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sábado, 3 de novembro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas P8)


O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais

  
O apelo à população rural, sobretudo das regiões de pequena e média propriedade, é uma constante dos partidos de direita. E a verdade é que esse apelo encontra resposta. Ora isto coloca um problema…que de resto se arrasta há muito tempo sem solução: a questão das relações da cidade com o campo. …. As cidades tornam-se o cenário artificial de um país que continua a ser predominantemente rural. …. E isto coloca de novo o problema da incapacidade dinâmica da burguesia portuguesa - que nunca leva à prática uma reforma agrária, que não faz a mecanização da agricultura e muito menos a sua industrialização. …trata-se de facto, nestes casos, de uma reação natural a um desenvolvimento, que de desenvolvimento tem apenas o discurso, a ideologia. ….eu preferiria, relativamente ao campo, a classificação de “indicador de desenvolvimento”. (JAS)

   É histórico; o conservadorismo da população rural nas regiões de minifúndio deve-se ao enraizamento do sentido de propriedade e também à profunda cultura cristã. Por outro lado, a população rural das regiões de latifúndio é mais acessível à doutrina progressista seja pelo regime de propriedade - marcada pelo assalariado -, seja pela heterogeneidade religiosa da população durante o processo do povoamento.

   Já o desequilíbrio persistente da relação de forças entre “a cidade e o campo” tem origem na significativa perda de relevância económica do setor agrícola, em clara decadência numa economia em transição, mas também devido à constituição e funcionamento das estruturas partidárias, que, claramente, subalterniza as regiões do interior, e constitui, em si mesmo, um dos maiores paradoxos do atual regime político.

   A falta de industrialização agrícola em Portugal terá muitas causas, como a crónica falta de capital - que caracteriza toda a economia nacional, desde sempre, agravada com a expulsão dos Cristãos-Novos -, mas, a que me parece decisiva e consiste na inviabilização económica da propriedade rural na sequência do fim dos morgadios e na alteração do regime de propriedade, que ocorreu no século XIX.

…Em contrapartida, entre o funcionalismo público, e contrariamente às expectativas, foi a linha PCP que saiu vencedora das primeiras eleições realizadas com vista à formação do sindicato daquele setor….(VJS)

   E tem sido assim até aos dias de hoje, para desgraça de Portugal; à “boa” tradição comunista, o PCP, através do controlo que exerce sobre os sindicatos da função pública via Intersindical, detém um poder de influência na governação muito superior à sua representatividade eleitoral. Além da evidente distorção democrática, o PCP, usando das prerrogativas que a lei lhe confere, condiciona setores vitais da administração pública alimentando conflitos sociais e degradando a competitividade económica geral sem contemplações, em nome dos interesses do “novo proletariado”, os “idiotas úteis” da modernidade.

 
…Ora, com reveladora frequência, verificamos que quanto mais acentuada é a má consciência pequeno-burguesa desses dirigentes mais eles ostentam uma “autossuficiência” de carácter já patológico, um exclusivismo, um sectarismo perfeitamente doentios, uma obsessão patética de serem os “pais ideológicos” da classe operária….. Antagónica à concepção leninista era, afinal, a concepção marxista, segundo a qual a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores. (VJS)

   Apercebi-me disso mesmo ao constatar a origem pequeno-burguesa da generalidade dos protagonistas das esquerdas em Portugal, desde o 25 de Abril. O caso mais flagrante da atualidade é o dos ativistas do Bloco de Esquerda, mas não só. Operários e camponeses, em geral o povo simples, não tem disponibilidade para o “lero-lero” político. Mas não se trata apenas de eventual “má-consciência de classe”, será mais uma necessidade compulsiva de protagonismo e de aproximação ao poder, ou mesmo do seu exercício. Daí a “perigosidade” dos “intelectuais” na evolução das sociedades; a outra face da moeda.(AB)

Foto: Peniche, Marginal Norte
Peniche 3 de Novembro de 2018
António J. R. Barreto

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