Da Lusitânia a Portugal
De Diogo Freitas do Amaral
Bertrand Editora
Notas IV (sobre a obra)
O conflito de interesses entre as
nobrezas galega e portucalense, representadas, respetivamente, por D. Teresa e
D. Afonso, culminou, em 24 de Junho de 1126, na batalha de S. Mamede, da qual
resultou a vitória do jovem Afonso e a expulsão de D. Tereza para a Galiza,
constituindo o primeiro passo na caminhada da constituição do reino de
Portugal. Tivesse sido outro o resultado da disputa e teriam sido diferentes as
histórias de Portugal, de Espanha, e até do Mundo.
O futuro Rei de Portugal, encetou então duas guerras em simultâneo; uma
contra D. Afonso VII, o rei de Leão e Astúrias, outra contra os muçulmanos,
ainda instalados abaixo do Mondego. Doze anos, de 1135 a 1147, foi o tempo de
que necessitou para reconquistar a região entre o Mondego e o Tejo.
Foi em 1139, por ocasião da batalha de Ourique contra os “cinco reis
mouros”, que nasceu a lenda da aparição da imagem de Jesus Cristo a D. Afonso
Henriques, a qual contribuiria, mais tarde, para a legitimação do estatuto de
rei, deste, à luz da doutrina da origem divina do poder régio. Desde então, D.
Afonso Henriques, intitulou-se Rei dos Portugueses (Portugalensium Rex).
Para o autor, não foi na conferência de Zamora realizada em 1143 com
Afonso VII, este, então, a necessitar de uma trégua devido aos conflitos em Navarra
e Aragão, que Portugal se tornou
independente. Tal teria ocorrido dois meses mais tarde, em carta enviada por D.
Afonso Henriques ao Papa a 13 de Dezembro de 1143, na qual, este, fez a sua
“declaração unilateral de independência” à revelia do imperador Afonso VII, constituindo-se
vassalo do Papa a troco do tributo anual de quatro onças de ouro, tendo ainda declarado
não se submeter a qualquer outro poder secular. Em 1 de Maio de 1144, através
da carta Devotionem tuam, o Papa
aceitou o enfeudamento de Portugal à Santa Sé, designando o requerente por dux, que significava, “chefe supremo”.
A disputa entre D. Afonso com D. Teresa, parecia-me algo bizarra, ao
supor que viveriam ambos em Guimarães, o que não é verdade; D. Afonso, sim,
vivia em Guimarães, mas D. Teresa vivia em Coimbra com o seu companheiro
galego, Fernão Peres de Trava.
O autor desvaloriza a autodenominação de Rainha por D Teresa; tal, parece-me
natural e decisivo na posterior atitude de D. Afonso Henriques ao intitular-se
Rei, dispensando-se de vassalagem a qualquer poder temporal. Afinal D. Teresa
era filha do Rei astur-leonês Afonso VI; na qualidade de princesa, ao
considerar-se rainha após enviuvar, terá pretendido afirmar a independência do
Condado Portucalense, face ao reino da Galiza, ou eventualmente, unificando
este e o Condado Portucalense num só reino sob sua égide, posteriormente de D.
Afonso Henriques, sob a tutela do imperador Afonso VII. Neste caso, Portugal,
hoje, poderia integrar a atual Galiza. A verdade é que, a a afinidade entre
estes dois povos é, digo eu, quase total.
Na sua caminhada para sul, Afonso Henriques, em 25 de Outubro de 1147, com
a ajuda dos cruzados, tomou Lisboa aos Mouros, que a ocupavam há 400 anos! Quatrocentos
anos! Ou seja, árabes e cristãos ocuparam esta cidade, mais ou menos o mesmo
tempo; quatro séculos! Compreende-se, assim, melhor, a “alma árabe” dos
portugueses, que alguns, atualmente, afirmam.
Este feito é tido como a consagração definitiva do Reino de Portugal e
do Rei D. Afonso Henriques, na comunidade internacional, em consequência da participação
desta, nele, através dos Cruzados vindos do norte da europa, e junto da Santa
Sé, cujo Papa, conferiu ao ato dignidade idêntica à das cruzadas do oriente.
Tal como tinham feito os árabes relativamente aos cristãos, também D.
Afonso foi magnânimo com os derrotados, tendo-lhes atribuído “cartas de
segurança e privilégio”.
Em 1179, através da bula Manifestis
Probatum, o Papa Alexandre III, confirma o Reino de Portugal e D. Afonso
Henriques como seu rei com direitos hereditários, conferindo-lhe ainda a
prerrogativa de prosseguir a reconquista cristã autonomamente. Por tudo isto,
muitos consideram esta, a data da efetiva independência de Portugal. Uma das
nações mais antigas da Europa e o primeiro a tornar-se independente pela via da
secessão, separando-se do reino de Leão.
António J. R.. Barreto
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