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Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

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sábado, 25 de junho de 2022

Um Pouco de História (5)

 

Um Pouco de História (5)

  

      O quarto período vai de meados do século VI ao primeiro quartel do seguinte da era romana (554-625; 299 a.C-128 a.C.). É a época de maior esplendor da República em que, vencida Cartago (em 553; 200 a. C, dissolução final em 680; 73 a. C), Roma submete toda a Espanha e todo o Oriente helénico.

   Esta expansão territorial não foi consequência de uma planificação política preconcebida, como sucedeu com Alexandre e com D. João II. A tradição da República, Catão e a maioria dos romanos eram contrários à ideia imperialista defendida pelo grande Cipião.

   De um lado a espectativa de prosperidade com a expansão territorial, como nas campanhas da Ásia, do outro as complicações diárias com a posição da Itália no Mediterrâneo. A ausência da ideia de equilíbrio internacional e a tradição de impérios universais, conduziram Roma a transformar em províncias dependentes da metrópole, todos os antigos Estados mediterrânicos. Algo semelhante às modernas colónias europeias, afinal, uma imitação do anterior império cartaginês, que se estendia por todo o norte de África até ao Egipto, a Sicília, a Sardenha e a Espanha.

   Tal como as colónias europeias do século XVI influenciaram as respetivas metrópoles, em especial as da Península Ibérica, também as províncias romanas modificaram os costumes de Roma, pervertendo-os; a escravidão, fenómeno normal na vida familiar primitiva, transformou-se numa exploração desalmada; a grande a especulação comercial, com a expansão súbita da riqueza, provocou uma séria de transformações sociais caracterizadas pelo atrofiamento da classe média, pela destruição das pequenas granjas, pelo aparecimento da burguesia capitalista e pelo aumento dos privilégios da antiga ordem equestre.

   Uma nova fidalguia substituiu a antiga, institucionalizando-se. A nobilitas dos cavaleiros, organizada em parcerias comerciais e bancárias, constituiu-se numa plutocracia dos tempos modernos, sustentando a sua influência governativa na arrematação dos impostos Provinciais e nos fornecimentos do Estado. Autênticos Estados perante o Estado tinham a seu cargo todos os serviços públicos como os bancários, a rede viária, o abastecimento de águas, etc. Ao Estado restava a agitação política, sempre estéril quando se separa da ação económica.

   A entropia social e económica característica deste período, resultante da expansão territorial e consequente prosperidade, foi a causa das revoluções sociais que se seguiram, tal como ocorreu na Europa nos séculos XVII, XVIII e XIX, pelas mesmas razões.

                                 Corunha (Galícia) – O farol romano mais antigo do mundo


Créditos a:

História da República Romana

Oliveira Martins

Peniche, 25.06.2022

António Barreto

sábado, 18 de junho de 2022

Um Pouco de História (4)

 

Um Pouco de História (IV)

 

     "É este o terceiro período, que vai desde o fim do V século até o meado do VI - 490-553 (263-200 a.C.).É durante este período que as guerras púnicas lançam a república numa vida nova. Aníbal acorda os sentimentos particularistas dos italianos, e as sedições internas, combinadamente com os resultados das vitórias sobre os inimigos externos, trazem consigo a paralisia do movimento de assimilação nacional.

    …

Era fatal que Roma se chocasse com Cartago e a vencesse; mas essa oportunidade excelente importava, importou, gravíssimas consequências. A assimilação dos povos italianos na nação latina ou romana, assimilação que procedia gradualmente como todas as coisas naturais orgânicas, paralisando, desorientou a política romana cuja originalidade, e cuja força portanto, estavam na ideia nacional. Ofuscada esta, a república teve de imitar o tipo cartaginês, o próprio tipo dos vencidos, petrificando numa oligarquia que desorganiza a ordem social interna e domina tirânica ou imperialmente sobre províncias sem outro nexo com a Itália metropolitana além o da dependência e do imposto. Nos impérios antigos governava um homem; em Cartago imperador era uma cidade; em Roma foi uma nação embrionária, entregue também às mãos de uma oligarquia aristocrática.

   Um tal facto impediu que a nação, fundada já como ideia e como sentimento, viesse a encontrar a consagração necessária de instituições adequadas; e daí se seguiu a ruína inevitável da república, a sua dissolução num Império, e o abortamento do plano tão extraordinariamente iniciado; porque só nos tempos modernos as nações puderam achar instituições representativas mais ou menos adequadas no congresso dos procuradores das cidades, as cortes medievais.

   Todavia ainda neste acidente a história romana, desencaminhada do seu desenvolvimento próprio pelas condições do local em que se deu, é um paradigma das histórias de muitos povos; e entre esses, do povo hispano-português, cuja evolução foi também sufocada pelo imperialismo que, achando no ouro ultramarino um apoio, reagiu no nosso XVI século contra o movimento normal orgânico dos concelhos, fazendo abortar o fomento da vida local democrática. Os conflitos entre as duas evoluções, a interna ou orgânica e a externa ou expansiva, são de todos os tempos. A conquista do mundo mediterrâneo pelos romanos é como a descoberta das Índias e das Américas: as consequências e os resultados imediatos sobre o organismo nacional são idênticos. Ao mesmo tempo que se paralisa a evolução nacional, perverte-se a economia social; o poder petrificado torna-se pessoal - oligarquia em Roma, absolutismo monárquico nos tempos modernos; a ponderação da riqueza na mediania da vida agrícola desaparece perante o grande comércio; forma-se um Capitalismo mais gravemente opressor do que o poder político, e com o Capitalismo aparece sistematizada a exploração da maioria dos homens - escravos na Antiguidade e na Renascença, proletários hoje em dia.

   O velho que n’Os Lusíadas condena a viagem de Vasco da Gama no ato da partida das naus, parece uma evocação de Catão, o Censor, condenando pela boca da Roma antiga o desvairamento da nova república imperial cipiónica."

História da República Romana

Oliveira Martins

                                             Aníbal cruzando os Alpes, detalhe de um afresco de 1510, 
                                                                 nos Museus Capitolinos, Roma   

Buarcos, 18 de Junho de 2022

António Barreto

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Um Pouco de História (3)

 

 

Um Pouco de História (3)

 

     “O segundo período protrai-se até ao fim do V século romano (490: 263 a.C.), iniciando-se ainda antes de encerrado o antecedente, com a primeira guerra importante contra os Équos e Volscos em 323 (430 a.C.): abrange pouco mais de século e meio. Durante ele a democracia militar regida por uma aristocracia - tal é o carácter da sociedade romana nesta época – exercendo já em todo o Lácio uma hegemonia que tende a transformar-se em unificação, apresenta o espetáculo de um corpo social homogéneo, equilibrado, forte, e por tudo isso expansivo. A sociedade latina, tendo a sociedade romana por capital, obedece às leis naturais da propagação e expansão, leis comuns a todas as sociedades de todos os tempos, e tão óbvias que escusado é insistirmos em demonstrá-las. A população cresce, e, numa república de pequenos lavradores, esse crescimento ocasiona guerras só evitáveis pela emigração, fenómeno todavia mais geral em épocas mais adiantadas.

   Expandindo-se, a República Romana submete ao seu domínio a Itália inteira, e a invasão dos epirotas de Pirro precipita o movimento de anexação - facto tão frequente nos tempos antigos e modernos, que a intervenção eficaz das invasões estrangeiras no sentido de determinarem as unificações de povos pequenos e rivais se pode considerar uma lei de dinamismo internacional.

   Mas o traço singular e eminente da história romana, neste período, é a invenção de um tipo novo de agregação social, tipo sem precedentes nas sociedades indo-europeias. O tipo federal e o tipo imperial - isto é, as ligas de cidades autónomas e o regime pessoal e militar congregando povos sem outro laço de união além da obediência comum a um soberano e de um imposto universal – tinham sido até aí os moldes em que se vazara a força expansiva das sociedades.

   Ora no seio de um mundo que todo ele girava em torno de duas ideias de agregação social, a federal e a imperial, Roma teve esta fortuna incomparável de conceber espontaneamente, e como dedução óbvia da suas instituições abstratas primitivas uma ideia nova – a de Nação; ideia que gerou um sentimento também até aí desconhecido - o Patriotismo; ideia e sentimento abstratos, sem relação fixa com o solo nem com o sangue. Romano era todo o habitante da cidade legal, fosse qual fosse a sua estirpe: o patriciado dos quirites tornara-se já obsoleto. Roma era, não só a cidade do Tibre como todas as do Lácio a que o foro romano se transmitira. A Pátria e o patriotismo tinham assim como base, não uma terra ou um sangue comum, mas sim uma comunidade de direitos e aspirações. A Terra deixou de significar a Pátria, desde que a abstração inventava mais de uma Roma; o sangue deixou de a encarnar também, desde que na cidade generalizada, todos, até o estrangeiro, eram cidadãos.

   A invenção de um semelhante estado mental é uma obra tão prodigiosa que, a vinte e cinco séculos de distância, todos nós, europeus – os iberos e os celtas latinizados, os teutões e mais os eslavos – vivemos socialmente dos sentimentos elaborados em Roma e somos sem dúvida romanos.

   Criada assim, no campo das ideias e dos sentimentos, mas não ainda no das instituições, a Pátria romana, e abrangendo no seu seio a Itália peninsular ítalo-grega, o progresso da expansão não pára. A área da nação novíssima abrange inteira uma região, e desde que se estende a toda essa região que é marítima, e desde que se estende a toda essa região que é marítima, o mar chama-a, pondo-a em contacto e portanto em conflito com a Inglaterra de então - Cartago, ao tempo a senhora de todo o mediterrâneo.”

História da República Romana

Oliveira Martins

                                              Breno e sua parte dos despojos, por Paul Jamin 


Peniche, 16 de Junho de 2022

António Barreto

sábado, 11 de junho de 2022

Um Pouco de História (2)

 

Um Pouco de História (2)

   “No fim deste primeiro período (387 da “era romana”, 366 a.c.), Roma apresenta-nos o espetáculo de uma sociedade constituída politicamente, isto é, homogénea nas suas classes e nas suas tradições; sociedade democrática, pois a constituição franqueia o acesso de tudo a todos, mas regida por instituições aristocráticas. É uma república semelhante à de Veneza; mais ainda talvez à monarquia representativa inglesa, onde também os foros da igualdade política provêm de conquistas de facto e não de afirmações jurídicas, à maneira do que sucede desde 1789 no continente, onde também uma aristocracia regeu quase até aos nossos dias o corpo social agora democratizado.”

História da República Romana

Oliveira Martins

Monarquia Romana

Peniche, 12 de Junho de 2022

António Barreto