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terça-feira, 31 de março de 2020

No Segredo dos Deuses (últimas notas)



                         (Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986) 

Geoestratégia soviética:

   Jean-François Revel em Comment les democraties finissent refere que, entre 1970 e 1980, os soviéticos, instalaram-se em África, na Ásia do Sudeste, na Ásia Central, na América Central, no Próximo Oriente e nas duas margens do Mar Vermelho. O grande jogo do nacional-comunismo operava em dois palcos principais, o euro-asiático e o americano.

   Os Estados Unidos, apesar de detentores de meios materiais invulgares, carecem de experiência, imaginação e continuidade, e do afeto que, por ingenuidade, procuram obter dos outros: “amam-se os pequenos, raramente os gigantes”.

   Com uma fronteira de três mil quilómetros a sul, com o México pobre e sobrepovoado - atualmente com 129 milhões de habitantes - dificilmente os EUA a conseguirão defender. O plano foi delineado há muito pela URSS; Cuba como agitador, América central como detonador e México como bomba.

   Outros riscos ameaçam a estabilidade futura dos EUA; doze a quinze milhões de pessoas ilegais - se organizadas (algo que parece ocorrer atualmente) poderão formar a quinta coluna -, falta de bilhete de identidade nacional, a não imposição do idioma inglês e chegada maciça de hispânicos - que um dia reclamarão o regresso aos territórios dos seus antigos proprietários.

   Quanto à Europa, diz Alexandre de Marenches que deve aprender a defender-se por si só, sem a muleta americana; um dia, os americanos farão regressar as tropas que lá têm estacionadas para defender a sua fronteira a sul. Tal era parte do plano soviético (que alguém parece ter posto em marcha atualmente). Porém, o abandono pelos EUA da defesa da Europa, em especial das ilhas britânicas e Marrocos, seria um desastre para os americanos (na verdade, o abandono de África aos soviéticos, está a revelar-se fatal para o Ocidente).

Propostas para a defesa do Ocidente:

   Finalmente, o conde Alexandre de Marenches, ex-chefe dos SDECE franceses, esquematiza o que, à época, seria uma estratégia de defesa militar do Ocidente:
o   Constituição de um Estado-Maior supremo interaliado, de guerra global, pluridisciplinar, militar e civil pronto para responder em todas as ameaças.
o   Constituição de um exército Europeu equipado conforme ao modelo americano, composto por armas nucleares, um corpo para o teatro Europeu, uma força expedicionária para os teatros externos e um exército de milícia do tipo suíço. Defesa civil e proteção da população, uso das armas ideológicas junto das populações dos países inimigos - “as palavras e as ideias são a tropa de choque da guerra revolucionária” (Suzanne Labin) -, e ajuda em tempo de paz aos que se batem pela liberdade, a exemplo de Savimbi.

   Propunha, veementemente, uma aliança estratégica com os países do Magreb - Marrocos, Argélia e Tunísia -, “para que este não venha a ser um dia inimigo é preciso que seja complementar da Europa”. O lado Europeu contribuiria com alimentos, capitais e tecnologia, o lado africano com os grandes espaços, a mão-de-obra e o sentido do sagrado.

   Em caso de guerra – invasão das forças do extinto Pacto de Varsóvia pelo norte, a Península Ibérica e o Magrebe constituiriam o último bastião europeu. Exemplificou com um acontecimento histórico curioso, e pouco conhecido do grande público, ocorrido em Outubro de 1940 entre Franco e Hitler em Hendaia, nas margens do rio Bidassoa: Com Hitler no auge do poder, Franco recusou-lhe passagem para o Norte de África lembrando-lhe que Napoleão perdera mais soldados em Espanha do que na Rússia.

   Finalmente, sugeria a retirada do N do acrónimo NATO, naturalmente na sequência do alargamento o campo de ação daquela organização militar ao Atlântico Sul.


Peniche, 07 de Março de 2020
António Barreto

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