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domingo, 1 de maio de 2016

Falar de menos

 
The Piano Lesson, Pierre Auguste Renoir
 
   Cristina Casalinho, a atual responsável pela gestão da dívida pública, numa palestra realizada algures, segundo noticiou a comunicação social, diagnosticou forte défice cultural entre os portugueses, trabalhadores e empresários, razão da pasmaceira económica em que o país se encontra. Confrontada com a permanente necessidade de recurso à emissão de dívida para financiamento da voraz administração pública e do estado social, Casalinho entende que os trabalhadores devem fazer-se à vida em terras que não as suas e que os empresários devem vender as suas empresas e comprar outras mais rentáveis com mais frequência. Presume que daí adviriam recursos que reduziriam a cavalgada do endividamento do país.
 
   Na verdade mais não faz que exprimir uma ideia que vem fazendo caminho, propulsionada, sobretudo, por políticos, altos funcionários públicos e "intelectuais"; universitários, ou gente "da cultura". Lembro por exemplo Passos Coelho ao desdramatizar a emigração e um sociólogo, em plena TV a explicar a importância da mobilidade laboral, entre outros casos. Sobretudo  recordo os numerosos atos condicionadores do acesso ao trabalho e à atividade empresarial, promovidos pelos sucessivos governos tentando induzir essas dinâmicas laborais e empresariais, mas, paradoxalmente, destruindo as economias locais, produzindo exclusão profissional e social, fomentando a concentração económica e acentuando as assimetrias regionais.
 
   Repare-se que, a Casalinho, não preocupa a felicidade de cada um, mas tão somente as necessidades de financiamento dessa máquina incompetente e trituradora dos recursos populares que constitui o Estado, de que faz parte; a sua própria felicidade, no fundo. Poderia, por exemplo, admitir, que muitas pessoas são felizes nas suas terras, junto da sua família e amigos e, sobretudo, que têm o direito de escolher o seu destino livremente, sem tutelas de funcionários abastados. Poderia, por exemplo, considerar que a necessidade de repovoamento do interior implica precisamente o contrário e propor políticas públicas nesse sentido. Poderia, por exemplo, considerar, que a falência eminente do sistema de proteção social, nomeadamente, do sistema de saúde e de segurança social, aconselha o regresso ao ancestral dispositivo familiar, hoje em decadência, incompatível com o nomadismo laboral indutor de solidão e desproteção a longo prazo. Poderia até supor que a melhor forma de prevenir a  "tão perniciosa emissão de dióxido de carbono" e o alegado aquecimento global, consiste, precisamente, no desenvolvimento das economias locais e na eficiência, em vez de no crescimento  económico perpétuo. Enfim, deveria ponderar que as necessidades de financiamento público seriam bem menores se houvesse menos corrupção e maior eficiência na alocação dos dinheiros públicos por parte dos mandatários do Povo. Deveria, sim, sensibilizar governantes e responsáveis partidários a adotarem políticas e posturas públicas que possibilitem a redução dos custos de financiamento. Isto é que é da sua competência. 
 
   Casalinho não prestou atenção à realidade, que consiste, precisamente, no inverso do que diagnosticou; a macrocefalia das maiores cidades Lisboa e Porto e o definhamento das cidades do interior assim o testemunham, tal como a emigração maciça que se tem verificado nos últimos anos , sobretudo, para os países do norte da europa.
 
  Também me parece que há um problema cultural crescente entre os portugueses e que consiste na decadência moral induzida pela ideologia prevalecente, na promoção da passividade geradora de dependência e paternalismo, tão necessárias à captura do eleitorado pelos partidos dominantes. Em suma e numa palavra; Respeito! Respeito pelos outros é o défice crónico cultural dos portugueses, salvo as exceções, evidentemente. Promove-se uma cultura de egoísmo crescente e pratica-se uma política de repressão para compensação dos seus nefastos efeitos. Tenta-se corrigir um erro com outro ainda maior!
 
   Cristina Casalinho, pretendendo, porventura, agradar aos que a mantêm no cargo, evidenciou a maior e mais grave distorção caracterizadora das sociedades atuais e que consiste na inversão das funções dos Estados; em vez de servirem os povos exigem ser servidos por eles. Uma realidade que deveria mobilizar as massas na sua correção.

   Se, como alguns dizem, militam na administração pública os profissionais mais qualificados, razão dos mais elevados salários que nela auferem face aos correspondentes da sociedade civil e se acredita no que diz, por favor, dê-nos ula lição de cidadania e responsabilidade cívica; convide os seus colegas a dispensar o conforto dos privilégios do Estado e, com eles, venha para o setor privado fundar, sucessivamente, empresas de alto valor acrescentado e elevados salários. E não pense que faz algo inédito; felizmente, ainda há quem prefira a incerteza da luta diária no setor privado pela satisfação do exercício de Liberdade que tal representa. São esses afinal que têm suportado economicamente todos os desmandos públicos e  de promiscuidade política que conduziram o país, por três vezes desde 74, ao estado de pré-falência.
 
...vai mal! 

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