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sábado, 30 de junho de 2018

Da História de Portugal, notas IX


Da Lusitânia a Portugal
De Diogo Freitas do Amaral
Bertrand Editora
Notas IX (sobre a obra)
A Grande Crise Nacional de 1383 e 1384

   Na batalha de Aljubarrota - 14 de Agosto de 1385 - foi de um para cinco o desequilíbrio das forças em presença, cada uma delas comandada pelo correspondente rei; seis mil para trinta mil. Atribuiu-se à famosa tática do quadrado a razão da vitória lusa, no entanto outras circunstâncias concorreram para o desfecho; as “covas do lobo” (valas dissimuladas no terreno onde caiam cavalos e cavaleiros espanhóis), o contributo dos eficientes soldados ingleses - cerca de 800, que vieram ajudar ao abrigo do Acordo de Tagilde e de Westminster), a Fé de Nuno Álvares, e o conforto do Papa Urbano II que considerara D. João I de Castela herege por ter apoiado o antipapa Clemente VI, fazendo ler uma bula ao exército português pelo Arcebispo de Braga, absolvendo de todos os pecados os que combatessem o exército castelhano.

   Antes de mais sublinhe-se a competência do planeamento da batalha obrigando o inimigo a combater no nosso terreno, nas nossas condições; a meu ver terá sido essa a causa primordial.

   Ficou evidenciada a visão estratégica de D. Fernando “O Formoso” ao ter rubricado os Tratados de Tagilde e Westminster, respetivamente, em 1382 com João de Gante - fundador da Casa de Lencastre, inspirador do futuro Tratado de Windsor e…candidato à coroa de Castela! - e, em 1383, com Eduardo II. Pelo meio, em 1373, assinou, o Acordo de Salvaterra de Magos com o rei de Castela. Por todas as razões conhecidas - guerra com Galiza, Leão, Astúrias e Castela, desde os tempos do ainda Condado - “O Formoso” precatou-se estabelecendo com os reis ingleses aquela que é a mais velha aliança de apoio mútuo entre dois países, e que viria a ser decisiva quer para o desfecho da Batalha de Aljubarrota - as forças inglesas eram compostas por 600 archeiros - quer para o sucesso da Dinastia de Avis e de afirmação de Portugal no mundo. Por outro lado, compreende-se a desconfiança e hostilidade dos castelhanos relativamente aos portugueses por estes terem apoiado um candidato inglês, D. João de Gante, casado com D. Constança filha de D. Pedro I de Castela “O Cruel”, à sucessão do trono de Castela

   Vivendo-se, então, em pleno, o Grande Cisma do Ocidente, que ocorreu entre 1378 e 1417, pode dizer-se que Portugal estava no lado certo da História ao apoiar o Papa Romano, cidade onde, segundo o Concílio de Constança realizado em 1417, ficaria decidido, em definitivo a residência papal em Roma. Esta, constituiria mais uma razão da crónica incompatibilidade luso-castelhana. Associada à Fé de Nuno Álvares - então com 25 anos e que, quando confrontado com a superioridade do poder militar castelhano, terá referido, que maior era poder de Deus, que nunca lhes faltara -, a bênção do Papa à causa lusa, conferiu superioridade moral ao respetivo exército.

   No rescaldo do embate, D. Nuno Álvares Pereira foi agraciado, por D. João I, com o título de Conde de Ourem e com inúmeros senhorios, de que resultaria a futura e notável Casa de Bragança, que ainda hoje subsiste, apesar da República. Em 1386 rubricou-se o Tratado de Windsor, que ratificou e ampliou os tratados anteriores e estabeleceu o acordo de casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre - Catarina de Lencastre casaria com Henrique III de Castela, demonstrando uma estratégia dinástica de João de Gante para toda a Península Ibérica. Assinaram-se tréguas sucessivas com Castela, culminando com a assinatura da paz definitiva no Tratado de Segóvia em 1411, a qual só viria a quebrar-se em 1575, na sequência da crise de sucessão a D. Sebastião. Decidiu-se a construção do Mosteiro da Batalha, que viria a ser concluído por D. Manuel I, fazendo parte do Património Cultural da Humanidade, da UNESCO.
 
Batalha de Aljubarrota 

Peniche, 30 de Junho de 2018
António J. R. Barreto

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