Publicação em destaque

Olhando Para Dentro (notas)

Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

Pesquisar neste blogue

sábado, 14 de setembro de 2019

Federalismo spinolista e Autonomia marcelista (IV)


A Guerra Colonial

  
Apesar da violência brutal que acompanhou a independência do Congo Belga em junho de 1960 e da afinidade dos negros do congo português com o os do congo belga, acreditava-se que nada de semelhante ocorreria do nosso lado em virtude do melhor relacionamento histórico entre negros e brancos.

   Mas não era bem assim; o professor Joaquim da Silva Cunha, palmilhando o território angolano de lés-a-lés, fez um levantamento exaustivo das várias sociedades ocultas de cariz religioso e messiânico - que deu lugar ao relatório/livro “Movimentos Associativos da África Negra” - nas quais se difundia a promessa de libertação do continente africano, do branco.

   Este aviso de perigo eminente, suscitando algumas providências em termos de segurança, reforçado com o ataque à prisão e a uma esquadra de polícia em Luanda em 4 de Fevereiro de 1961, não evitou os bárbaros ataques de 15 de março no congo português nos quais foram selvaticamente assassinados cerca de 1500 colonos e indígenas.

   O desarmamento das populações na bacia do Zaire, imposto pelas convenções internacionais, deixou os colonos indefesos. Só os aviões do Aeroclube de Angola e militares, posteriormente, lançaram armas aos núcleos de resistência dos colonos.

   Reis Ventura, no seu “Sangue no Capim” descreve em género romance, a tragédia desses tempos.

   Salazar, envelhecido, magoado e torturado na sequência do sequestro do Santa Maria, vacilou ante o desesperado pedido de auxílio das gentes de Angola.

   Nas forças armadas reinava a intranquilidade: Craveiro Lopes, ressentido, ameaçava o regresso à vida pública, enquanto no Departamento da Defesa Nacional e no Ministério do Exército imperava o sentimento de impotência equacionando-se o início das negociações com os EUA.

   Daqui resultou a tentativa de golpe de Estado de Botelho Moniz na qual Costa Gomes participou. Fracassado o golpe Salazar ganhou novo alento e anunciou ao povo, pela televisão, a sua decisão de socorrer Angola “rapidamente e em força”.

   Um sentimento patriótico eclodiu por todo o país e consolidando a linha de ação na defesa do Ultramar.

   Marcelo Caetano manteve a política ultramarina quando, em 1968, assumiu o Governo. O escasso número dos bandos guerrilheiros e a falta de representatividade destes levou-o a considerar a questão ultramarina como um caso de segurança interna.

   Apurara que em nenhuma das três províncias havia uma rebelião generalizada das populações. A subversão verificava-se em áreas restritas a partir dos países vizinhos, graças a apoios estrangeiros. Não havia terrorismo urbano, e mesmo na Guiné, a maior parte da população era fiel a Portugal. Centenas, ou mesmo milhares de observadores estrangeiros, jornalistas, diplomatas, políticos, comerciantes e industriais puderam viajar por toda a parte nas três províncias, sem escolta, sem armas e sem problemas de segurança.

   Para comprová-lo Marcello Caetano deslocou-se ao Ultramar em abril de 1969, visitando Bissau, Luanda, Lourenço Marques, Beira e Nova Lisboa; os banhos de multidão, incluindo pretos e brancos, a ausência de atentados ou distúrbios e os apelos de ajuda fortaleceram a sua decisão de prosseguir a política em curso. Abandonar as populações seria uma traição ignóbil.

   As efusões de apoio popular repetiram-se na Metrópole, em Lisboa logo à chegada à Portela, e em especial na visita a Vila Nova de Gaia e ao Porto. O Ultramar foi aclamado por todos.

   Este foi o ciclo da legitimação do Governo de Marcelo Caetano e da sua política de defesa do Ultramar. Assim o considerou o Presidente do Conselho.
(António Enes)

Peniche, 14 de Setembro de 2019
António Barreto jr

Sem comentários:

Enviar um comentário