O Equívoco do 25 de Abril
(Sanches Osório)
José Eduardo Sanches Osório, Oficial de Estado-maior com a patente de Major,
formado na Academia Militar e licenciado em Engenharia Civil pelo IST, foi um
dos primeiros oficiais a aderir ao Movimento dos Capitães. Diretor Geral de Informação
do 1º Governo Provisório e Ministro de Comunicação Social do 2º Governo
Provisório demitiu-se do Governo e do Exército após a resignação do General
Spínola, na sequência do 28 de Setembro.
Suspenso e proibido de concorrer a eleições, pelo MFA, o partido da
Democracia Cristã, do qual era Secretário-geral, com mandato de captura e
ameaçado de morte, Sanches Osório logrou escapar, com a mulher e quatro filhos,
exilando-se em Paris onde frequentou a Sorbonne. Apoiante de Spínola, conspirou
no âmbito do MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal), durante o
PREC, com a finalidade de travar o rumo político de Portugal, conduzido pelo
Partido Comunista, para uma ditadura socialista. Sanches Osório regressou a
Portugal em 1979 a convite do CDS, pelo qual foi eleito deputado, tendo-se
demitido por divergências relacionadas com a homenagem a Maria Palla - mãe do
atual Primeiro-Ministro -, proposta no Parlamento pelo PC, que apoiava. Foi
condecorado em 1983 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, com Mário Soares, Primeiro-Ministro
e Ramalho Eanes, Presidente da República.
Foi no exílio que Sanches Osório escreveu “O Equívoco do 25 de Abril”,
com o propósito de alertar os portugueses para a adulteração política dos
objetivos do Movimento dos Capitães. Estes, inicialmente mobilizados para a
resolução de problemas de natureza corporativa, salarial e de carreira, sentindo-se
em dívida com a Nação pela Revolução do 28 de Maio, que proporcionou a
instauração do Estado Novo, decidiram-se pelo derrube do regime e criação de
condições para o estabelecimento duma democracia pluralista. Segundo o seu
entendimento, o problema da Guerra Colonial só poderia ser resolvido suscitando
amplo debate na sociedade portuguesa em ambiente democrático, tal como a Justiça
social e a liberdade que ambicionavam. Reformas de fundo antes de eleições
livres e do estabelecimento da nova ordem constitucional estavam interditas
pelo programa do MFA.
Foi aqui que se verificaram as cisões entre militares e entre políticos;
os moderados davam prioridade à urgência da legitimação eleitoral do novo
regime enquanto os extremistas, militantes ou ativistas comunistas, civis e
militares, reivindicavam a legitimidade revolucionária para o estabelecimento
da nova ordem social, económica e política, e sobretudo, a entrega
incondicional das colónias.
Durante o PREC (Período Revolucionário em Curso), em que o poder caíu na
rua e durou cerca de um ano, destruiu-se, quase integralmente, a estrutura
económica de Portugal, metrópole e colónias, através de saneamentos, prisões
arbitrárias - sem culpa formada nem defesa, nem julgamento -, ocupações empresas,
terras e casas, a mando do aparelho comunista - com destaque do MDP/CDE, uma
das muitas faces do PC, do COPCON comandado por Otelo coadjuvado pelo PRP de
Isabel do Carmo, pelo MFA e por alguns regimentos do Exército de que se
destacou o de Vendas Novas e o da PM onde Mário Tomé fazia serviço - e do
abandono dos portugueses de além-mar às mãos dos guerrilheiros.
O 25 de Novembro veio pôr fim a esta insanidade, já com o país falido e
a última colónia - Angola - entregue a um partido de inspiração comunista, tal
como ocorrera nas restantes, incluindo Timor.
Instituída a normalidade política com a eleição dos Deputados
constituintes em 25 de Abril de 1975 e as eleições legislativas de 25 de Abril
de 1976, permanece a dúvida acerca da natureza do êxito do 25 de Novembro.
Conseguido o propósito primordial dos comunistas; entrega incondicional
das colónias, garantia de aceitação do PC no novo regime e afastamento dos
partidos conservadores - Partido do Progresso, de Fernando Pacheco Amorim, e
Partido da Democracia Cristã, de Sanches Osório - do processo eleitoral, dos quais
se receava forte adesão popular, o Partido Comunista moderou a sua ação,
nomeadamente desmobilizando, ou não ativando, o forte contingente militar que
de que dispunha em todas as armas, capaz de inverter o desfecho da crise.
O interesse deste livro reside no facto de se tratar do testemunho direto de um dos principais agentes do 25 de Abril, Sanches Osório, e de, através dele, se perceber quem, efetivamente, defendeu a liberdade política, quem, instalando o caos, tudo fez para instituir uma ditadura de índole socialista e quem colaborou neste propósito fazendo-se passar por democrata.
Peniche, 30 de Agosto de 2020
António Barreto
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