão - indianos, persas, de Calicut - e os mais variados produtos característicos da riqueza da Inglaterra à época. 

Na sequência de um empréstimo de 1,5 milhões de libras esterlinas, à Coroa Inglesa, ao juro de 8% ao ano, para financiamento da guerra com a Flandres, um grupo de financeiros é autorizado a criar, em 1698, o Banco de Inglaterra, especializado nos pagamentos entre Estados e companhias de comércio em todo o mundo, na tradição dos financeiros de Londres, tendo-lhe sido concessionado o monopólio da emissão de notas de Inglaterra e do País de Gales.  

O desenvolvimento interno é financiado por bancos provinciais fundados, muitos deles, por manufatureiros - entre os quais os Lloyds e os Barclays - havendo na praça de Londres, 24 em 1725, 42 em 1770, 52 em 1776. Os bancos do interior são de 12 em 1755, 150 em 1776 e 400 em 1793. 

Num século, o valor das trocas comerciais aumenta por 5,5 vezes, quadruplicando o rendimento nacional. Primeiro comércio mundial, a Inglaterra exporta produtos fabricados, hulha - em detrimento do milho -, vende-se transportes marítimos e serviço de entreposto aos operadores comerciais entre as Américas, as Índias, o mediterrânio e o Báltico. No Comércio Triangular - Europa, África e América -, floresce o negócio dos escravos, do açúcar, das armas e do algodão, destacando-se, respetivamente, as cidades de Bristol, Liverpool, Birmingham e Manchester. Graças ao Union Act, publicado em 1707, a Escócia prospera ao participar no comércio colonial, que lhe era anteriormente inacessível. 

Todo este fervilhar económico suscita inovações de monta, em particular nos transportes, desenvolvendo-se a rede viária num modelo de financiamento agora designado por PPP - em que particulares abastados, recorrendo a capitais próprios ou emprestados, financiavam as obras a troco de cobrança futura das correspondentes portagens - em vez do recurso à corveia - trabalho gratuito dos servos ou camponeses - praticada em França e outros países do continente europeu. No transporte rodoviário passa a usar-se o cavalo em detrimento do Burro e os caixeiros viajantes fazem concorrência às feiras, vendendo por amostra. A grande inovação acontece no desenvolvimento maciço do transporte fluvial tornando navegáveis rios e ribeiros e construindo canais entre os centros de produção e de consumo ou expedição, proporcionando, por exemplo, a redução do custo da hulha a metade.  A espiral da procura impelia a expansão da produção agrícola, mineira e transformadora.

(Síntese livre da "História do Capitalismo, de Michel Beaud)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Velhas metáforas

   

Trabalhadores 

   Era noite de inverno, Zézito, de onze anos, fora incumbido pelos seus pais, ausentes nos suas azáfamas da subsistência, de tomar conta do seu irmão, Miguelito, sete anos mais novo. Era uma casa meio solitária onde o zumbido do vento ao vergar as árvores dos pinhais próximos, metia respeito. Zé lembrou-se de uma brincadeira; foi à sala do lado, cobriu-se com um lençol dos pés à cabeça e foi ao encontro do irmão lançando exclamações anunciadoras dum pretenso "papão". Miguelito assustou-se desatando a chorar. Zezito, estarrecido, comoveu-se, tirou o lençol, e mais comovido ficou ao constatar a alegria do mano ao vê-lo. Não havia papão! Zezito gostou que o mano visse nele um amigo e protetor capaz de afastar os "papões". Repetiu a façanha uma ou duas vezes até sentir-se desconfortável  ao perceber a desonestidade que consistia em assustar Miguelito para "ganhar" a sua amizade.
 
  
Trabalhadores
 
   Veio-me isto à ideia a propósito das recentes polémicas sobre matéria tributária que puseram o país em alvoroço, com o Primeiro Ministro em visita oficial ao Brasil. Depois do prolongado pavor a que foram submetidos pelo "destrambelhamento" fiscal anunciado pelos apoiantes institucionais do atual Governo, os cidadãos alvo tranquilizaram-se, agradecidos, perante as referências apaziguadoras do Primeiro Ministro no seu regresso, vendo nele o providencial protetor contra a insaciável voracidade dos tributaristas. Fica assim mais uma vez demonstrada a "indispensável" função de "charneira" política que tem sido atribuída ao atual partido do Governo como o único capaz de controlar os excessos da esquerda radical. O Primeiro Ministro conta assim contabilizar mais uns milhares de eleitores agradecidos e empenhados na sua reeleição, graças à sua "moderação".

Homens do Mar


"Na sequência da biografia marítima de João Fernandes Mano (Agualusa), só poderia ocupar-me, de seguida, da de João Maria da Madalena, respectivamente, Capitão e piloto do lugre Gamo que, em 1918, foi torpedeado por um submarino alemão camuflado, a 31 de Agosto, navegando o lugre na latitude 46º 02’ N e longitude 32º 32’ W, na rota dos Açores, tendo sobrevivido a uma aventura extenuante. Salvaram-se 34 dos 39 náufragos que tripulavam o bacalhoeiro Gamo, tendo aportado ao Faial em 8 pequenos dóris, quase sempre sem comer nem beber, 470 milhas à vela, a remo e a correr com as vagas." (Ana Maria Lopes em Marintimidades)
"Por volta das 5 horas, rebentou dentro do navio um grande golpe de mar que inteiramente varreu o convés, formando a água castelo que ia até meia altura do mastro e que levou toda a borda falsa dos dois lados e 33 dories, arrancando as poucas velas que estavam içadas, partiu com fragor os «alvois» das escotilhas, a roda do leme e levou tudo quanto se encontrava solto no convés." (respigado por Ana Maria Lopes, do diário de bordo do Santa Regina, em Marintimidades)
 

https://youtu.be/0ge5M92dtqI

O Homem e o Mar

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente 
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado, 
Como em puro cristal, contemplas, retratado, 
Teu íntimo sentir, teu coração ardente. 

Gostas de te banhar na tua própria imagem. 
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos 
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos, 
As queixas que ele diz em mística linguagem. 

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos; 
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos, 
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos; 
Os segredos guardais, avaros, receosos! 

E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis, 
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem, 
De tal modo gostais n'uma luta selvagem, 
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis! 

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal" 
Tradução de Delfim Guimarães 
Obtido em Wikisource 


domingo, 9 de outubro de 2016

Incoerência


  
 As justificações do Governo e seus apoiantes para o agravamento exacerbado do património e do controlo das contas bancárias com saldos superiores a cinquenta mil euros, revelam-se destituídas de autenticidade quando nos apercebemos de outras realidades em marcha desde os últimos dez anos. 
   A sobretributação do património visa corresponder à doutrina dos teóricos inspiradores do socialismo, como Rousseau, reduzindo as desigualdades socioeconómicas pela redistribuição. Trata-se duma forma de controlo de concentração de riqueza atenuando ou eliminando o "ciclo virtuoso"  que estabelece uma relação exponencial entre as mais-valias e o respetivo capital. Na verdade, nas suas "contradições do capital" Marx concluiu o contrário, isto é; que as mais-valias regridem com o aumento do capital. À parte estas minúcias, o que releva é que, nos últimos dez anos, foram postas em marcha pelos sucessivos Governos uma série de medidas "subterrâneas" que têm o efeito contrário ao que agora se alega. A "revolução tecnológica  anunciada  por José Sócrates como estratégica para o seu Governo e, atualmente, a " nova revolução industrial" referida por António Costa, têm o objetivo de promover a concentração económica e o afastamento dos trabalhadores mais velhos e os menos qualificados. Repare-se; não se visa criar condições para os ganhos de competitividade e de produtividade das empresas e dos trabalhadores no ativo, deixando ao mercado a função de seleção dos mais eficazes. Trata-se de, por via administrativa, escolher os mais "convenientes" na perspectiva da Administração Pública, fazendo tábua rasa do dever de promoção da igualdade de oportunidades. Os baixos níveis etários e a qualificação da população ativa, por um lado, e a maior intensidade de capital das empresas, por outro, potenciam, de facto, o crescimento económico e os níveis salariais, mas tal não deve ser alcançado ao atropelo da cultura humanista ocidental consagrada na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O sentimento de indignação aumenta pela constatação da hipocrisia dos argumentos; o do ambiente, o do aquecimento global, o da qualificação, o da segurança, o da eficiência energética, e tudo o mais que se queira imaginar. Se por um lado foi reduzido o IRC de 32 % - ao tempo do Governo de Durão Barroso em 2004 a 2006, salvo o erro -, para 17 % e 21 % - no Governo de Passos Coelho de 2011 a 2014 -, por outro, multiplicaram-se as entidades parasitárias dos Técnicos e das empresas, cada uma cobrando suas taxas regulares, pela multiplicidade de serviços anacrónicos impostos, agravando os custos operacionais e reduzindo a competitividade e a produtividade, agravadas pelo aumento do desemprego inerente. É certo que a produtividade - e os salários - nas grandes empresas, duplica relativamente à das pequenas, mas então como se concilia isto com o manifesto empenho do atual Governo e seus apoiantes contra a acumulação? Para além de todas as contradições apontadas há um lado cínico no processo; o afastamento obtém-se submetendo empresas e Técnicos, a sucessivas vagas de exigências progressivas autofinanciadas. A suprema ironia consiste na promoção empenhada deste objetivo, durante décadas, por entidades políticas autodesignadas  progressistas e defensoras dos direitos dos trabalhadores.
A vertente do controlo dos saldos bancários visa, alegadamente, combater a evasão fiscal, detetando variações injustificadas nos mesmos. Compreende-se e percebe-se a dificuldade em fazer pagar impostos a alguns setores; nomeadamente os que estão no fim da cadeia económica. Mas tal releva da ineficácia e preguiça da Administração Fiscal que se revela destituída de reserva quanto aos direitos legais e morais dos cidadãos. Por outro lado, que credibilidade merece, ao cidadão, esta intenção do atual Governo quando, com os seus apoiantes, revelou falta de vontade política na aprovação duma Lei do Enriquecimento ilícito? Nenhuma! É que, esta Lei, visa os detentores de cargos políticos e não a sociedade civil! Ora, o atual Governo, com o controlo das contas bancárias, inverteu o objetivo focando-o na sociedade civil! Tal denuncia real falta de vontade no combate à corrupção cuja principal origem foi há muito identificada na Administração Pública por várias entidades.
O que daqui podemos concluir é a falta de coerência política da maioria que suporta o atual Governo, degradando a confiança dos cidadãos nas instituições, enfraquecendo a democracia e provocando fraturas sociais e políticas cada vez mais profundas e irreversíveis, de consequências imprevisíveis.
Liberdade não é isto! Isto é coerção duma parte de sociedade para financiamento do bem estar de outra parte.Afinal, é o que caracteriza as ditaduras.
  

Os perigos do ódio e da ignorância

  
   Turgot, Inspetor Geral das Finanças de Luis XV, um fisiocrata esclarecido que conheceu Voltaire e Adam Smith, que escreveu alguns textos para a "Enciclopédia" e  que publicou , em 1766, as "Reflexions sour la Formation et la Distribuition des Richesses, apesar de considerar, como Quesnay, que era a terra, a primeira e única fonte de toda a riqueza e que o país mais rico era aquele onde havia mais trabalho, interrogava-se, relativamente ao ofício da curtição de peles:

"Quem quer que tenha visto a oficina dum curtidor de peles sente a impossibilidade absoluta de um homem, ou mesmo de vários homens pobres se abastecerem de couros, de cal, de casca de carvalho, de ferramentas, etc., construírem os edifícios necessários para instalar uma oficina de curtumes e viverem vários meses até que os couros sejam vendidos.... Quem mandará construir os canais, os mercados, os edifícios de toda a espécie? Quem permitirá que viva até à venda dos couros o grande número de operários de que nenhum poderia sozinho preparar um único couro, e de que o lucro da venda de um único couro não poderia permitir a subsistência de um único operário?

   Quem suportará as despesas com a instrução dos alunos e dos aprendizes? Quem conseguirá obter com que subsistir até que sejam instruídos, fazendo-os passar por graus dum trabalho fácil e proporcionado à sua idade, até aos trabalhos que exigem mais força e habilidade? Será um desses possuidores de capitais ou valores mobiliários acumulados que os empregará, parte com os adiantamentos da construção e da compra de materiais, parte com os salários diários dos operários que trabalham na sua preparação. E ele que esperará até que a venda dos couros lhe renda não só todos os adiantamentos efetuados mas ainda um lucro suficiente para os indemnizar do que lhe teria valido o seu dinheiro, se o tivesse aplicado na compra de terras, e, além disso, do salário devido pelo seu trabalho, pelos seus cuidados, pelos seus riscos, mesmo pela sua habilidade, visto que, para um lucro igual, teria sem dúvida preferido viver sem nenhuma preocupação, do rendimento duma terra  que teria podido adquirir com o mesmo capital. À medida que este capital vai sendo recuperado pela venda dos produtos acabados, aplica-o em novas compras para alimentar e sustentar a sua fábrica através desta permanente circulação: vive à custa dos lucros e põe de parte o que pode poupar para aumentar o seu capital e aplica-lo na empresa aumentando a massa dos seus rendimentos, afim de aumentar ainda mais o seu lucro."

O confisco do capital acumulado compromete o progresso económico gerando exclusão e pobreza. A função do Estado deverá concentrar-se no incentivo ao reinvestimento produtivo sucessivo desses capitais e no restabelecimento dos equilíbrios sociais, apoiando e reintegrando os excluídos do processo económico.

A ignorância e o ódio podem destruir uma democracia.