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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Humberto Delgado; O Mártir Socialista (notas, P10)


Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
  
Falhado o assalto ao quartel de Beja, Humberto Delgado regressa ao Brasil, onde, sob o patrocínio da maçonaria do Rio de Janeiro, foi tentada, infrutiferamente, a reconciliação com Henrique Galvão. Delgado era Grão-Mestre do Grande Oriente Português do Exílio. Galvão não era maçon. Compreende-se assim melhor a “simpatia” dos socialistas portugueses - onde prolifera a maçonaria - por Humberto Delgado, e o ostracismo a que foi votado Henrique Galvão pelos “democratas” de abril.

   Delgado, não só recusaria a reconciliação com Galvão como o procuraria desacreditá-lo junto da comunidade portuguesa - chamando-lhe fiteiro, traidor, ladrão e gangster -chegando mesmo a pedir a sua expulsão do Brasil. Galvão mover-lhe-ia um processo que viria a ser arquivado pela justiça brasileira, sem julgamento.

   Após a saída de Delgado para o norte de África, Galvão, numa carta à sua mulher, Maria de Lurdes, referir-se-lhe-ia nestes termos:

“-….Esse está liquidado de vez e receio bem que venha a acabar muito mal. Deixa atrás de si o espetáculo de um estado patológico de indignidade política e moral que só se explica com casos de loucura.”

   Quando, 14 meses depois teve conhecimento de que os corpos de Humberto Delgado e da sua amante brasileira Arajyr Campos tinham sido encontrados em Vila Nueva D’el Fresno, publicou no ”O Estado de São Paulo”:

   Foram homens do Partido Comunista Português, companheiros ou ex-companheiros do general Delgado, quem planeou e fez executar o assassínio….Para bons comunistas, o facto de o fazerem desaparecer seria, como para qualquer totalitário, a menor das coisas.”

    Diria ainda à mulher:

   Estávamos mal, irremediavelmente mal, mas isso nada tem a ver com o crime, que foi odioso. Os seus erros de louco pagou-os muito caros.”

     Dececionado com a passividade do povo português perante ditadura salazarista e com o fracasso das suas próprias ações revolucionárias, farto de samba e carnaval, Henrique Galvão morreu a 25 de Julho de 1970 - cerca de 32 dias antes de António de Oliveira Salazar -, sozinho, meio louco, na sequência de uma doença degenerativa cerebral que o conduzira a internamento hospitalar, a expensas do jornal brasileiro onde trabalhara, “O Estado de São Paulo” (Salazar ofereceu-se para o pagamento das despesas mas recusou o seu regresso).    

   Mário Soares visitara-o na clínica, em 1970, tendo-lhe oferecido um cigarro e dando-lhe algum alento quanto às possibilidades de recuperação clínica e de regresso a Portugal. Foi ainda Mário Soares, já Presidente da República, que, a título póstumo, o agraciou, a 7 de Novembro de 1991, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Tinha já sido condecorado pelo Estado Novo, em 1934, como Grande Oficial da Ordem de Cristo. Jaz no cemitério dos Prazeres, na mesma rua do jazigo de Nascimento Costa.
 
Foto do paquete Império; um dos "meus" navios.

Peniche, 17 de Fevereiro de 2019
AntónioBarreto

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