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sábado, 17 de setembro de 2022

Um Pouco de História (X)

 

                                                               A República Romana


-Alea Jacta est! Desfeito o Triunvirato - Marco Crasso suicidara-se em Carra e tinham-se extinto os laços familiares entre César e Pompeu -, a guerra civil era inevitável. César, o jovem estroina que tinha uma ideia para a República, distinguira-se brilhantemente em Espanha e na Gália e ameaçava o poder de Pompeu, senhor de Roma. Num turbilhão de sentimentos César, com Quartel-General em Ravena, decidiu atravessar o pequeno rio Rubicão com as suas nove legiões, e ao fazê-lo, sabia que não haveria retrocesso; os dados estavam lançados.

   A entrada em Arímino surpreendeu os habitantes; os soldados entraram desarmados na cidade e o saque fora interdito. César, magnânimo, sorridente, incorporou os soldados prisioneiros e deixou os oficiais inimigos escolherem o seu destino. Enquanto Pompeu tinha declarado que quem não fosse por ele era contra ele, César fez saber que quem não fosse contra ele era por ele. Desta forma sagaz tranquilizava os cidadãos mostrando-se disponível para acolher a todos.

   Por César estava a Itália superior, os transpadanos a quem atribuíra o foro romano, e a plebe da capital. Por Pompeu, o homem sério, o homem da ordem, rei na metrópole que beneficiava dos recursos da República, estava todo o centro e sul de Itália, bem como a classe média e senadores, receosa do regresso aos tempos de Mário, Sila e Cina; dispunha de dez legiões, duas das quais, de transpadanos, cedidas anteriormente por César, ameaçavam a homogeneidade das tropas.

   Optou César por marchar sobre Lucéria, onde acampavam as tropas de Pompeu, em vez de ocupar Roma evacuada. Abertas negociações de paz exigiu o desarmamento de Itália e o regresso de Pompeu ao governo da Espanha. Pela sua parte entregaria a Gália à ordem do Senado, licenciaria o exército e candidatar-se-ia ao consulado. César era sincero, preferia fazer a revolução a partir do Senado do que através da guerra. Rejeitaram os opositores exigindo que saísse de Itália. Gorou-se assim a última possibilidade de paz.   

   Perante o avanço dos quarenta mil homens de César pela estrada Popólia, decididos, varrendo tudo pelo caminho, o timorato Pompeu abandonou Itália com os seus vinte e cinco mil homens, a caminho da Macedónia, onde pretendia reorganizar as suas forças e os seus apoiantes; a fina flor de Roma, aristocracia, alta burguesia, doutrinários - Catão e Favónio - toda a sociedade, incluindo o exímio orador Cícero, algo contrafeito.

   A República continuava a partir da Grécia. Apesar das marchas forçadas, César não chegara a tempo de o impedir e não dispunha de um único navio.

   Dois meses bastaram para César dominar toda a Itália sem derramar uma gota de sangue. Porem, não faltando tropas, necessitava de uma frota para garantir o abastecimento de alimentos à península. Os fartos tributos das províncias e a demagogia política conduziram à abolição de impostos, à distribuição dos bens nacionais e ao abandono das terras. A dependência alimentar do exterior era total, bem como o financiamento público. Pompeu contava vergar César pela fome, cortando-lhe os abastecimentos por mar.

   Pairava no espírito de todos outra orgia de sangue como a de Cina. A devassa dos capitães cesaristas fazia temer o pior; o saqueamento de Roma pelos gauleses. César porém revelou um comportamento oposto conquistando a simpatia da maioria pacífica da população; atendia todas as reclamações, era justo e bom, não confiscava bens e restituiu aos respetivos donos os que encontrara no acampamento de Brundísio. Para gerir a despesa corrente pedia emprestado aos amigos. Deste modo, os senadores que pensavam emigrar acabaram por desistir e aderir ao projeto de César.

   Tendo entrado em Roma em 48 a.C., falhando a investidura pelo Senado - sem a eloquência de Cícero não conseguiu demover a maioria -, César investiu-se a si próprio -gesto repetido por Napoleão Bonaparte em 1804. Entregou a prefeitura a Marco Emílio Lépido, distribuiu os governos das províncias e preparou a continuação da guerra.

   Sem dinheiro, perante a omissão do Senado, dirigiu-se com um grupo de soldados ao Templo de Saturno - onde se guardava o tesouro público - e arrombou a porta a machado. Perante a oposição do Tribuno Metelo, fuzilando-o com o olhar disse-lhe César: - E repara que me é mais fácil matar-te que ameaçar-te. Se dúvidas houvesse, foram dissipadas naquele momento; Roma tinha novo dono.

(Continua)

Créditos: História da República Romana - Oliveira Martins


De Corfínio a Brundísio - trajeto das forças de Júlio César na II Guerra Civil Romana

Peniche, 17 de Setembro de 2022

António Barreto

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