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domingo, 25 de setembro de 2016

O "crime" da acumulação

Formas de acumular riqueza há muitas, nem todas lícitas, nem todas justas. Ladrões há muitos e dos mais variados tipos. Chicos espertos também. Destes, são candidatos a ladrões os que atribuem proveniência criminosa ou injusta os "tarecos" que alguns dos seus semelhantes têm a "desfaçatez" de possuir. Talvez o exagero resulte da inutilidade das suas vidas e da suprema ânsia de protagonismo, à sombra do erário familiar ou do Estado. A falta de vida e, quem sabe, um certo complexo de culpa subconsciente, leva-os a assumir velhas causas que lhes garantam palco, influência e uma réstia de autoestima induzida pelos seus "pobrezinhos", como os definia António Alçada Batista.
 
Eis alguns exemplos da "execrável" prática de acumulação que agora exigem confiscar:
 
Ei-los em flagrante, de volta do cesto do pão! E o magano com aquela samarra chique de Chaves? Hum...têm cara de potenciais perigosos proprietários!
 
Hum...estas, cá para mim, andavam a tirar o mestrado de acumulação...de água!
 
Olhem esta!..., já está no bairro chique de Saint Dennis a estudar a  nobre ciência da acumulação na universidade de Bidonville que se vê lá atrás! E está a rir-se! Não era uma escola boa para os nossos filhos e netos?
 
Aqui vão eles, a pé, pelos pirinéus a acumular dias de marcha...bandidos! Nas barbas da Pide e da Guarda Civil! É preciso ser ganancioso!
 
 
 
Olhem-me este manjar!, a bem dizer, estes maganos já tinham acumulado!, É preciso ter lata! em plenos Pirinéus, uma sardinha para cada um?, ou será um entrecosto?, um luxo!
 

Um, dois, três, quatro, palacetes de acumuladores...oferecidos...Isto só visto!
 
Estão a ver? eles em bandos em busca de acumulação?, vão pelos caminhos enlameados junto às barracas para não serem vistos! Aposto que construíram umas sumptuosas moradias e uns belos centros de exploração de trabalhadores!
 
Olhem-me para estes a acumularem água, lá pelas franças...isto da acumulação é genético...
 
Ena pá!, todos acumulados no jardim da bela mansão...
 
Agora o mais grave; estão a ver aqueles ferros todos? É ou não é acumulação? E de capacete!
 
 
À parte o registo irónico, apesar das fotos comoventes, foi assim que muitos ganharam o dinheirinho com que compraram as suas casinhas e montaram os seus negócios na sua terra natal que agora os "amigos do povo" querem coletivizar pela via tributária. Fugiram da miséria e, enganados pelas falsas juras de liberdade, voltaram a ela para serem espoliados, mais uma vez. Andei por lá. Estive com eles. Sei como viviam; com temperaturas superiores a  vinte graus célsius negativos, apesar do subsídio de intempérie, iam na mesma trabalhar para as obras. Jerónimo, de Guimarães, carpinteiro, com seu fato de zuarte roto andava pelos telhados "a acumular" o trabalho que lhe renderia mais uns cobres. António, de painel de quatro a cinco metros às costas, sozinho, em plena chuva, ia forrando as paredes interiores., da casa ainda sem telhado. José o aprendiz que queria estudar, punha dois sacos de cola de 25 kg cada às costas e subia para o 3º piso para aumentar a produtividade. Rodrigo ficava com as mãos hirtas ao juntar as ripas de madeira para o forro do sótão. Lá, o sol não aquece, faziam-se fogueiras em bidons, para aquecer as mãos. Nas barracas de champigny onde, sem aquecimento, suportavam a inclemência do inverno, recuperavam das canseiras e ignomínia do trabalho clandestino nas obras, normalmente de exteriores. Mais tarde, tornaram-se caseiros, vivendo em anexos, tratando dos quintais dos senhorios nas horas livres. Alguns eram especialistas do isolamento de interiores, o placouplatre, eletricistas, canalizadores, mecânicos. Outros, começavam a ocupar cargos de chefia nas grandes construtoras de automóveis como a Renault. Assim Juntaram os seus dinheiros, construíram as suas casas em Portugal, puseram os filhos a estudar, foram-se integrando na sociedade francesa graças à tradicional tolerância das autoridades locais e à sua necessidade de trabalhadores, conquistaram o seu espaço e são respeitados pela "sociedade das Luzes". Muitos deles, ou os seus descendentes, vêm agora ameaçado o fruto desta epopeia, pelos extremistas, hipocritamente autointitulados defensores dos "trabalhadores", quando, afinal, não toleram o seu sucesso. Este é um dos muitos casos de acumulação por sobretrabalho, que, felizmente, graças ao progresso capitalista e pressão dos sindicatos, reverteu parcialmente para o trabalhador, ao contrário da sociedade pré-industrial e industrial, dos séculos XVII, XVII e XIX, em que revertia integralmente para os senhorios, nobreza e clero e, ou para a alta burguesia, mercadores ou banqueiros, restando ao trabalhador camponês-artesão ou operário, o suficiente para sobreviver e executar as tarefas que lhe atribuíam. O pobre, enquanto tal, suscita os favores dos "progressistas" mas torna-se seu alvo, logo que se emancipa tornando-se livre de dependência de terceiros; estado, igreja ou demagogos paternalistas, que, afinal, vivem à sua custa.
 
As fotos são de Gerald Blancourt, um haitiano parisiense que se comoveu com a epopeia dos portugueses em frança e foi ao seu encontro, testemunhando-a extensiva e profundamente. Eis o link do seu magnífico blogue. Obrigado Gerald! Um grande, grande abraço de gratidão.
 

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