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sábado, 1 de junho de 2019

Portugal Traído; o 11 de Março (Fernando Pacheco Amorim)


   O 11 de Março
   (Síntese de António Barreto)
  
Frustrada a criação do Conselho da Revolução, a velha e bem oleada máquina do PC trata, de imediato, de alertar a opinião pública para as manifestações da reação que, garantiu, estariam prestes a ocorrer; uma inventona destinada a criar as condições para o afastamento dos oficiais não marxistas do MFA que os impediam de prosseguir com a sua agenda totalitária.

   Uma nova ameaça atemorizou o PC e os partidos autorizados, PS, PPD e CDS; o Partido da Democracia Cristã, fundado pelo major, membro do MFA e do II Governo Provisório, Sanches Osório, emergiu, polarizando as esperanças da população desiludida. Receosos e ardilosos, Cunhal e os seus correligionários logo desencadearam uma campanha de desacreditação e violência contra o novo partido, incluindo-o no rol dos seus alvos da intentona que preparava.

   Numa operação preparada pelo KGB para o PC, o traidor Vasco Gonçalves entrega a Palma Inácio, da Luar, e a Otelo, do Copcon, duas listas com nomes de civis e militares a abater; Inácio assassinaria os que estavam detidos, Otelo, assassinaria os outros.

   Cópias daqueles documentos chegaram às mãos do General Spínola e de membros do MFA. A data da matança, que ficou conhecida como “Matança da Páscoa” seria anunciada através da passagem de uma peça de teatro na TV. A exibição na TV, dessa canalha ao serviço do comunismo, de uma peça de teatro com características semelhantes provocou a debandada dos oficiais spinolistas procurando salvar as próprias vidas.

   A 11 de Setembro dá-se a farsa do bombardeamento do RAL1, vazio. O “povo vigilante” ao serviço do PC aguardava nas proximidades o desenrolar da ópera bufa, e a canalha da TV, igualmente avisada, registava a ocorrência da mesma. Um soldado, não avisado, é atingido e morre. Logo foi transformado no novo mártir, qual Catarina Eufémia. Porém, o assassinato a sangue frio, pelas costas, a rajada de metralhadora, por gente do RAL 1, de um casal sumariamente julgado por motivo fútil, nem sequer foi noticiado no país.

   Com a TV a entreter o povo com a reportagem das investidas da “contrarrevolução”, o PC não perdeu tempo. Chegara a hora de fazer a última purga do MFA e de constituir o ansiado Conselho Superior da Revolução. Convocada à pressa, a Assembleia Geral do Movimento das Forças Armadas, já depurada dos oficiais anticomunistas, arregimenta faxinas, sentinelas e até civis, para conseguir o quorom estipulado de 200 elementos. O famigerado e tristemente célebre Conselho da Revolução foi, finalmente, constituído como poder supremo do país. O grande propósito comunista estava alcançado. Da histórica Assembleia não foi elaborada ata, dada a irregularidade dos participantes. De imediato foram nacionalizadas a banca e numerosas empresas. Foi a consagração de décadas de luta do PC ao serviço do imperialismo soviético.

   PS, PPD e CDS, atemorizados e indignos, renunciam aos seus princípios, colaborando na encenação pública comunista. Sucedem-se as manifestações das brigadas vermelhas - tal como hoje, aliás -, pagas a xis por cabeça, fazendo-se passar pelo povo anónimo e atónito. Na frente externa, cantam-se loas à “Revolução dos Cravos”. No Mundo Ocidental cada país restringe-se à defesa dos seus próprios interesses, esquecendo os princípios do Mundo Livre, que diz defender.

   À época, o Conselho da Europa votou a favor da entrada de Portugal na sua organização, apesar das divergências insanáveis do respetivo regime com os estatutos da mesma. Sinteticamente, Portugal encontrava-se numa estado político pré-comunista e não pré-democrática, como muitos quiseram fazer crer. Senão, vejamos:

    As eleições para a Constituinte, realizadas em 25 de Abril de 1975, foram condicionadas pelo MFA, que afastou vários partidos do processo e impôs aos restantes uma Convenção Constitucional onde ficou definida a estrutura do novo regime, elaborada, nas suas linhas mestras, pelo PC. A Assembleia limitou-se a ratificar o que foi imposto aos partidos pelo MFA e estes, anuíram ao papel de idiotas úteis, emprestando uma aparência de pluralismo à Assembleia. O processo democrático ficou, assim, ferido de morte; pela falta de pluralismo partidário, por se ter enganado aos cidadãos e pela total ausência de liberdade na elaboração da lei fundamental.

   Neste contexto, o modelo que vigorou é característico das democracias populares e não aos regimes das democracias ocidentais, como se pretendeu fazer crer. Assim, por ordem decrescente de importância, os órgãos de soberania foram: O Presidente da República, o Conselho da Revolução, a Assembleia do Movimento das Forças Armadas, a Assembleia Legislativa, o Governo e os Tribunais.

    O Presidente da República era eleito por um Colégio Eleitoral composto por 490 membros, dos quais 240 pertenciam ao MFA e correspondiam ao Conselho da Revolução e à Assembleia do MFA. Daqui resultava que o PR seria sempre um militar da confiança do MFA, ao qual cabia escolher o Primeiro-ministro. (que bela democracia)

   O Conselho da Revolução concentrava todos os poderes, grosso modo, supervisionando e limitando a ação dos restantes órgãos e detendo ainda poderes especiais; definia a sua própria constituição, fixava o programa político interno e externo, decidia da constitucionalidade material e orgânica das leis, validava e sancionava todas as leis emanadas da Assembleia do MFA e do Governo, substituía a Assembleia e o Governo em matéria militar, sempre que se justificasse, zelava pelo cumprimento das leis ordinárias e pelos atos do Governo ou da Administração, conferia poderes constituintes à Assembleia Legislativa e recomendava correções ou alterações à Constituição, deliberava quanto ao Estado de Sítio ou Estado de Emergência, colaborava na escolha do Primeiro-ministro e dos três ministros nomeados pelo MFA, decretava a dissolução da Assembleia Legislativa, nomeava o substituto do PR em caso de impedimento do PR em exercício.

   Além disto, a Convenção imposta aos partidos determinava que a Constituição devia consagrar os princípios do MFA e salvaguardar as conquistas obtidas pelo processo revolucionário, bem como as futuras disposições que viesse a adotar.

   No dia-a-dia praticam-se atentados sistemáticos à vida, aos bens e às liberdades fundamentais dos cidadãos, numa frontal violação do Estatuto do Conselho da Europa, da Convenção para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, bem como os princípios gerais que regem as sociedades Ocidentais. O Estado de Direito prometido pelo MFA aos portugueses, não foi cumprido. Em seu lugar, permitiram-se leis revolucionárias, tribunais revolucionários, brigadas revolucionárias que agridem e matam impunemente.   

   Apesar da oposição de todos os partidos, à exceção do PCP e do MDP/CDE, foi consagrado, arbitrariamente, o princípio da unidade sindical, sem consulta aos trabalhadores, violando o direito de liberdade de associação sindical conforme disposto na Carta Social Europeia (Turim, 18 de Outubro de 1961).    

   Igualmente violado foi o direito de Associação política, como se verificou com a dissolução da Associação dos Operários e a proibição da Democracia Cristã de concorrer a eleições, com base em acusações não provadas, tal como ocorreu em 74 com o Partido do Progresso e o Partido Liberal.

   O mesmo sucedeu com a liberdade de informação; excetuando a “República” - órgão do PS - todos os restantes meios de comunicação estiveram sujeitos à censura dos comités de redação do PC. Antes da nacionalização da banca, MFA e governo provisório ocuparam as instalações dos hebdomadários independentes - “Tribuna Popular”, “Bandarra”, “Tempo Novo” e

“Liberdade” -, exceto as do Expresso, encarcerando vários jornalistas, em clara violação da Convenção para a Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais.

   A rádio e a televisão não tiveram melhor sorte; com o pretexto de terem colaborado no 11 de Março, Emissora Nacional, Rádio Renascença e RTP, que praticavam algum pluralismo, foram também submetidos ao jugo do PC através do MFA e Governo Provisório.

   Sobrepovoaram-se as prisões; os detidos - cerca de cinco mil - sem nota de culpa, sem interrogatório, sem apoio judicial, amontoam-se no Forte de Caxias, na prisão da Trafaria, na Fortaleza de Peniche, na Penitenciária de Lisboa, no Aljube, nas prisões civis e militares do Porto, no campo de concentração de Alcoentre, na prisão de Tires, na Fortaleza de Elvas, etc. Foram cerca de cinco mil detidos - sem quaisquer ligações ao antigo regime. O propósito foi o de desencorajar, pelo medo, os cidadãos, de quaisquer veleidades de discordância com o novo regime.

   Logo a seguir ao 25 de Abril, a KGB monta uma polícia política em Portugal, constituída pelo CPCON, pela LUAR e pela Comissão de Extinção da PIDE DGS. Fernando Oneto, membro da Comissão de Extinção da PIDE-DGS e do Partido Socialista, testemunhou estes factos. (morreu, anos depois, num comboio para Espanha, de súbito colapso cardíaco, tendo havido quem suspeitasse de assassinato, devido às circunstâncias em que ocorreu).

   Foi este o resultado de um ano de ditadura imposta por um bando de militares que prometeu ao Povo e ao mundo uma democracia pluralista em Portugal. As vítimas destas arbitrariedades, prisioneiros ou refugiados, são testemunhos eloquentes do caos instalado, que não se deveu só a Moscovo, mas também ao criminoso imobilismo das democracias ocidentais.

   Ao sancionar os crimes praticados no após 25 de Abril com a decisão de aceitar a inclusão de Portugal, controlado pela União Soviética, na sua organização, o Conselho da Europa, descredibilizou-se.

   (O acerto de contas ocorreria em 25 de Novembro de 1975. Por tudo isto custa compreender a recusa, em Portugal, da comemoração do 25 de Novembro. Tal permite-nos concluir que, os agentes desta recusa, os partidos de esquerda PS, PCP e BE, rejeitam o regime democrático instituído em Portugal na sequência do 25 de Novembro de 1975. Se tal atitude, por parte do PCP e do BE, é compreensível - uma vez que representam as forças derrotadas no evento militar subjacente - já não se compreende no caso do PS, partido que desde a primeira hora esteve do lado das forças democráticas. Porém, este caso, pode ser interpretado pelo interesse estratégico deste partido em manter-se vinculado a um período em que os excessos do PC e a intolerância do MFA aos partidos não socialistas, constituíram os motores da sua ascensão política.)
Quadro: Batalha de São Mamede
Peniche, 1o de Maio de 2019
António Barreto

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