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domingo, 24 de abril de 2016

O Liberalismo Contemporâneo

 
 
(Pierre Auguste Renoir, The-Children-Of-Martial-Caillebotte)
 
    Quem tem o prazer da leitura e não pode andar por aí a comprar livros a quinze, vinte, trinta ou mais euros, nem se importe demasiado com a estética da biblioteca, não desespere, há por aí livrarias, algumas meio esquecidas, onde se encontram bons livros a preços módicos e onde ainda poderá travar algumas conversetas, habitualmente pitorescas, com o livreiro, personagem geralmente culta, por vezes algo excêntrica.
 
   É o caso da livraria do meu amigo Mário Bandeira "le philosophe", que um bandido sem escrúpulos assaltou recentemente, levando-lhe alguns artigos; tabaco (ao preço que está transformou-se num bem de luxo), dinheiro, e ainda lhe provocou extenso ferimento na cabeça. A polícia tomou nota da ocorrência; servirá para alimentar os organismos produtores de estudos sobre criminalidade e extorquir à vítima mais um cobres em taxas por emissão de relatório do evento, se dele necessitar.
 
   Lá encontrei, entre outros, este livrinho de Maurice Flamat, à época, 1987,  professor de Ciências Económicas na Sorbonne, uma edição Europa-América da sua coleção Saber, por...€2,50! Se agora até temos um Ministério da Cultura, porque não investir alguns euros dos dinheiros públicos, na produção de livros baratos e difundi-los pelo país e pela web de forma a torná-los acessíveis a todos? O catálogo teria de ser elaborado por entidades independentes e idóneas de forma a prevenir  a tentação doutrinária dos partidos dos governos.
 
   Pois neste livrinho, apesar da tradução medíocre, podemos verificar sem espanto, que as transformações sociais e económicas que Portugal atravessa, aconteceram, mais coisa, menos coisa, no arranque de outras democracias mais antigas, como é o caso da francesa, que serve de referência ao autor.  Sem espanto, mas com alguma perplexidade, pelo anacronismo de grande parte das elites políticas atuais, que, paradoxalmente, se autointitulam progressistas, apesar da sua manifesta incapacidade de aprender com os erros do passado, cegos pelo fascínio do acesso ao espaço mediático e ao poder.
 
   Alguns extratos:
 
   "Estes mesmos países (capitalistas), são também aqueles que atingiram os mais elevados níveis de vida; em parte alguma o bem estar material da maior parte da população - e portanto das pessoas mais modestas - é tão elevado."
 
   "...a democracia - pelo menos no sentido que hoje damos a este termo -, não é, de modo algum, possível se não no seio de uma economia capitalista. Porque, no caso contrário, o poder e o peso das autoridades tornam-se literalmente esmagadores para o indivíduo. Se se abolir a liberdade económica, as outras liberdades não demoram a desaparecer."
 
   "A coexistência do capitalismo com as ditaduras militares não impediu a evolução política para a democracia, como foi o caso de Portugal, Espanha, Argentina e Brasil. Porque o capitalismo não pode, duravelmente, coexistir com ditaduras e, ainda menos, com regimes totalitários....Porque a liberdade é contagiosa: instaurada em primeiro lugar em matéria económica espalhar-se-á e estender-se-á a toda a vida política e social."
 
   "O adversário de uma verdadeira liberdade é um desejo excessivo de segurança (La Fontaine, Le Loup et Le Chien). É a isto que poderemos chamar a ilusão da segurança....perante a evolução rápida da nossa sociedade, muitas pessoas - aliás em todos os meios; gostariam de ser mais protegidas. Porque a família, no sentido amplo, deixou de ser uma célula tutelar. Na sociedade tradicional, o indivíduo em dificuldades ter-se-ia voltado para ela; dirige, a partir de agora, ao Estado os seus pedidos, sob a forma de exigências."
 
   "Abraham Lincoln, que acabava de ser eleito Presidente dos Estados Unidos, em 1860, declarava: "não podeis instaurar a prosperidade desencorajando a poupança..., auxiliar o pobre arruinando o rico..., forjar o caracter e a coragem dissuadindo iniciativa e independência..., ajudar os homens fazendo por eles o que poderiam e deveriam fazer eles mesmos". Como isto continua a ser atual!"
 
   "No fundo dos grande êxitos económicos, encontra-se sempre outra coisa: aquilo a que se deve chamar - nem que o termo esteja fora de moda - valores morais. O caso do Japão ilustra-o de maneira brilhante: neste país, tanto como - se não for mais - a procura do lucro, contam o sentido da lealdade para com o grupo, do dever e do espírito cívico. A "mão invisível" que guia este povo não é animada apenas pelo interesse pessoal. Até mesmo nos Estados Unidos, apesar de num grau menor, pôde observar-se que o liberalismo de Reagan se apoiou no fundamentalismo dos protestantes evangélicos e - não evidentemente por identidade, mas por convergência - no apoio dos católicos e dos judeus sionistas; tudo constituindo uma espécie de "direita" conservadora."
 
   "O Liberalismo não traça os planos de uma sociedade futura; e menos ainda os de um mundo ideal."
 
     "O Liberalismo não pode oferecer senão a utilização e a prática da Liberdade. Isto é pouco, e é tudo. Assim é por essência pluralista. Para ele, o futuro será aquilo que os homens, se forem livres, quiserem; mas pelo menos, tê-lo-ão querido dispondo assim do que tantos outros regimes lho recusariam: a escolha do seu destino. "
 
   "Desconfiamos daqueles que entendem tornar as pessoas felizes, nem que fosse contra sua vontade."
 
   "Porque a liberdade é, apesar de muitos equívocos - para além de tantos egoísmos com que acontece esbarrarmos - um dos mais belos ideais pelos quais bate o coração dos homens."
 
Também acho!

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