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terça-feira, 9 de junho de 2020

Olhando Para Dentro (ii)


Olhando Para Dentro
1930-1960
(Bruno Cardoso Reis)
(Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - notas)

Salazar reforça poder:

O contexto da Guerra Civil de Espanha alimentou a ideia da necessidade de combater uma pretensa “quinta coluna”, comunista e iberista, a que a “Revolta dos Marinheiros”, involuntariamente, deu credibilidade. Foi então criado o campo de concentração do Tarrafal e as organizações fascizantes, Legião Portuguesa e Mocidade Portuguesa. Por outro lado, a insegurança e destruição recorrentes desde a implantação da República, resultou na convicção abrangente da necessidade de um homem forte num Estado, livre dos velhos partidos. Humberto Delgado testemunhou isso mesmo ao afirmar, após rotura com o regime, que, nesse período, havia “razões de sobra” para apoiar o Estado Novo a impor alguma ordem face às constantes revoltas.

Atentados contra Salazar:

   Fracassados os golpes, decorria da própria doutrina de “Homem Providencial” do Estado Novo, da queda da Monarquia e da queda da República Nova em dezembro de 1918 com o assassínio de Sidónio Pais, que a morte de Salazar conduziria à queda do regime (como, efetivamente veio a acontecer em 68/74).

    O atentado mais mediático ocorreu em 4 de Julho de 1937, na Rua Barbosa du Bocage em Lisboa, quando Salazar se dirigia à capela particular do seu amigo Josué Trocado para assistir à missa. Falhou. A inépcia dos operacionais fez explodir a bomba nas proximidades do local onde se encontrava salazar abrindo uma cratera e cobrindo-lhe o fato de pó sem o atingir.

   Este atentado poi perpetrado por anarquistas, entre os quais se destacou Emídio Santana, anarcossindicalista, Secretário-Geral do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos, filiado na Confederação Geral do Trabalho, Secretário-geral das Juventudes Sindicalistas em 1925 e 1926. Preso no Reino Unido, foi entregue à PIDE pela polícia inglesa e condenado a 8 anos de prisão e 12 de deportação. Acabou por ser preso mais 4 vezes e, finalmente, libertado em 23 de Maio de 1953. Posteriormente, participou no processo político antes e depois do 25 de abril. Nem o Partido Comunista nem os políticos do Reviralho defendiam o assassinato de Salazar. Alguns comunistas terão participado a título individual. (A estratégia do PCP, que lhe valeu sérias dissidências e conflitos - com a FAP (Frente de Ação Popular) de João Pulido Valente, Manuel Serra (que viria a fundar o MES) e Humberto Delgado -, passava pela doutrinação, sistemática e paciente, da população e não pelo confronto armado; mais tarde, na fase de Caetano, viria a criar a Ação Revolucionária Armada (ARA), que protagonizou algumas ações de sabotagem).

   O efeito deste atentado falhado, mais uma vez, resultou no reforço dos poderes de Salazar, que beneficiou da condição de vítima e do estatuto de protegido da “Divina Providência”. Em consequência aquele sentiu legitimidade para aumentar a repressão política através da Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE), antecessora da Polícia Internacional de defesa do Estado (PIDE). Este atentado acentuou, em Salazar, a necessidade de se manter a recato na sua nova residência oficial de São Bento.

Ameaça espanhola:

Numa época em que a Grã-Bretanha, enfraquecida, enfrentava ameaças em múltiplas frentes, o derrube do Governo de Salazar a partir do exterior foi uma esperança das oposições. Essa esperança veio da 2ª República espanhola, constituída em 1931, em especial do seu 2º e último Presidente, Manuel Azaña, acolhendo, encorajando e fornecendo armas aos opositores de Salazar. A aposta do lado espanhol no derrube deste visava aumentar a segurança do regime e, eventualmente, constituir a federação ibérica. Durante a Guerra Civil de Espanha, de 1936 a 1939, muitos daqueles opositores empenharam-se ativamente ao lado dos republicanos, esperançados em que a vitória destes acarretasse o fim do regime de Salazar. Este, por seu lado, apoiou, tanto quanto pôde, o lado contrário.   
 
 
 
Peniche, 6 de Junho de 2020
António Barreto 

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