Da Lusitânia a Portugal
De Diogo Freitas do Amaral
Bertrand Editora
Notas IX (sobre a obra)
A Grande Crise Nacional
de 1383 e 1384
Na batalha de
Aljubarrota - 14 de Agosto de 1385 - foi de um para cinco o desequilíbrio das
forças em presença, cada uma delas comandada pelo correspondente rei; seis mil
para trinta mil. Atribuiu-se à famosa tática do quadrado a razão da vitória
lusa, no entanto outras circunstâncias concorreram para o desfecho; as “covas
do lobo” (valas dissimuladas no terreno onde caiam cavalos e cavaleiros
espanhóis), o contributo dos eficientes soldados ingleses - cerca de 800, que
vieram ajudar ao abrigo do Acordo de Tagilde e de Westminster), a Fé de Nuno
Álvares, e o conforto do Papa Urbano II que considerara D. João I de Castela herege
por ter apoiado o antipapa Clemente VI, fazendo ler uma bula ao exército
português pelo Arcebispo de Braga, absolvendo de todos os pecados os que
combatessem o exército castelhano.
Antes de mais
sublinhe-se a competência do planeamento da batalha obrigando o inimigo a
combater no nosso terreno, nas nossas condições; a meu ver terá sido essa a
causa primordial.
Ficou evidenciada a visão
estratégica de D. Fernando “O Formoso” ao ter rubricado os Tratados de Tagilde
e Westminster, respetivamente, em
1382 com João de Gante - fundador da Casa de Lencastre, inspirador do futuro
Tratado de Windsor e…candidato à
coroa de Castela! - e, em 1383, com Eduardo II. Pelo meio, em 1373, assinou, o
Acordo de Salvaterra de Magos com o rei de Castela. Por todas as razões
conhecidas - guerra com Galiza, Leão, Astúrias e Castela, desde os tempos do ainda
Condado - “O Formoso” precatou-se estabelecendo com os reis ingleses aquela que
é a mais velha aliança de apoio mútuo entre dois países, e que viria a ser
decisiva quer para o desfecho da Batalha de Aljubarrota - as forças inglesas
eram compostas por 600 archeiros - quer para o sucesso da Dinastia de Avis e de
afirmação de Portugal no mundo. Por outro lado, compreende-se a desconfiança e
hostilidade dos castelhanos relativamente aos portugueses por estes terem
apoiado um candidato inglês, D. João de Gante, casado com D. Constança filha de
D. Pedro I de Castela “O Cruel”, à sucessão do trono de Castela
Vivendo-se, então,
em pleno, o Grande Cisma do Ocidente, que ocorreu entre 1378 e 1417, pode
dizer-se que Portugal estava no lado certo da História ao apoiar o Papa Romano,
cidade onde, segundo o Concílio de Constança realizado em 1417, ficaria
decidido, em definitivo a residência papal em Roma. Esta, constituiria mais uma
razão da crónica incompatibilidade luso-castelhana. Associada à Fé de Nuno
Álvares - então com 25 anos e que, quando confrontado com a superioridade do
poder militar castelhano, terá referido, que maior era poder de Deus, que nunca
lhes faltara -, a bênção do Papa à causa lusa, conferiu superioridade moral ao
respetivo exército.
No rescaldo do
embate, D. Nuno Álvares Pereira foi agraciado, por D. João I, com o título de
Conde de Ourem e com inúmeros senhorios, de que resultaria a futura e notável
Casa de Bragança, que ainda hoje subsiste, apesar da República. Em 1386
rubricou-se o Tratado de Windsor, que
ratificou e ampliou os tratados anteriores e estabeleceu o acordo de casamento
de D. João I e D. Filipa de Lencastre - Catarina de Lencastre casaria com
Henrique III de Castela, demonstrando uma estratégia dinástica de João de Gante
para toda a Península Ibérica. Assinaram-se tréguas sucessivas com Castela,
culminando com a assinatura da paz definitiva no Tratado de Segóvia em 1411, a
qual só viria a quebrar-se em 1575, na sequência da crise de sucessão a D. Sebastião.
Decidiu-se a construção do Mosteiro da Batalha, que viria a ser concluído por
D. Manuel I, fazendo parte do Património Cultural da Humanidade, da UNESCO.
Batalha de Aljubarrota
Peniche, 30
de Junho de 2018
António J.
R. Barreto
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