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domingo, 21 de junho de 2020

Olhando para Dentro (VI)

 
Olhando Para Dentro 
1930-1960 
(Bruno Cardoso Reis)
 
(Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - notas)
  
Salazar e um grande Portugal: das colónias ao ultramar sem mudar nada de essencial:
   Dada a dimensão do Império Colonial Português - o terceiro maior à época (em extensão) -, as colónias desempenharam um papel fulcral na consolidação do poder, fortemente nacionalista, de Salazar.
   As crises de 1930 e 1961, - na primeira, Salazar foi acusado de falta de empenho na preservação das colónias e na segunda, de as não querer alienar -, tendo feito abanar o regime, acabaram por reforçá-lo.
   Salazar, acusado em 1930 de querer “sacrificar o império no altar da austeridade” - em consequência das declarações de Quirino de Jesus - seu mentor nos primeiros anos de vida política -, nas quais referiu o prejuízo económico das possessões ultramarinas -, empenhou-se no saneamento financeiro, na centralização do poder e na “nacionalização” das colónias.
   Durante os cerca de seis meses de 1930, em que foi ministro interino das colónias, Salazar infletiu a política seguida na Primeira República, caracterizada por uma crescente autonomia dos governadores coloniais então designados por altos-comissários.
   Aos colonos foi negada qualquer autonomia e impostas culturas obrigatórias. Por outro lado, foram-lhes garantidas quotas de mercado na Metrópole e trabalho forçado nas suas explorações.
   À crescente pressão internacional, promovida pela Sociedade das Nações, pela Organização Internacional do Trabalho e, mais tarde, pela Organização das Nações Unidas, respondeu Salazar com alterações pontuais e uma tenaz diplomacia de resistência, através de Armindo Monteiro, seu primeiro ministro das colónias.
   Depois de 1945, reagindo à mudança de contexto externo, Salazar consentiu a Marcelo Caetano - seu segundo ministro das colónias - uma reforma descentralizadora, que, afinal, se restringiu a aspetos menores, nunca pondo em causa o centralismo da Metrópole. Criaram-se os Conselhos Legislativos, integrando, numa primeira fase, colonos, e, mais tarde, negros e mestiços, corporizando o multirracialismo doutrinário.
   Porém, o Código do Indigenato de 1928 mantinha excluída da cidadania uma grande parte da população (note-se que, Marcello Caetano, justificava esse Código com a necessidade de proteger os indígenas do interior do choque cultural das cidades - ver em Depoimento).
   Apesar de alguma preocupação de Salazar com os excessos do trabalho forçado nas Colónias, a dissidência de Henrique Galvão decorreu da passividade daquele ante as conclusões do seu relatório enquanto Inspetor, que culminou com violenta denúncia numa reunião secreta (?) da União Nacional (tal marcaria o início do fim do estado de graça de Galvão junto de Salazar, apesar deste ter discordado do afastamento daquele da UN).
   (O desenvolvimento desta oposição culminou com o sequestro do Santa Maria, uma espécie introdução à tentativa de golpe de Botelho Moniz e do início da guerra em Angola, em 1961).
   De assinalar que, na reforma de 1951, retomando o tema levantado em 1930 por altura do Ato Colonial, se alterou a terminologia das “possessões” ultramarinas, tendo-se substituído a designação de Império por Ultramar e de Colónias por Províncias.
   (Tal decorreu de uma resolução da ONU exigindo que os seus associados declarassem formalmente a existência ou não de “Povos não autónomos” nos seus territórios, a fim de, em caso afirmativo, implementarem programas de desenvolvimento das respetivas populações com garantia de autodeterminação. A alteração constitucional efetuada por Salazar permitiu-lhe sustentar, juridicamente, a tese da unidade política e administrativa do país e consequente inexistência de “povos não autónomos”. Só depois de 1945, a ONU, devido à teimosia de Salazar avançar com reformas em África, passou a considerar as “possessões” portuguesas como Colónias alvo de exigências específicas. Até aí considerava o caso português diferente dos restantes. E era.)
   Marcello Caetano e Sarmento Rodrigues implementaram um conjunto de reformas de cariz tecnocrático nas Províncias Ultramarinas com o propósito de fomentar o seu desenvolvimento económico. O fomento Ultramarino subiu à categoria de Subsecretaria de Estado, foi criado o Instituto superior Colonial e múltiplos organismos técnicos especializados desde a medicina à agricultura.
   Porém, nenhuma reforma descentralizadora foi introduzida. Pelo contrário, em 1959, (ano da Revolta da Sé e um ano após o caso da candidatura presidencial de Humberto Delgado), prevendo as revoltas nacionalistas, foi criado o Gabinete de Negócios Políticos com a missão de coordenar as ações dos Ministérios da Defesa, dos Negócios Estrangeiros e do Ultramar, na defesa das Províncias Ultramarinas.
   As crescentes críticas internacionais, lideradas pela ONU, encorajaram as insurreições nacionalistas em Angola no ano de 1961; levantamento contra a cultura forçada do algodão no Leste ataque às prisões de Luanda (São Paulo) em Fevereiro e insurreição armada no norte, em Março (ataque terrorista da UPA - União dos Povos de Angola - que vitimou cerca de 1500 pessoas entre brancos e negros). 
   Adriano Moreira, Ministro do Ultramar em 1961, procurou implementar a sua política de “autonomia progressiva e irreversível”, determinando o fim do trabalho forçado, das culturas obrigatórias e do Estatuto do Indigenato. Procurava-se, assim, eliminar as fontes de descontentamento interno e esvaziar os protestos externos eliminando os apoios aos movimentos independentistas.
   A ser levado à prática, o projeto de Adriano Moreira enfraqueceria o poder de Salazar e, com a independência das Províncias Ultramarinas, conduziria Portugal à irrelevância internacional. Contrariamente a outros países colonizadores, como a Grã-Bretanha e França, Portugal não dispunha de meios que lhe permitissem praticar o neocolonialismo (o que ainda ocorre em muitas ex-colónias).
   Finalmente, como reconheceu Almeida Santos, em 1961 Salazar tinha o povo e alguns dos seus mais prestigiados adversários do seu lado. A descolonização significaria o seu suicídio político (engraçado este raciocínio, focado no poder de Salazar e não na legitimação desse poder pela vontade do povo na questão colonial) e contrariaria a sua política nacionalista.
 
                                                        Henrique Galvão
 
 
Adriano Moreira
 
Peniche, 6 de Junho de 2020
António Barreto

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