Olhando Para Dentro
1930-1960
(Bruno Cardoso Reis)
(Em História Política
Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - notas)
Do efeito das ameaças externas (nem de
propósito):
- “…O poder salazarista foi tanto mais
sólido quanto maior foi a ameaça externa que legitimou o seu nacionalismo
autoritário. Assim, os períodos de máxima consolidação do salazarismo ocorreram
durante a Guerra Civil de Espanha, a Segunda Guerra Mundial e o auge da Guerra
Fria, tendo enfrentado crises sérias de permeio.”
Acerca das elites políticas e do direito de
voto das mulheres:
-“A política continua a ser um jogo de
elites educadas num país de analfabetos. Neste grupo de politicamente inativos
teremos que incluir a esmagadora maioria das mulheres, pois apesar do Estado
Novo lhes reconhecer pela primeira vez na história portuguesa o voto em 1934,
esse direito é concedido apenas a um número limitado de mulheres educadas ou
viúvas”.
A crise da fundação (1930-1936):
-“A oposição a Salazar era, nesta época,
geralmente apelidada de “Reviralho”. O que parecia prevalecer era, ainda, como
o nome indica, não tanto a oposição a um Estado Novo em construção, mas
sobretudo a ideia de um regresso ao regime anterior ao de 1926. A designação de
“Reviralho” tem, no entanto, algo de enganadora. O Regresso ao sistema político
da primeira República estava longe de ser consensual entre os opositores a
Salazar. Esta falta de consenso sobre o que fazer depois de o afastar foi,
aliás, um dos problemas na construção de uma oposição eficaz. Os diferentes
grupos que se opunham ao Estado Novo nascente temiam ser instrumentalizados ao
serviço de outro programa político, e isso dificultou a plena mobilização dos
opositores a Salazar em qualquer um dos golpes que foram sendo organizados”.
As revoltas contra Salazar, “o antifascista”:
- A “Revolta
da Madeira”, ilha onde teve alguma adesão popular, ocorreu em 1931 e
estendeu-se aos Açores e à Guiné. Um corpo expedicionário derrotou os revoltosos,
devido à falta de coordenação destes com a revolta armada que se verificou em
Lisboa em Agosto do mesmo ano, consequência da falta de entendimento entre as
várias fações da oposição.
- A “Revolta
da Marinha Grande” verificou-se em Janeiro de 1934 na forma de uma greve geral
revolucionária por ação dos sindicatos, anarquistas (CGT), comunistas (Comissão
Intersindical), socialistas (FAO), e outros (COSA), tendo alguma expressão em
Silves, Almada e na Marinha Grande onde, por uma breve hora a revolta operária
parecia ter triunfado.
- A “Revolta
de Mendes Norton” ocorreu em Setembro de 1935 e tinha como estratégia a união
de todas as correntes antissalazaristas, desde a extrema-direita do próprio
Mendes Norton - numa reação à proibição deste movimento fascista e exílio do
seu líder por Salazar - até elementos da extrema-esquerda comunista. Este caso
demonstra o efetivo antifascismo de Salazar e, por outro lado, a falta de
escrúpulos da extrema-esquerda comunista em se aliar aos fascistas que dizia
combater.
- A “Revolta
dos Marinheiros” sucedeu em Setembro de 1936, foi organizada pela Organização
Revolucionária da Armada (ORA) constituída por células clandestinas comunistas
na Marinha de Guerra. Este episódio revelou a crescente influência do Partido
Comunista (PCP) na oposição a Salazar, consolidada após o decorrente falhanço,
e, por outro lado, a importância da Guerra Civil de Espanha. O plano dos
revoltosos era o de colocarem os seus navios ao serviço dos Republicanos
espanhóis considerando que a vitória destes iria precipitar o derrube de
Salazar. Curiosamente, o rescaldo deste evento, afirmou o PCP como principal
partido da oposição e reforçou o poder de Salazar, que enfrentara dois inimigos
externos; o de Espanha e o comunismo (uma fórmula historicamente funcional).
Peniche, 06 de Junho de 2020
António Barreto
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