A Propósito de Imigração
Deve haver um fundo de verdade na ideia do quinto império de que falaram o Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Algo que nos escapa hoje - pelo menos a mim -, que os levou a acreditar num talento natural dos Portugueses para promover a concórdia entre os povos.
Há, porém, algo que reconheço como verdadeiro, a capacidade excecional dos portugueses se adaptarem a povos de culturas diferentes.
No que me diz respeito, não nego que tenho uma certa satisfação, e até uma pontinha de orgulho, por ver gente que escolhe o nosso país para viver e trabalhar lado a lado connosco. É uma espécie de reconhecimento da nossa humanidade. Para além da vertente económica o enriquecimento cultural consequente, é inegável.
Apesar de a grande maioria dos portugueses pensar da mesma forma, como acredito, uma onda de crispação varre o país estabelecendo-se uma nova fronteira política entre esquerda e direita, com aqueles a defender fronteiras abertas e estes a necessidade de controlo das mesmas.
Grande parte da população tem medo, antes de mais pela dimensão do fenómeno. Cerca de dois milhões de pessoas - por enquanto - excede em muito o que a economia pode comportar. Serão necessárias duas ou três décadas para criar dois milhões de novos postos de trabalho, pelo menos.
Agravamento dos níveis de segurança pública, sobrecarga das estruturas sociais, saúde, educação, transportes, etc., são consequências naturais que suportam o medo transformado em revolta dos nativos, preteridos e sobrecarregados fiscalmente.
Mas a imigração não é toda igual. Se os oriundos das ex-colónias são recebidos com naturalidade e simpatia, muitos deles, frustrados pela miséria atual nos seus próprios países, instigados por agentes políticos internos, exigem ressarcimento pelos danos do colonialismo, ignorando os respetivos benefícios, numa postura de expressiva hostilidade.
Mais sério, porém, é o caso dos rumores que dão conta da presença em território nacional de organizações criminosas multinacionais, como os comandos vermelhos e o primeiro comando da capital, ambos de origem brasileira, ligados ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro. Outras, com origem na Europa de leste e na Ásia dedicam-se à exploração da mendicidade, da prostituição, da imigração clandestina e à lavagem de capitais.
Não menos grave são os receios do radicalismo islâmico, pela facilidade de dissimulação dos respetivos operacionais entre a comunidade muçulmana integrada. s exemplos que nos chegam de fora, Reino Unido, França e outros países,são demasiado preocupantes para serem ignorados.
A leniência dos governos e autoridades associada ao apoio incondicional dos partidos de esquerda aos imigrantes, os casos de discriminação dos portugueses, suscitam nestes fundados receios e especulação acerca dos propósitos não explícitos deste surto migratório.
Ganhou corpo a teoria da substituição das populações. A redução do peso relativo dos conservadores serve os interesses do federalismo europeu. Na frente interna os partidos de esquerda vêm na imigração uma nova causa capaz de lhes proporcionar a relevância política perdida.
Este movimento migratório iniciou-se com a guerra da Síria, cujos contendores, EUA e Rússia, vêm na integração europeia uma ameaça económica e potencialmente militar. Hoje, acredito que esta invasão foi planeada com o propósito de desagregar e enfraquecer a Europa inviabilizando uma reação eficaz à invasão russa da Ucrânia.
O pacto para as migrações, iniciativa do inefável secretário-geral das Nações Unidas, incondicionalmente aceite pela União Europeia e pelo governo de Portugal, exponenciou esta problemática abrindo uma crise de consequências imprevisíveis para as próximas décadas. Crise que, apesar de dramática, não suscita a menor preocupação por parte do Sr Guterres, corresponsável por ela.
A falta de confiança nas democracias alastra entre as populações. O sentimento patriótico ganha força. O conceito de apátrida começa a fazer sentido entre os defensores do caos migratório. Espontaneamente, surgem focos de contestação e revolta, de cariz conservador. Emergem os partidos nacionalistas. Instala-se, por toda a Europa um ambiente de guerra civil. A probabilidade de envolvimento direto dos europeus na guerra da Ucrânia, contra os russos e seus aliados é real. A incerteza e o medo instalam-se.
No que me diz respeito, considero que a imigração económica deve ser condicionada às necessidades do país e à salvaguarda da segurança interna. Os refugiados de guerra ou de catástrofes naturais devem ser acolhidos tantos quanto permitam as capacidades do país, com a condição de repatriamento futuro, sem prejuízo de integração social e económica possíveis. Apesar dos enormes desequilíbrios demográficos, apoio a liberdade de circulação e dupla nacionalidade entre as populações de Portugal e das ex-colónias. O acesso à nacionalidade de cidadãos de outras origem deve ser permitido a quem tenha envolvimento histórico direto ou de ascendentes - jus sanguinis - com Portugal. Os restantes casos - jus solis - devem ser fortemente condicionados à confirmação de algum tipo de afinidade com os portugueses, seja envolvimento social, económico ou outro, reconhecido respeito pela história do país e do seu papel no mundo, e conhecimento da língua e da nossa história.
Se o 25 de abril de 1974 foi um tempo de euforia e esperança de liberdade e progresso económico e social, cinquenta anos passados, o espetro do desaparecimento da nação portuguesa ganha forma face às dinâmicas do federalismo europeu e do globalismo promovido pela ONU. E isso, é algo não aceito.
Tal como a adesão à CEE, o recurso maciço a cidadãos externos é fruto da consciência da falência da terceira república.
Agostinho da Silva
Peniche, 22 de Novembro de 2025
António Barreto
