Olhando Para Dentro
1930-1960
(Bruno Cardoso Reis)
(Em História Política
Contemporânea, Portugal 1808-2000, Maphre - notas)
Salazar reforça poder:
O contexto da Guerra Civil de Espanha alimentou a ideia da necessidade
de combater uma pretensa “quinta coluna”, comunista e iberista, a que a
“Revolta dos Marinheiros”, involuntariamente, deu credibilidade. Foi então
criado o campo de concentração do Tarrafal e as organizações fascizantes, Legião
Portuguesa e Mocidade Portuguesa. Por outro lado, a insegurança e destruição
recorrentes desde a implantação da República, resultou na convicção abrangente
da necessidade de um homem forte num Estado, livre dos velhos partidos.
Humberto Delgado testemunhou isso mesmo ao afirmar, após rotura com o regime,
que, nesse período, havia “razões de sobra” para apoiar o Estado Novo a impor alguma
ordem face às constantes revoltas.
Atentados contra Salazar:
Fracassados os golpes, decorria da própria
doutrina de “Homem Providencial” do Estado Novo, da queda da Monarquia e da
queda da República Nova em dezembro de 1918 com o assassínio de Sidónio Pais,
que a morte de Salazar conduziria à queda do regime (como, efetivamente veio a
acontecer em 68/74).
O
atentado mais mediático ocorreu em 4 de Julho de 1937, na Rua Barbosa du Bocage
em Lisboa, quando Salazar se dirigia à capela particular do seu amigo Josué
Trocado para assistir à missa. Falhou. A inépcia dos operacionais fez explodir
a bomba nas proximidades do local onde se encontrava salazar abrindo uma
cratera e cobrindo-lhe o fato de pó sem o atingir.
Este atentado poi perpetrado por
anarquistas, entre os quais se destacou Emídio Santana, anarcossindicalista,
Secretário-Geral do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos, filiado na
Confederação Geral do Trabalho, Secretário-geral das Juventudes Sindicalistas
em 1925 e 1926. Preso no Reino Unido, foi entregue à PIDE pela polícia inglesa
e condenado a 8 anos de prisão e 12 de deportação. Acabou por ser preso mais 4
vezes e, finalmente, libertado em 23 de Maio de 1953. Posteriormente, participou
no processo político antes e depois do 25 de abril. Nem o Partido Comunista nem
os políticos do Reviralho defendiam o assassinato de Salazar. Alguns comunistas
terão participado a título individual. (A estratégia do PCP, que lhe valeu
sérias dissidências e conflitos - com a FAP (Frente de Ação Popular) de João
Pulido Valente, Manuel Serra (que viria a fundar o MES) e Humberto Delgado -,
passava pela doutrinação, sistemática e paciente, da população e não pelo
confronto armado; mais tarde, na fase de Caetano, viria a criar a Ação Revolucionária
Armada (ARA), que protagonizou algumas ações de sabotagem).
O efeito deste atentado falhado, mais uma
vez, resultou no reforço dos poderes de Salazar, que beneficiou da condição de
vítima e do estatuto de protegido da “Divina Providência”. Em consequência
aquele sentiu legitimidade para aumentar a repressão política através da
Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (PVDE), antecessora da Polícia
Internacional de defesa do Estado (PIDE). Este atentado acentuou, em Salazar, a
necessidade de se manter a recato na sua nova residência oficial de São Bento.
Ameaça espanhola:
Numa época em que a Grã-Bretanha, enfraquecida, enfrentava ameaças em
múltiplas frentes, o derrube do Governo de Salazar a partir do exterior foi uma
esperança das oposições. Essa esperança veio da 2ª República espanhola,
constituída em 1931, em especial do seu 2º e último Presidente, Manuel Azaña, acolhendo, encorajando e
fornecendo armas aos opositores de Salazar. A aposta do lado espanhol no
derrube deste visava aumentar a segurança do regime e, eventualmente,
constituir a federação ibérica. Durante a Guerra Civil de Espanha, de 1936 a
1939, muitos daqueles opositores empenharam-se ativamente ao lado dos
republicanos, esperançados em que a vitória destes acarretasse o fim do regime
de Salazar. Este, por seu lado, apoiou, tanto quanto pôde, o lado contrário.
Peniche, 6 de Junho de 2020
António Barreto
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