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sábado, 22 de outubro de 2016

Do Capitalismo (IX)


No início do século XVIII alvoreceu a Revolução Industrial com seu cortejo de implicações económicas e sociais muito semelhantes às que se verificam hoje, refletidas num texto anónimo de 1701 de nome Considerations upon the East Indian Trade: com efeito fará desaparecer naquelas indústrias, as que são menos úteis e menos lucrativas. As pessoas que aí estiverem empregadas procurarão outras ocupações, mais simples e mais fáceis de encontrar: ou então ocupar-se-ão de tarefas parcelares e especiais nas indústrias mais complexas. ...Assim, o comércio com as Índias terá o seguinte resultado: distribuir-se-ão as diferentes operações que constituem os trabalhos mais difíceis por vários operários qualificados, em vez de confiar excessivamente na habilidade de um só. …Enfim, o comércio com as Índias Orientais, trazendo-nos artigos fabricados por um preço mais baixo que os nossos, terá muito provavelmente como efeito obrigar-nos a inventar processos e máquinas que nos permitam produzir com menos mão de obra e menor custo, e através disso, baixar os preços dos produtos manufaturados. 

A Revolução Industrial, considerada por muitos como a transformação mais fundamental da vida humana na História do mundo, surgiu e desenvolveu-se no quadro da expansão comercial decorrente da colonização encetada pelos portugueses em 1419 com a tomada de Ceuta, confundindo-se por breve período com a História da Grã-Bretanha, na sequência da Revolução Gloriosa, de 1688 - que impôs o fim da Monarquia absolutista - Jaime II -, e implantou a Monarquia Parlamentar Constitucional - Guilherme III - proporcionando a ascensão da burguesia responsável pela criação das condições para a sua eclosão: …a única oficina do mundo, o seu único importador e exportador em grande escala, o seu único transportador, o seu único imperialista, praticamente o seu único investidor estrangeiro; por essa razão a única potência naval e o único país que se pode dizer que possuía uma verdadeira política mundial (E.J.Hobsbawm, Industry and Empire 1968/69). 

Combatem-se os monopólios, aumenta a concorrência, introduzem-se na sociedade inglesa; o chá das Índias, as porcelanas da China popularizadas pela rainha Maria da Holanda, os tecidos de algodão - indianos, persas, de Calicut - e os mais variados produtos característicos da riqueza da Inglaterra à época. 

Na sequência de um empréstimo de 1,5 milhões de libras esterlinas, à Coroa Inglesa, ao juro de 8% ao ano, para financiamento da guerra com a Flandres, um grupo de financeiros é autorizado a criar, em 1698, o Banco de Inglaterra, especializado nos pagamentos entre Estados e companhias de comércio em todo o mundo, na tradição dos financeiros de Londres, tendo-lhe sido concessionado o monopólio da emissão de notas de Inglaterra e do País de Gales.  

O desenvolvimento interno é financiado por bancos provinciais fundados, muitos deles, por manufatureiros - entre os quais os Lloyds e os Barclays - havendo na praça de Londres, 24 em 1725, 42 em 1770, 52 em 1776. Os bancos do interior são de 12 em 1755, 150 em 1776 e 400 em 1793. 

Num século, o valor das trocas comerciais aumenta por 5,5 vezes, quadruplicando o rendimento nacional. Primeiro comércio mundial, a Inglaterra exporta produtos fabricados, hulha - em detrimento do milho -, vende-se transportes marítimos e serviço de entreposto aos operadores comerciais entre as Américas, as Índias, o mediterrânio e o Báltico. No Comércio Triangular - Europa, África e América -, floresce o negócio dos escravos, do açúcar, das armas e do algodão, destacando-se, respetivamente, as cidades de Bristol, Liverpool, Birmingham e Manchester. Graças ao Union Act, publicado em 1707, a Escócia prospera ao participar no comércio colonial, que lhe era anteriormente inacessível. 

Todo este fervilhar económico suscita inovações de monta, em particular nos transportes, desenvolvendo-se a rede viária num modelo de financiamento agora designado por PPP - em que particulares abastados, recorrendo a capitais próprios ou emprestados, financiavam as obras a troco de cobrança futura das correspondentes portagens - em vez do recurso à corveia - trabalho gratuito dos servos ou camponeses - praticada em França e outros países do continente europeu. No transporte rodoviário passa a usar-se o cavalo em detrimento do Burro e os caixeiros viajantes fazem concorrência às feiras, vendendo por amostra. A grande inovação acontece no desenvolvimento maciço do transporte fluvial tornando navegáveis rios e ribeiros e construindo canais entre os centros de produção e de consumo ou expedição, proporcionando, por exemplo, a redução do custo da hulha a metade.  A espiral da procura impelia a expansão da produção agrícola, mineira e transformadora.

(Síntese livre da "História do Capitalismo, de Michel Beaud)

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