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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Os Pobres (V)

  A Greve de Gouveia

   Em 1902, em Gouveia, rebentou a primeira grande greve. Os trabalhadores paralisaram, exigindo a antiga tabela, o que se traduzia em aumentos salariais da ordem dos 75 % para as mulheres, 44% para os menores e de 70% a 33% para os homens. O salário das mulheres, 80 réis, era inferior ao dos menores, 90 réis, e menos de metade do dos homens, 200 a 300 réis.

   Depois do fracasso do lockout e do recurso aos “amarelos”, perante o vigor da comunidade, os patrões, assustados, pediram a intervenção da tropa. Por seu lado, os operários defendiam-se tornando pública parte da carta que tinham enviado aos patrões: “a nudez das nossas mulheres e filhas é que nos leva a suplicar-lhes que nos haja por bem atender, porque nós não queremos barulhos nem revoluções, mas sim vimos pedir que sejamos atendidos à boa paz, pois só a nossa mesquinha vida e a pobreza das nossas famílias nos obriga a este pedido.” Na sequência de inevitáveis confrontos entre grevistas e “amarelos”, a que se juntou o povo quando o sino tocou a rebate, a tropa disparou sobre a multidão matando dois trabalhadores.

   A indignação espalhou-se por todo o país, pediu-se uma sindicância ao ministro do Reino, acorreram 2000 pessoas ao funeral e Gouveia entrou em pé de guerra. Alguns tecelões acabaram por se dedicar às vindimas no Alto Douro. Hintze Ribeiro, o presidente do Conselho, confessou-se impotente para interceder pela causa dos operários. Inesperadamente, os patrões acabaram por aceder as reivindicações, despedindo, logo depois, 22 operários.  


Silva Porto

Fonte: "Os Pobres" de Maria Filomena Mónica

Peniche, 28 de Março de 2021

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