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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Humberto Delgado; curiosidades

  
Encontram-se coisas engraçadas nos escritos de Humberto Delgado. Desde logo o elevado nível cultural patenteado e o vocabulário, este, a fazer lembrar o Aquilino. Dá um trabalhão. À parte isso encontram-se algumas preciosidades como estas:
 
Aludindo aos seguidores de Salazar, comparava-os aos comunistas, desta maneira:
 
   "Aconselho-os a instilarem no cérebro a ideia da necessidade de deixarem de ser comunistas, como realmente são, nos métodos, e passo a provar:
   Assim, aplica-se-lhes perfeitamente o dito de Howard Fast no seu livro "O Deus Nu": "Quando estas opiniões se referem a algo que não seja a linha do Partido, estão erradas. Dentro da linha do Partido, o dogma da linguagem sacerdotal é o substituto da linguagem normal do seu país de origem.""
 
Interessante este paralelismo, esta semelhança entre a União Nacional e o PCP.
 
Outro caso é o de Gonçalves Cerejeira, intelectual brilhante, por quem Humberto Delgado nutria enorme respeito, ora vejamos:
 
   Depois de citar partes da célebre carta de D. António Ferreira Gomes a Salazar, diz:
 
   "Gostaria de aflorar a posição de outro alto dignitário, a quem estou agradecido, Sua Eminência o Cardeal Cerejeira, e passando abruptamente a escalão humílimo, dar conta da posição de tantos jovens, entre eles, uma filha minha, noelista, discreta, visitante de um dos bairros da lata de Lisboa, bairros junto dos quais as favelas do Rio engrinaldam em palácios."
 
E mais adiante, a propósito de uma prostituta desesperada à procura de ajuda:
 
   "Ora, o Cardeal, do pouco que conheço da sua personalidade, é um bom. Como candidato que fui à chefatura do Estado, tenho mesmo o prazer de confessar dever-lhe um favor em benefício de uma desgraçada mulher, rameira de profissão, que queria mudar de vida, para o que precisava de apoio mural. Dirigindo-se a um comissário da polícia - claro, dentro da tradição, bem pago e oficial do Exército - obteve como resposta que, quem nasce assim, assim morre, sendo posta na rua! (Ia jurar que o senhor vai à missa, não por ser católico, mas por e para ser polícia).
   Procurou-me então como "o candidato, pai dos pobres", dentro da tendência sebastianista daquele pobre povo sofredor.
   Escrevo ao Cardeal Cerejeira que, em carta rescendendo da mais bela cristandade, me comunicou ir tratar do caso. Esta e outras ocorrências, passando de boca em boca, foram abrindo os olhos ao clero e ao povo."
 
   Curioso este ponto comum de Salazar e Delgado, ambos admiradores de Cerejeira. Por esta altura já Cerejeira e Salazar andavam de candeias às avessas por causa das brutalidades do regime.
 
Em, "A Tirania Portuguesa".
 
Peniche, 16 de Fevereiro de 2019
António Barreto

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