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domingo, 11 de setembro de 2016

Do Capitalismo (VII)

 
Ferdinand Hodler , Disappointed Soul 1889

Acentua-se a denúncia das desigualdades sociais identificando-se a propriedade como a sua principal causa. Enunciam-se conceitos fundadores das sociedades modernas que acabarão com a estrutura feudal e com os absolutismos.  

Rosseau, encarregado da secção de Economia Política da Enciclopédia resume brutalmente o pacto social prevalecente asseverando que o rico permite ao pobre a honra de o servir exigindo em troca o que lhe resta pelo trabalho de o dirigir. Mais uma vez paradoxal, Rosseau abomina a sociedade civil associada à propriedade mas não preconiza a abolição desta, considerando-a o mais sagrado de todos os direitos dos cidadãos. Contudo considera necessário limitar a acumulação, pela via fiscal, não retirando a riqueza aos seus possuidores, mas tirando a todos os meios de a acumular; nem construindo hospitais para os pobres mas livrando os cidadãos de se tornarem pobres. 

O abade Mably atribui à propriedade a causa de todos os infortúnios da humanidade defendendo a propriedade coletiva onde o Estado distribui a cada um os bens de que necessita, à semelhança de Esparta e dos índios paraguaios. 

Já Diderot, se por um lado reprova com veemência a brutal desigualdade, considera a propriedade privada necessária à proteção do indivíduo. 

Helvétius, na linha de Diderot, condenando o sobretrabalho de muitos face ao excesso de bens supérfluos de muito poucos, instiga o governo a atenuar essas diferenças pela redistribuição e garantia de acesso de todos à propriedade. 

D’Holbach, preconizando a substituição da moral religiosa pela natural incentiva o governo a tributar o luxo para dar ao pobre a possibilidade de viver do seu trabalho e impedir a acumulação de riqueza em poucas mãos. Propõe oficinas para os pobres e a coletivização dos terrenos incultos para dar aos que os pudessem cultivar. 

Raynal, na mesma linha de revolta contra as brutais desigualdades, proferindo que por toda a parte o rico explora o pobre, preconiza a supressão da herança incitando ao enforcamento dos ricos como forma de recuperação da dignidade. 

Linguet, autor de várias obras, considerando a propriedade uma usurpação e a origem da corrupção das almas, tece considerações curiosas acerca dos trabalhadores do seu tempo considerando-os infinitamente mais miseráveis, apesar de livres, que os seus pais enquanto servos e escravos; a miséria redu-los a ajoelharem-se diante do rico para que este os autorize a enriquecê-lo. Realista, afirmava não ser possível garantir a felicidade de todas as pessoas do reino. Defendeu a necessidade de representação dos pobres na assembleia destinada a realizar a reforma geral política da França. 

A outra face do capitalismo, ainda embrionário, surgia pelas vozes de Turgot e dos fisiocratas em França e de Adam Smith em Inglaterra, defendendo a necessidade de acumulação do capital.

PS: Rosseau, que não conheceu sua mãe - morreu pouco depois do parto - e que pouco conviveu com seu pai - calvinista -, viveu em concubinato; primeiro com uma mulher abastada, que abandonou após a ruína, trocando-a por outra com quem não casaria e de quem teve cinco filhos que entregou ao orfanato os quais nunca chegou a conhecer. Nas suas cartas a madame Francueil  explica os seus motivos e, já no ocaso da vida,  suplica-lhe ajuda para a mãe dos seus filhos.

(Síntese livre de História do Capitalismo, de Michel Beaud)

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