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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Federalismo spinolista e Autonomia marcelista (VIII)


Guiné e Cabo Verde

  

As duas províncias tinham profundos laços históricos; o povoamento de Cabo Verde fizera-se com gente do reino e escravos oriundos da costa Guiné. O cruzamento das duas raças originou a população mestiça de cultura e língua crioulas.

   A pobreza do arquipélago, consequência de seca regular, originou a emigração de muitos cabo-verdianos para a Guiné onde exerceram atividades ligadas ao comércio e foram integrando a administração pública local. Senegal e Guiné francesa - hoje Conakri -, foram, também, destinos privilegiados.

       O PAIGC foi criado por intelectuais cabo-verdianos (Amílcar Cabral não era natural da ilha de Santiago, como refere Marcello, mas de Bafatá, na Guiné, onde seu pai, cabo-verdiano de ascendência guineense casara com uma guineense de ascendência cabo-verdiana. Foi aos oito anos para Santiago onde fez o ensino primário, depois para o Mindelo, em São Vicente, onde fez os estudos secundários, e, finalmente, para Lisboa onde frequentou o Instituto Superior de Agronomia e conheceu, na Casa do Império, as grandes figuras dos movimentos de libertação - Mário de Andrade, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos -, familiarizando-se com a doutrina da “negritude” de Leopold Senghor que defendia a reafricanização dos espíritos. Amílcar Cabral, foi funcionário dos Serviços Agrícolas e florestais da Guiné, onde adquiriu profundo conhecimento das realidades sociais da província).

   A junção da Guiné a Cabo Verde na reivindicação de independência destinar-se-ia a justificar a presença e a supremacia dos naturais do arquipélago no movimento.

      Os cabo-verdianos eram hostilizados pelos guineenses que os consideravam exploradores dos indígenas. Terá sido essa a origem das tensões internas no PAIGC que poderão explicar o assassinato de Amílcar Cabral (em 20 de Janeiro de 1973 em Conakri).

   A economia da Guiné - com uma área equivalente à do Alentejo cortada por vários rios e habitada por cerca de 20 etnias -, onde predominava a pequena propriedade agrícola, era pobre, e não era o arquipélago que a iria ajudar.

   Em 1968 iniciou-se em Cabo Verde uma das piores secas da história; durou cerca de seis anos.

   (A catástrofe da década de quarenta, que provocou a mortandade de cerca de 50 mil cabo-verdianos e a emigração em massa de muitos outros para as plantações de cacau em São Tomé e Príncipe, ainda na memória de Marcello Caetano, não poderia repetir-se.)

   A partir de 1968 estabeleceram-se planos de atuação aos primeiros sinais. Na sequência da sua visita ao arquipélago em 1971, o Governo implementou um vasto programa de apoio, proporcionando trabalho a todos - na abertura e pavimentação de estradas e na pesquisa e captação de águas subterrâneas -, na distribuição a baixo preço de bens alimentares essenciais, no apoio sanitário - com nutricionistas a distribuir vitaminas a todos, leite às crianças e o indispensável aos idosos. No Mindelo construíram-se silos de milho para ser distribuído pela população e construiu-se uma estação de dessalinização de água do mar que abastecia a população e a navegação, apesar de cara. Para evitar a fome autorizou-se a doação de fundos, a pedido do respetivo Governador; cerca de um milhão de contos neste período.

   O prolongamento da seca no arquipélago e a escassez de mão-de-obra na Metrópole - originada pela expansão económica e pela emigração para França e Alemanha -, levaram o Governo a incentivar a emigração de cerca de vinte e cinco mil cabo-verdeanos para a Metrópole.

   Face às desastrosas consequências nos países africanos na época, onde os mortos ultrapassaram as centenas de milhar, o sucesso de Cabo Verde constituiu uma coroa de glória para Marcello Caetano, apesar das mentiras e propaganda adversa da própria ONU.

   Contrariamente ao que corria nos “mentideiros do mundo”, durante toda a visita de Marcelo Caetano ao arquipélago de Cabo Verde, não houve qualquer sinal de hostilidade; apenas manifestações de apoio, compreensão e patriotismo.

   Devido à sua economia de pequenos proprietários agrícolas indígenas - que conservaram as suas propriedades -, e à escassa instalação de empresas europeias no território, a descolonização da Guiné teria sido simples de levar a cabo, não fosse a a repercussão que teria nas restantes províncias e o consequente abandono de Cabo Verde. A solução teria de ser global e o arquipélago não podia ser deixado à mercê dos apetites internacionais quando a URSS já tinha a sua primeira base naval na Guiné Conakri.

(Captura de Ngungunhane)

Peniche, 12 de Setembro de 2019
António Barreto jr

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