Publicação em destaque

Olhando Para Dentro (notas)

Olhando Para Dentro 1930-1960 (Bruno Cardoso Reis) (Em História Política Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - nota...

Pesquisar neste blogue

sábado, 16 de junho de 2018

Da História de Portugal, notas IV


Da Lusitânia a Portugal
De Diogo Freitas do Amaral
Bertrand Editora
Notas IV (sobre a obra)


O conflito de interesses entre as nobrezas galega e portucalense, representadas, respetivamente, por D. Teresa e D. Afonso, culminou, em 24 de Junho de 1126, na batalha de S. Mamede, da qual resultou a vitória do jovem Afonso e a expulsão de D. Tereza para a Galiza, constituindo o primeiro passo na caminhada da constituição do reino de Portugal. Tivesse sido outro o resultado da disputa e teriam sido diferentes as histórias de Portugal, de Espanha, e até do Mundo.
   O futuro Rei de Portugal, encetou então duas guerras em simultâneo; uma contra D. Afonso VII, o rei de Leão e Astúrias, outra contra os muçulmanos, ainda instalados abaixo do Mondego. Doze anos, de 1135 a 1147, foi o tempo de que necessitou para reconquistar a região entre o Mondego e o Tejo.
   Foi em 1139, por ocasião da batalha de Ourique contra os “cinco reis mouros”, que nasceu a lenda da aparição da imagem de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques, a qual contribuiria, mais tarde, para a legitimação do estatuto de rei, deste, à luz da doutrina da origem divina do poder régio. Desde então, D. Afonso Henriques, intitulou-se Rei dos Portugueses (Portugalensium Rex).
   Para o autor, não foi na conferência de Zamora realizada em 1143 com Afonso VII, este, então, a necessitar de uma trégua devido aos conflitos em Navarra e Aragão, que Portugal se tornou independente. Tal teria ocorrido dois meses mais tarde, em carta enviada por D. Afonso Henriques ao Papa a 13 de Dezembro de 1143, na qual, este, fez a sua “declaração unilateral de independência” à revelia do imperador Afonso VII, constituindo-se vassalo do Papa a troco do tributo anual de quatro onças de ouro, tendo ainda declarado não se submeter a qualquer outro poder secular. Em 1 de Maio de 1144, através da carta Devotionem tuam, o Papa aceitou o enfeudamento de Portugal à Santa Sé, designando o requerente por dux, que significava, “chefe supremo”.
   A disputa entre D. Afonso com D. Teresa, parecia-me algo bizarra, ao supor que viveriam ambos em Guimarães, o que não é verdade; D. Afonso, sim, vivia em Guimarães, mas D. Teresa vivia em Coimbra com o seu companheiro galego, Fernão Peres de Trava.
   O autor desvaloriza a autodenominação de Rainha por D Teresa; tal, parece-me natural e decisivo na posterior atitude de D. Afonso Henriques ao intitular-se Rei, dispensando-se de vassalagem a qualquer poder temporal. Afinal D. Teresa era filha do Rei astur-leonês Afonso VI; na qualidade de princesa, ao considerar-se rainha após enviuvar, terá pretendido afirmar a independência do Condado Portucalense, face ao reino da Galiza, ou eventualmente, unificando este e o Condado Portucalense num só reino sob sua égide, posteriormente de D. Afonso Henriques, sob a tutela do imperador Afonso VII. Neste caso, Portugal, hoje, poderia integrar a atual Galiza. A verdade é que, a a afinidade entre estes dois povos é, digo eu, quase total.
   Na sua caminhada para sul, Afonso Henriques, em 25 de Outubro de 1147, com a ajuda dos cruzados, tomou Lisboa aos Mouros, que a ocupavam há 400 anos! Quatrocentos anos! Ou seja, árabes e cristãos ocuparam esta cidade, mais ou menos o mesmo tempo; quatro séculos! Compreende-se, assim, melhor, a “alma árabe” dos portugueses, que alguns, atualmente, afirmam.
   Este feito é tido como a consagração definitiva do Reino de Portugal e do Rei D. Afonso Henriques, na comunidade internacional, em consequência da participação desta, nele, através dos Cruzados vindos do norte da europa, e junto da Santa Sé, cujo Papa, conferiu ao ato dignidade idêntica à das cruzadas do oriente.
   Tal como tinham feito os árabes relativamente aos cristãos, também D. Afonso foi magnânimo com os derrotados, tendo-lhes atribuído “cartas de segurança e privilégio”.
   Em 1179, através da bula Manifestis Probatum, o Papa Alexandre III, confirma o Reino de Portugal e D. Afonso Henriques como seu rei com direitos hereditários, conferindo-lhe ainda a prerrogativa de prosseguir a reconquista cristã autonomamente. Por tudo isto, muitos consideram esta, a data da efetiva independência de Portugal. Uma das nações mais antigas da Europa e o primeiro a tornar-se independente pela via da secessão, separando-se do reino de Leão.
 
 
Conquista de Lisboa em 25 de Outubro de 1147
 
 Peniche, 16 de Junho de 2018
António J. R.. Barreto

Sem comentários:

Enviar um comentário