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sábado, 18 de janeiro de 2020

Heróis de ficção


   Da “revolução dos cravos” emergiu uma plêiade de “heróis antifascistas”, “intransigentes defensores da liberdade, do Estado de Direito, do progresso social e económico, da probidade, enfim; da democracia autêntica, pelo povo e para o povo. Instituiu-se no espaço público uma monótona retórica encomiástica da nova ordem onde a intolerância e a censura implícita e explícita se fazem sentir. O povo, cansado, inseguro, descrente, aceita esta espécie de poluição da narrativa política, quase indiferente, aceitando-a, e aos autoproclamados “heróis”, impotente, como uma fatalidade, chegando mesmo a colaborar na farsa.  Porém, um povo que preza a sua história, a sua dignidade e a liberdade, deve saber distinguir os falsos mitos das pessoas que cultivam e defendam os valores da dignidade humana.

   Patrícia Mcgowan, no seu livro “O Bando de Argel” dá-nos o seu testemunho. Eis um trecho da correspondente introdução:

   “O mistério do caso Delgado e os factos insólitos que o rodeiam ilustram duma forma cabal o que foram e o que são certas figuras proeminentes da classe política portuguesa. A protelação do julgamento durante longos anos, a libertação inexplicada de réus principais, o desaparecimento de documentação fundamental dos arquivos da PIDE, as proibições e censuras a obras de inquérito sobre o assunto nos meios de comunicação social, as calúnias e perseguições dirigidas a quem quisesse apresentar testemunho fundamentado - e, finalmente, um julgamento em moldes deficientes, baseado num libelo acusatório risível: tudo isto se passa num país que pretende passar por um Estado de Direito!

   Os responsáveis por esta situação estão despidos de autoridade moral para criticar o antigo regime. E o povo sente-o.

   Os responsáveis são muitos e o “bando de Argel” minúsculo Mas esse pequeno grupo, firmemente enraizado nas cúpulas do PS ou por elas protegido, continua impune, ocupando posições de relevo na vida nacional. O “bando”( com as suas múltiplas ramificações no PS, no PCP e no setor militar ) esteve no centro do “PREC”, da “descolonização exemplar, de dois governos constitucionais e continua ativo e esperançado em vir de novo ocupar o centro do poder.”
 

 

Peniche, 19 de Junho de 2020
António Barreto

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