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sábado, 2 de junho de 2018

Nobre Portugal

   "Da Lusitânia a Portugal", editado pela Bertrand, é um livro história de Diogo Freitas do Amaral, que está a superar largamente a minha espectativa inicial. Contrariamente a muitas das obras de história, tem um especial enfoque nas transformações orgânicas ocorridas nas estruturas dos regimes, na ordem jurídica, administrativa e social deixando para segundo plano, ou omitindo, as tramas políticas subjacentes. No século XIX em que, na sequência da revolução francesa de 1789, o absolutismo deu lugar ao liberalismo pela mão de D. Pedro IV e seus aliados maçónicos  liderados no sinédrio pelo figueirense Manuel Fernandes Tomás, ocorreram as grandes transformações políticas, jurídicas, administrativas, sociais e económicas que caracterizam os Estados modernos; constitucionalismo, separação de poderes, alargamento do direito de voto, fim dos privilégios feudais e eclesiásticos, universalidade da tributação, fomento das escolas públicas, da formação profissional, desenvolvimento dos caminhos de ferro e rede viária, industrialização com a aquisição de teares modernos e da máquina a vapor - na indústria e nos transportes marítimos -, abolição da escravatura e da pena de morte e prisão perpétua, etc.
 
   Num momento em que a eutanásia foi rejeitada no Parlamento cabe salientar o impacto que teve a abolição da pena de morte por Portugal , em 1867; o primeiro país do mundo a fazê-lo de forma definitiva, sem retrocessos, como aconteceu com a França e a Inglaterra. Tal suscitou grandes elogios de todos os países europeus, salientando-se o de Victor Hugo, então publicado no Diário de Notícias: "Está pois abolida a pena de morte nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história! Penhora-me a recordação da honra que me cabe nessa vitória ilustre. Humilde operário do progresso, onde novo passo que ele avança faz-me pulsar o coração. Este é sublime. Abolir a pena de morte legal deixando à morte divina todo o seu direito e todo o seu mistério, é um progresso augusto entre todos. Felicito o vosso parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e os vossos filósofos! Felicito a vossa Nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão dessa imensa glória. A Europa imitará Portugal Morte à morte! Guerra à guerra! Ódio ao ódio. Viva a vida! A liberdade é uma cidade imensa, da qual todos somos cidadãos. Aperto-vos a mão como a um meu compatriota na humanidade."
 
      Já no século XVII, Miguel de Cervantes, no regresso da batalha naval de Le Panto, às portas marítimas de Lisboa, fizera um elogio comovente ao povo da Capital. Uma das perguntas que me coloco é a do que pensaria Victor Hugo da banalização da morte que caracteriza a Europa de hoje, nomeadamente com a banalização da morte; do aborto e a progressão da eutanásia.  Outra, é a de saber se uma das causas deste processo não residirá no abandono pelos governos europeus dos valores cristãos em favor do laicismo. Outra ainda consiste em perceber as causas profundas que levam gente hipoteticamente culta a rejeitar a história do seu país, omitindo o contributo positivo deste para o progresso civilizacional, ostentando um ódio visceral a esse mesmo passado, como que querendo verem-se livres dele, reescrevendo a história.
 
  
   Está de parabéns o prof Freitas do Amaral e a Bertrand, aos quais remeto a minha vénia de agradecimento.
 
 
Sá da Bandeira (Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, 1.º barão, 1.º visconde e 1.º marquês, de
26 de setembro de 1795  a 6 de janeiro de 1876;
autor da abolição definitiva da escravatura, em 1869)
 
 
(Barjona de Freitas, retrato de Columbano Bordalo Pinheiro)
 
(Autor da proposta de extinção da pena de morte, sob o governo de Joaquim António de Aguiar, apoiada pelo líder do Partido Regenerador, Fontes Pereira de Melo, e aprovada no Parlamento em 1867)
 
 
(Joaquim António de Aguiar 1792 a 1994)
 
 
 
 
(Fontes Pereira de Melo 1819 a 1897)
 
Peniche, 02 de Junho de 2018
 
António J. R. Barreto

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