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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

De trapalhada em trapalhada!

      

   As peripécias que se têm verificado em torno da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, revelam, mais uma vez, o estado de insanidade a que a governação do país chegou! A CGD é um instrumento fundamental de estabilização e funcionamento do mercado financeiro e da economia interna, atualmente fragilizada, devido aos sucessivos "disparates" cometidos ao longo dos anos mais recentes. Aprovada a recapitalização, num processo controverso e demorado, a nova administração deveria ter entrado em funções de imediato, com uma estratégia bem definida de reestruturação interna e de desenvolvimento do negócio. Não está! 

   O lamentável episódio do momento, a declaração de rendimentos, que até já mereceu a intervenção do Presidente da República - valha-nos Deus -, foi precedido por uma saraivada de tiros nos pés do Governo; ele foi o aumento do número de administradores; ele foi o desbloqueamento do teto salarial dos respetivos cargos; ele foi o "puxão de orelhas" do BCE, que exigiu formação técnica a alguns deles; ele foram os obstáculos ao escrutínio da entidade, ele foram as dúvidas em torno das necessidades de financiamento; e agora o indecoroso braço de ferro entre o indigitado Presidente do Conselho de Administração e o Estado de Direito! Mil "boas" razões que possam existir para todo este alvoroço, o cidadão comum, atribui-o à incompetência e, ou, a manobras obscuras de manipulação; seja associadas à possibilidade de desorçamentação de despesa pública, seja para fins obscuros e venais.  Toda a sucessão de desgraças que se tem abatido sobre os contribuintes resultantes da falência do Estado e do o sistema bancário, o justificam.

   Compreende-se e louva-se que se procurem os profissionais com provas dadas no ramo; percebe-se que o BPI, pelo seu desempenho nos últimos anos, seja uma excelente escola de administração; e também se entende que tenha sido necessário oferecer condições ao nível do setor privado ao  profissional em causa. Mas não se aceita que o Primeiro-Ministro tenha subrestimado a sua capacidade, e do seu Governo, de alterar as leis aplicáveis substimando o papel dos outros órgãos de soberania e da opinião pública. E isso revela um fraco entendimento da natureza da Democracia, dispensável, quarenta e tal anos depois do afastamento do Antigo Regime, que alimenta a desconfiança dos cidadãos e dos agentes económicos.

   Noutro contexto, parece estarmos perante mais um caso de "homem providencial", tão característico da cultura portuguesa, quais Marquês de Pombal, Salazar, Cavaco Silva ou José Sócrates. Creio mesmo que, António Costa, se julga, ele próprio, "o homem providencial" e essa é mais uma reminiscência cultural que parecemos incapazes de erradicar dos nossos hábitos. Na verdade, grande parte dos cidadãos, continua a desejar essa figura "sebastiânica", essa espécie de "super homem"  capaz de entender as necessidades de cada um e de as satisfazer. Talvez seja este o maior drama da frágil democracia portuguesa.

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