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domingo, 17 de abril de 2016

Panamá Papers

   (Claude Monet Painting in his Garden, Auguste Renoir)
 
   Do charivari que por aí vai a propósito dos "Panamá Papers", a novidade reside apenas na descoberta de algumas "carecas"; gente da economia subterrânea, hipócritas do espetro governativo, elites nobilitadas e gente anónima. Tudo o resto já sabíamos, desde há muito.
 
   Desta mega operação fica desde já justificado o descalabro económico dos países afetados , como Portugal, libertando os responsáveis políticos do odioso da bancarrota. Afinal não é possível ter sucesso com tamanha conspiração!
 
   Vamos por partes:
 
   As sociedades Off-shore resultam de um compromisso intergovernamental e constituem um instrumento de desenvolvimento de zonas geográficas de fraco potencial económico, incentivando fiscalmente a atração de empresas. Ou seja, perante a debilidade de algumas regiões, os Estados abdicam de parte da sua receita fiscal como incentivo para o desenvolvimento destas, atenuando os seus esforços de investimento direto e, simultaneamente, melhorando a autonomia económica daquelas. Qual o mal disto? Nenhum!
 
   Por outro lado, os honrados cidadãos têm o direito de proteger o seu património da ilimitada voracidade dos Estados, incapazes de controlar os seus défices, resultantes da captura dos aparelhos públicos pelas corporações e clientelas partidárias e da demagogia política característica das democracias subjugadas pelos partidos políticos em detrimento do Estado.
 
   Outra coisa, censurável, é serem utilizadas para esconder património ilícito, resultante da corrupção e tráfico diverso, descapitalizando as economias e desestabilizando as sociedades com práticas degradantes da integridade humana.
 
   Ora, não podemos ignorar, por exemplo em Portugal, a persistente incapacidade política de penalização do enriquecimento ilícito, denunciando uma cumplicidade panpartidária, que sugere má consciência. Ou seja; apesar da retórica, não há nos Estados, efetiva vontade de combate ao crime económico, a não ser que tal possa servir de bode expiatório da incompetência acumulada. Desde que ouvi, há muitos anos, do honrado Coronel Costa Brás, Alto Comissário Contra a Corrupção, a justificação para o seu pedido de demissão, que perdi as ilusões na ética política e na inviolabilidade da integridade da Justiça.
 
   Tenhamos em conta porém que, na sequência do descalabro económico-financeiro dos Estados, assistimos, nos anos recentes na União Europeia, provavelmente, ao maior roubo legal daqueles aos seus cidadãos, causado pela imposição pelo Banco Central Europeu, de taxas de juro historicamente baixas, com o propósito de proporcionar o refinanciamento das astronómicas e compulsivas dívidas públicas, destruindo projetos de vida sustentados no trabalho, sobriedade e renúncia, propiciadores de rendimentos patrimoniais dos que deles necessitam por se situarem fora da esfera dos privilégios públicos. Este sim, é grande off-shore interno de que não se fala. Exauridos os cofres públicos, destruído o sistema financeiro interno pela promiscuidade político-económica, fortemente condicionado o recurso a financiamento externo, os governos não hesitam em confiscar o rendimento e o património de quem se sacrificou por um futuro que julgava melhor.  
 
   Bem vistas as coisas poucos são os que têm autoridade moral para condenar as off-shore; para acabar com elas, basta que as populações exijam aos seus governos, moderação fiscal, parcimónia e competência nos gastos públicos, combate ao nepotismo e à corrupção, fim do financiamento público aos partidos e valorização de quem trabalha e poupa.
 
Je suis anti-hypocrites 

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