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quinta-feira, 26 de março de 2020

No Segredo dos Deuses


             (Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)

A instrumentalização soviética:

   Na luta insana pelos recursos do planeta os soviéticos privilegiavam o recurso a intermediários para travarem as suas lutas a troco de proteção. No continente americano, desde o Canadá à Terra do fogo - Margem norte do Estreito de Magalhães -, tal missão cometia a Fidel Castro - cuja administração dependia do financiamento vermelho -, em África, para a região do Magreb e até ao sul de Angola, o “mandatário” era Kadhafi, o qual, além de gozar de autonomia económica - devido ao petróleo -, comprava armamento e serviço técnico aos soviéticos - que pagava a pronto e em moeda forte. Na Ásia essa tarefa era desempenhada pelos veteranos de Hanói.

   Exceção foi o Cambodja, em que os sanguinários Khmers vermelhos eram apoiados pela China - fedelhos, armados de kalachnikov, saídos das florestas, exterminaram cerca de um quarto da população da cidade, fazendo jus a um dos lemas da Revolução francesa segundo o qual “a revolução não precisa de sábios”.

   O interesse Ocidental em liquidar Kadhafi vem desta época - em 70 houve atentados egípcios contra ele -, acabando por se concretizar na guerra civil de 2011. Curiosamente, Alexandre de Marenches explica a falta de ação dos americanos nestes casos - assassinato dos seus inimigos -, com razões de ordem moral e falta de pessoal qualificado na CIA.

   A administração Cárter dizimara os recursos humanos dos serviços secretos americanos, facilitando a vida aos seus inimigos. Conta-se um episódio em que, tendo-lhe sido proposto, por iniciativa dos serviços secretos franceses, o sequestro de Khomeini, para moeda de troca com os americanos sequestrados na embaixada de Teerão, Jimmy Carter recusou, respondendo que não se fazia isso a um bispo e, sobretudo, a um homem daquela idade. Nos Estados Unidos a Lei constitucional proíbe o assassinato em nome da razão de Estado.

Em plena III Guerra Mundial:

   Para o ex-chefe dos SDECE, a terceira guerra mundial começara muitos anos antes desta entrevista - realizada em 1986 - resumindo-se aos múltiplos conflitos armados locais e ao terrorismo, que visam o acesso às matérias-primas e o controlo psicológico das populações.

   A falta de perceção geral desta realidade dever-se-á à ausência do padrão das guerras clássicas. Por outro lado, não deveria temer-se o risco de conflito atómico em larga escala pela simples razão de que a união soviética, o grande promotor do terrorismo internacional - “a violência é a parteira da História, dizia Lenine” -, estaria interessada em controlar os meios de produção industriais e tecnológicos do Ocidente e não em destrui-los.

   Já então, o “nosso” Marenches tinha percebido que uma Europa alargada à Europa de Leste era inconveniente ao bloco soviético, dado o elevado poder económico resultante, superior ao dos próprios Estados Unidos. (A “invasão” de imigrantes afro-asiáticos a que assistimos hoje, pode estar relacionada com o plano de desagregação da Europa, congeminado nos “bons” tempos da URSS, e, coincidentemente, do interesse dos EUA).
 
Peniche, 7 de Março de 2020
António Barreto

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