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Olhando Para Dentro (notas)

Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Nós os Portugueses (Maria Filomena Mónica)


Na cauda da Europa (16 de Julho de 2006)

   “…Sucede que, com a globalização, a concorrência aumentou, podendo acabar por nos liquidar. Os sete países recentemente integrados da UE, que possuem um PIB per capita inferior a Portugal, ultrapassar-nos-ão antes de 2050, uma vez que exibirão taxas de crescimento mais elevadas do que as nossas. O rendimento médio português passará a ser o mais baixo de todos. De novo, estaremos onde sempre estivemos, isto é, na cauda da Europa. Dois fatores existem - a sempiterna fraca produtividade e o envelhecimento da população - que explicam esta situação.”

   Antero de Quental, nas palestras, que proferiu em 27 de Maio de 1871, chamadas “Conferências do Casino”, atribuía o atraso luso a três causas: o Concílio de Trento (a Religião Católica), o estabelecimento do Absolutismo (a destruição das liberdades locais) e o desenvolvimento das “Conquistas Longínquas” (os Descobrimentos).

  Passadas décadas, alterados os regimes e a demografia, mantém-se o interesse pelas causas do nosso atraso - a dimensão do mercado, o analfabetismo popular, a situação periférica - sem que se tenha chegado a uma conclusão definitiva.

   Tem sido moda comparar o caso português com o da Finlândia, país pobre que enriqueceu subitamente. Contudo, surpreendentemente, a causa não foi a tecnologia - Nokia - mas a maior produtividade da sua agricultura face à portuguesa.

   Em 1850 o PIB per capita dos dois países era idêntico, mas em 1914, o de Portugal baixou para metade do da Finlândia.

   Porém, não devemos desesperar, rezam as projeções demográficas que os europeus estão em vias de extinção antes do ano 3000; o último francês expirará em 2107, o último italiano em 2180 e o último inglês em 2780. Quanto ao último português não há estudos.

   Contrariando a teoria de Malthus, não será por falta de alimentos que a Civilização que conhecemos desaparecerá, mas por falta de vontade de procriar.
 
Maria Filomena Mónica

Peniche, 1 de Março de 2020
António Barreto

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Nós os Portugueses (Maria Filomena Mónica)


A nacionalidade portuguesa (25 de Junho de 2006)

   “…Tal como sucede no caso dos indivíduos, a memória é a base da identidade. Sem ela, não podemos falar de nós.”
 
 
Figueira da Foz, 24 de Fevereiro de 2020
António Barreto

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Nós os Portugueses (Maria Filomena Mónica)


A violência da escola moderna (11 de Junho de 2006)

“…O que nenhuma (esquerda e direita) é capaz de reconhecer é que, pela sua própria natureza, a instituição escolar representa uma violência - uma boa forma de violência - mas, apesar de tudo, uma violência….
…Se estas duas instituições, a escola e a família, se resignarem ao status quo, os valores civilizacionais que considerávamos adquiridos correm o risco de desaparecer.”
 
Peniche 22 de Fevereiro de 2020
António Barreto

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Nós, Os Portugueses (Maria Filomena Mónica)


Cérebros: não são cá precisos (28/05/2006)

 “...Ao contrário do que sucede nos países subdesenvolvidos, os "cérebros" portugueses desejam voltar. Quem não os quer é o país é o país onde viram a luz do dia. As razões são múltiplas, avultando o facto de as universidades nacionais serem organizações burocráticas e o de as empresas serem dirigidas por gente provinciana.....  
 
…Sei que, ao contrário do que sucedia há décadas, as universidades andam por aí a pedinchar que lhes arranjem alunos, a fim de dar trabalho aos professores excedentários dos seus quadros….
…Resta dizer que os artigos sobre os doutorados nos EUA provam o que tenho vindo a dizer ao longo dos anos, isto é, que a educação não gera necessariamente o desenvolvimento. Apesar do número de pessoas qualificadas ter aumentado de forma exponencial, a economia portuguesa está cada vez em pior estado. Toda a gente sabe que o rei vai nu mas ninguém sabe o que fazer. Nem eu.” 
 
Peniche, 21 de Fevereiro de 2020

António Barreto

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Nós os Portugueses (Maria Filomena Mónica)

Dura Lex Sad Simlex

  
“...Na medida em que evidencia o abismo existente entre governantes e cidadãos, a profusão de leis é um mau sintoma. Já no século V a.C. Platão afirmava que, numa sociedade civilizada, as leis seriam em número reduzido, uma vez que os cidadãos tenderiam a portar-se bem. O Zelo Legislativo nacional é a prova de que o governo não tem confiança nos cidadãos e de que estes, pelo seu lado, o não respeitam...."
 

 
Peniche 20 de Fevereiro de 2020 
António Barreto

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Henrique Galvão e a oposição


   Houve tempo em que me perguntava a razão pela qual, Henrique Galvão, enquanto primeiro e principal inimigo de Salazar, não se envolvera com a oposição comunista nem tão pouco a sua epopeia era mencionada pelos “democratas” do regime dos cravos.

   Recordo que, Henrique Galvão, capitão do exército, foi salazarista; apesar de democrata, tal como muitos outros, perante a balbúrdia da 1ª República, considerava necessária uma ditadura. Admirador de Salazar, foi um dos seus colaboradores diletos, teve ação relevante na reestruturação do exército, fundou a Emissora Nacional e, juntamente com Duarte Pacheco - dos tempos de Coimbra de Salazar de quem era grande amigo - organizou a célebre Exposição “O Mundo Português”. Apesar de terem setores diferentes da exposição a cargo, Pacheco e Galvão acabaram por se incompatibilizar.

   Henrique Galvão amuou por Salazar não tomar o seu partido e manifestou-lhe a sua deceção. O autocrata nomeou-o inspetor das Colónias esperando assim ver-se livre dele. Enganou-se. Henrique Galvão, qual Porfírio Rubirosa, percorreu as colónias de lés a lés, dedicando-se intensamente à caça, tendo ficado horrorizado com a vidas dos negros e a corrupção da administração colonial.

   No regresso, apresentou um relatório extenso e detalhado a Salazar do que tinha presenciado. Dececionado perante as pífias medidas do “padreco de Coimbra” - Assim lhe chamou Bernardino Machado -, Henrique Galvão não se conteve, arriscando a “brilhante” carreira que lhe estava destinada, apresentou-se na Assembleia Nacional - de que era deputado - e fez um discurso de denúncia e acusação arrasador. Sozinho.

   Daí resultou o seu afastamento da condição de deputado, pelos membros da Ação Nacional, contra a opinião de Salazar que, conhecendo bem Henrique Galvão, os advertiu de que se iriam arrepender.

   Foi então que o nosso Rubirosa proferiu a célebre frese “quando a ditadura é um facto, a revolta é um Direito!”. E revoltou-se! Foi descoberto, preso no Forte de Peniche e transferido para o Hospital de Santa Maria. Iniciou-se então a sua saga, digna de um autêntico Rambo.

   A fuga do Hospital Santa Maria, o refúgio na embaixada da Argentina donde transitou para a da Colômbia, o campo de treino na Colômbia, o sequestro do paquete Santa Maria, as tentativas de assassínio de Salazar e o exílio no Brasil, é toda uma “epopeia” digna de ser conhecida pelos portugueses. Diga-se em abono de Mário Soares, que, este foi o único político a visitá-lo no seu leito de morte em São Paulo, em 1970. Quando Soares lhe disse que salazar estava às portas da morte, Galvão deu um salto no leito exclamando: “não eu é que o vou matar”.

   Henrique Galvão era democrata - o sequestro do paquete Santa Maria de parceria com Pepe Velo tinha por objetivo último o derrube das ditaduras ibéricas, substituindo-as por democracias. Era iberista, e anticomunista - Durante o sequestro, a URSS ofereceu apoio a Galvão, pondo à sua disposição os mísseis necessários para afundar o “meu” Vera Cruz durante o transporte de 1500 soldados para a Guiné. Patriota recusou.

   Há quem diga - gente comunista - que Henrique Galvão era colonialista. Não é verdade! Galvão chegou a discursar na ONU onde referiu ser contra a independência das colónias por as respetivas populações não estarem preparadas para a assumir. E era verdade, como se viu e, ainda hoje, sessenta anos depois, se vê. Obviamente que Henrique Galvão jamais aceitaria as independências pró-comunistas que ocorreram; a vergonhosa capitulação e entrega a grupos sem representatividade popular manipulados pelo regime soviético por interposto PCP.

Eis o que refere a este respeito a já nossa conhecida Patrícia Mcgowen no seu também já conhecido livro “O Bando de Argel”.

“Quando, ainda em 1961, os dirigentes nacionalistas da CONCP procuravam uma oportunidade para estar na berlinda, aproveitando a luta armada iniciada pela UPA em Março desse ano, fizeram as primeiras tentativas de aproximação da oposição não-cunhalista.

   A princípio apostaram em Henrique Galvão.

   Galvão, como Delgado, vinha do salazarismo. Mas a sua oposição era muito anterior à do General. Durante longos anos o PCP e outros elementos da oposição tinham olhado esse velho africanista como uma personalidade a aproveitar. Já em 1949, o PC tinha editado um panfleto clandestino que reproduzia o relatório de Galvão sobre as condições em Angola, na altura.

   Delgado, pelo contrário, nunca foi visto com agrado pelo PCP e seus simpatizantes. Com relutância, tiveram que apoiá-lo finalmente, nas eleições de 1958, e desistir da candidatura de Arlindo Vicente; porém, com muito má vontade. Delgado era demasiado carismático, demasiado independente para servir de fantoche. Embora se tente hoje esconder das novas gerações esta fase da política sinuosa do PCP, ela está suficientemente documentada para quem quiser averiguar a verdade.

   Atribuindo a captura do paquete Santa Maria inteiramente a Galvão, e querendo aproveitar-se da publicidade mundial à volta do seu nome, os oposicionistas de esquerda e também os nacionalistas da CONCP estavam prestes, em 1961, a tentar uma aliança com o capitão. Houve um futuro dirigente da FPLN que, nesse mesmo ano, em carta dirigida do Brasil a um correligionário de Londres, escreveu: “Delgado está impossível. Terá que ser eliminado politicamente. Galvão é o nosso homem.

   Mas Galvão também se revelou incontrolável. Numa viagem à Suécia, pouco depois, destruiu em poucas palavras quaisquer esperanças que nele depositavam os aventureiros. Condenou o nacionalismo nas colónias portuguesas e atacou o comunismo. Assim se salvou de cair nas malhas que acabaram por enredar Delgado. Este episódio é altamente ilustrativo do comportamento de certos oposicionistas. Sem projetos sérios, incapazes de conduzirem qualquer ação de envergadura, esforçaram-se sempre por aproveitar-se das ações dos outros. E se estes demonstrassem ser independentes, então tudo fariam para os eliminar ou isolá-los."

   Por mim, direi que Henrique Galvão, por integridade, perdeu a oportunidade de se transformar no eterno ícone da oposição, até porque, Delgado foi uma invenção de Galvão; foi este que o lançou na candidatura presidencial de 1958 (foram amicíssimos, admirando-se mutuamente até se incompatibilizarem no Brasil).  
 

Peniche, 03 de Fevereiro de 2020
António Barreto