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sábado, 22 de agosto de 2020

O Alegado Fim dos Recursos Terrestres

 

Os recursos alimentares da Terra

  

   Desde há uns tempos anda por aí uma ONG - mais uma - a amedrontar as populações com o sobre consumo dos recursos da Terra, indicando, com precisão newtoniana, a data de esgotamento dos mesmos a cada ano. Mais coisa menos coisa, a população consome os recursos anuais em seis meses. O dobro do que deveria para garantir a sustentabilidade da produção global.

   Ora, se é verdade que os recursos são finitos também é verdade que, graças à ciência, à tecnologia e ao progresso económico e social global, podem ser maximizados até um nível indeterminado. Por outro lado o crescimento do consumo está limitado à estabilização demográfica, que, de acordo com a teoria da Transição Demográfica, acabará por ocorrer em função da industrialização dos países subdesenvolvidos e do Terceiro Mundo, nomeadamente, América latina, Àsia e África. Segundo os demógrafos e a ONU, tal ocorrerá por volta de 2050 aos 7,5 biliões ou, até aos 11 biliões de habitantes, dependendo da velocidade de progressão económica e social daqueles países. Por outro lado a própria FAO refere que a produção alimentar mundial é suficiente para alimentar todos os habitantes do planeta. Assim, o problema não reside na produção de alimentos, mas na distribuição dos mesmos. É na dificuldade de acesso das populações aos alimentos que deve concentrar-se o combate à fome.

   Sendo a produção alimentar ocidental, excendentária, que sentido faz incentivar as respetivas populações à redução do consumo? Por outro lado, é totalmente despropositado promover a redução de consumo junto de populações que dele carecem para terem uma vida digna! Neste contexto, que sentido faz esta militância sistemática pelo decrescimento do consumo de bens alimentares?

   Pelo contrário, a erradicação da fome implica mais consumo das populações pobres, que, mais coisa menos coisa, deverá rondar os 3 biliões de pessoas - cerca de 3,4 biliões, segundo dados do Banco Mundial de 2018 -, num contexto de redução continuada - de 1990 a 2015 a redução da taxa de população em pobreza extrema (rendimento diário abaixo dos 1,9 USD) foi de cerca de 10 % (grosso modo, de 36 % para 26 %). O Banco Mundial planeia erradicar a pobreza extrema no mundo até 2030.

  Este combate implica a promoção da educação das populações, com especial foco nas novas gerações, sobretudo femininas, o investimento em infraestruturas básicas - saneamento, abastecimento de água potável - o acesso à energia elétrica e a cuidados de saúde primários, o investimento na produção agropecuária local, etc. Para tal é imperioso apoiar e escrutinar, política e economicamente, em contexto de concertação internacional, os governos locais dos países pobres, assegurando o efetivo progresso económico e social das respetivas populações.

   Esta insistência na redução global do consumo alimentar insere-se non plano do decrescimento económico mundial em consequência da teoria do Aquecimento Global de origem antropogénica. Redução de emissões de CO2 resultante da atividade humana, com redução da atividade industrial, agropecuária, florestal e energética. Uma bandeira do lóbi ecologista apadrinhada desde há muito pelos movimentos de esquerda empenhados em fazer desta uma causa sua.

   Não estranha esta estratégia considerando que a pressiona o modelo de desenvolvimento ocidental, capitalista, objeto estratégico das esquerdas desde os tempos da 1ª Internacional (1864). Porém, como encará-la relativamente aos países pobres? Como é possível, no âmbito de ideologia marxista, pedir, impor às populações pobres redução do consumo de bens essenciais? É possível sim, num contexto de instrumentalização da pobreza como arma de desestabilização económica, demográfica e política do Ocidente. É o que ocorre atualmente.

   E é também neste contexto que se enquadra o mercado de carbono. Definiram-se quotas de emissão, determinaram-se as emissões que cabem a cada país, determinou-se um preço por tonelada de emissão e estabeleceu-se um comércio. Os países com défice de quota, além de terem de investir na redução de emissão, sob pena de pesadas sansões, podem comprar quota aos que dela têm excesso dela. Na prática, os países desenvolvidos compram aos países pobres quota de emissão. Aqueles garantem sobre estes o ascendente tecnológico que detêm desde a Revolução Industrial. Estes, podem investir as correspondentes receitas no progresso económico e social das respetivas populações, sendo que, ao fazê-lo, comprometem a autonomia tecnológica futura cuja consequência se traduz na redução da velocidade da criação de riqueza.

   Redução do consumo supérfluo dos países desenvolvidos, sim.

   Aumento do consumo básico das populações pobres, sim, sim e sim.

    Instrumentalização política da pobreza, não, não e não.  

 

                           

 Thomas Malthus

Peniche, 22 de Agosto de 2020

António Barreto

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