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domingo, 18 de fevereiro de 2018

A Brusca (Agustina Bessa Luis, Guimarães e Cª Editores)

   Publicado pela primeira vez em 1967, A Brusca, é um livro de contos em que a autora retrata, em particular, um certo mundo rural, recorrendo em geral a figuras ou circunstâncias pitorescas, por vezes caricatas, através de uma linguagem fluida, rica, por vezes fascinante. Em “Uma Pescaria”, “O Bodo” e o “Correio da noite” emerge com exuberância a espontaneidade, a imaginação e a abnegação de um povo enquanto em “A Mãe de Um Rio” é reconhecível o realismo mágico de Garcia Marquez. Foi, em especial, “Uma Pescaria” que me cativou com uma breve, colorida e emotiva descrição da atividade piscatória na vila de Vieira de Leiria, semelhante, afinal, à das povoações do litoral português, eloquentemente descrita por Raul Brandão; “Dez a vinte vezes o barco era devolvido à praia; os homens tentavam de novo, destemidos e inermes, com o terror sagrado nos valentes corações.” e, “Remadores de grossos braços e veias pretas sob a pele, moços de cabelos anelados pelo sal, as velhas de saiotes franjados na orla pelo uso, olhavam-no friamente e interrompiam o trabalho quando ele chegava, fosse o de remendar as redes, fosse o de pintar um olho de Argos na proa dum barco. Não eram doidos nem sábios; não queriam corromper aquela estreita aliança com as coisas do seu mundo, coisas a que deviam tudo o que eram, a raça de luto, o pão da liberdade.” Sublime.




Peniche, 19 de Fevereiro de 2018

António Barreto (JR)

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