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sábado, 19 de novembro de 2016

Do Capitalismo (X)


 
Henri Matisse - Trois Odalisques, 1928-29.
 
O movimento das enclosores intensifica-se no século XVIII pela ação do Parlamento, em especial a partir de 1760, deixando desamparados os squaters e os pequenos camponeses, relegando-os à miséria e a reserva de mão de obra, decisiva para o desenvolvimento das atividades mineira e manufatureira. Com a propriedade da terra concentrada na aristocracia e grandes proprietários rurais e sob a liderança de Lord Twonshend inicia-se a modernização da agricultura - com secagem de pântanos, novos métodos de cultivo, adoção de charruas de ferro e rotação de culturas - e da criação de gado - cruzamento e seleção de raças. 

A escassez de madeira e os baixos custos do transporte, propiciam a expansão da produção de carvão de coque - hulha branca e negra - dos 2,5 milhões de toneladas até aos 10 milhões, em todo o século XVIII; dois terços da produção europeia. Hulha branca e negra sucedem à energia hídrica. Expande-se o salariado, exceto na Escócia, onde os operários, na mina ou na salina, têm o estatuto de servos, usando coleiras com o nome do proprietário gravado. 

Um turbilhão de sucessivas inovações tecnológicas percorreu todo o século XVIII, alterando os métodos de produção manufatureira. As máquinas de fiar e de tecer tornaram-se mais eficientes, desenvolvem-se novos métodos de tratamento de tecidos, como o branqueamento e a tinturaria, aperfeiçoou-se a fundição do ferro e do aço, criaram-se novas ferramentas e utensílios domésticos, fabricam-se carris de ferro potenciando a exploração das minas e permitindo o desenvolvimento do caminhos de ferro, a construção de pontes e barcos, inventou-se a máquina a vapor de simples efeito adotando-a para acionamento das bombas de esgoto nas minas, das máquinas de fiar e tecer e das carruagens usadas nos caminhos de ferro. Desenvolvem-se as indústrias da produção de papel, oficinas de serração e de trabalhos em madeira, altos fornos e fundições. Da produção dispersa em que o mercador-fabricante distribuía as matérias- primas aos camponeses artesãos e a fabricantes intermédios - que as redistribuíam à sua rede de artesãos -, passou-se à produção em fábrica, onde, ao contrário dos artesãos independentes, os operários - maioritariamente crianças a cargo das paróquias -, mas também mulheres, ex-camponeses desenraizados e indigentes - são agora operários sujeitos a uma disciplina rígida de produção. As revoltas sociais sucedem-se, primeiro dos artesãos, entre o desemprego e a perda de autonomia, depois dos operários sujeitos a violentas condições de trabalho.  

Na transição da produção para o capitalismo em Inglaterra, o Estado adota o mercantilismo - com medidas protecionistas, atribuindo privilégios e monopólios -, apoia politicamente e militarmente a expansão comercial e colonial, controlando os pobres, proibindo alianças operárias e reprimindo violentamente as suas revoltas - condenando à pena de morte os autores da destruição de máquinas ou edifícios.  

No centro das múltiplas e heterogéneas transformações que constituíram, a, posteriormente designada Revolução Industrial, define-se a nova burguesia, constituída por aristocratas, envolvidos no comércio, na agricultura ou na exploração mineira, grandes mercadores ou financeiros, adquirindo terras, mercadores construindo fábricas, fabricantes e negociantes, transformando-se em banqueiros, homens de leis, notáveis locais, rendeiros abastados, clérigos e académicos. Detentores exclusivos do direito de voto, os novos burgueses - quatrocentos e cinquenta mil - impõem os seus interesses ao Parlamento conduzindo a política britânica à defesa do seu comércio.
 
(Síntese livre de História do Capitalismo de Michele Beaud)

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