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sábado, 28 de março de 2020

No Segredo dos Deuses

          
             (Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)

O Terrorismo:

   Quanto ao terrorismo, Alexandre de Marenches destaca os campos de treino na Líbia, na Síria e no Iémen do Sul. Refere que o terrorismo não inventa causas, serve-se das que existem, como por exemplo, dos arménios contra os turcos em retaliação pelo genocídio que estes, em 1915, cometeram contra aqueles. Surpreendentemente, revela que a Líbia era o grande financiador do IRA e um elemento dos canais de financiamento, que compreendiam grupos separatistas do Quebec, do IRA e da Bretanha.

   Advogava Marenches que o combate ao terrorismo se deve fazer de forma global visto que é uma espécie de doença internacional. Exemplos disso foram os casos do terrorismo Basco e do Exército Revolucionário Vermelho Japonês cujas ações poderiam ter sido limitadas se tivesse havido colaboração entre os serviços secretos de Espanha, da França e da Holanda. As práticas do Exército Vermelho Japonês consistiam em atar a vítima a uma árvore e retirar-lhe a pele em tiras, da cabeça aos pés, e esquartejar os traidores.

   Lord Mountbatten, ignorando, displicentemente, o aviso do espião gaulês, não escapou ao atentado, ocorrido na Irlanda, em 27 de Agosto de 1979, ao seu iate, onde um dos seus netos perdeu a vida e outros familiares ficaram feridos.

   Sobre o atentado a João Paulo II, Alexandre de Marenches soube que iria ocorrer e conseguiu avisá-lo através de um eclesiasta francês. O Santo Padre, confiante de que a sua sorte estava nas mãos do senhor, não tomou quaisquer precauções particulares. E o atentado ocorreu. Ali Agca, o seu autor, não passou de um instrumento ao serviço da União Soviética. Não era do interesse desta um papa não marxista, conhecedor do mundo comunista. Apesar de falhado, o atentado debilitou o Santo Padre, que, a partir daí teve um forte declínio físico.

   O terrorismo na Europa procura desmembrar os países que a compõem a fim de impedir a formação da Grande Europa, beneficiando da permeabilidade das suas fronteiras. A origem do terrorismo não está na Europa nem no Médio Oriente; os primeiros terroristas contemporâneos foram os Tupamaros do Uruguai.

   Há um certo romantismo nas causas do terrorismo que fascina o terrorista como uma espécie de droga, e suscita admiração nalgumas pessoas. O fanatismo religioso é uma via privilegiada para o recrutamento dos terroristas, os quais, doutrinados, encaram a morte como uma espécie de libertação para o além paradisíaco.

A expansão xiita:

   A expansão do xiismo, maioritariamente concentrado no Irão, era apontado como um risco para a União Soviética (sendo hoje uma das principais causas do terrorismo no Ocidente). No entanto, surpreendentemente, os soviéticos infiltraram a estrutura eclesiástica iraniana, acabando descobertos e saneados ou fuzilados.

O ativismo ecologista:

   Alexandre de Marenches, já retirado, advoga a necessidade de um Conselho Nacional de Segurança com a finalidade de coordenar os serviços entre os vários ministérios, dando-lhe coerência e eficácia. Atribui à democracia, concretamente à incompatibilidade partidária, a ausência de progressos. O semiamadorismo dos Serviços teria sido a causa do escândalo da ONG Greenpeace ocorrido em 19 de Agosto de 1985 - sabotagem da sua embarcação Rainbow Warrior num porto da Nova Zelândia na qual faleceu o fotógrafo português Fernando Pereira, em retaliação pelos protestos que fazia aos testes nucleares que a França realizava no atol da Muroroa -, que provocou grande turbulência diplomática entre os dois países e acabou por custar três anos de prisão a dois operacionais franceses.

   Neste tipo de ONGs de protesto, sendo, muitas delas, fundadas por gente bem-intencionada, logo que ganham alguma relevância são infiltradas por operacionais ao serviço de Moscovo que acabam por subverter os princípios da fundação do organismo, manipulando-o em conformidade com o seu interesse estratégico (pratica do PC português desde os primórdios).
 
Alexandre de Marenches
 
Peniche, 7 de Março de 2020
António Barreto

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