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domingo, 30 de dezembro de 2018

Ascensão de Salazar (Os Anos de Salazar, Volume 1, notas 1)


Do Acto Colonial:

   …Criava-se o estatuto de direitos e deveres dos “indígenas”, que incluía a proibição do “trabalho obrigatório”, e eram reconhecidos direitos às missões católicas portuguesas.

Do Estado:

   …Deve o Estado ser tão forte que não precise de ser violento….O regime será autoritário e presidencial.

   A fonte de soberania não é o “cidadão”, mas a “célula social irredutível” que é a família, “núcleo originário da freguesia, do município”. Seguem-se as corporações, que representam “interesses legítimos a integrar nos da coletividade”.

   Rejeita-se a democracia, que foi operando o “nivelamento em baixo, contra o facto das desigualdades naturais, contra a legítima e necessária hierarquia dos valores numa sociedade bem ordenada”.

Da influência religiosa de Salazar:

   Na encíclica Diuturnum do Papa Leão XIII, refutava-se a ideia de que a legitimidade do poder civil e político proviesse do povo. Rejeitava-se o Contrato Social de Rousseau e afirmava-se a necessidade de um chefe para cada grupo de homens.

   A encíclica Libertas declara que a liberdade de expressão e de imprensa não constituem um direito.

   Já a encíclica Sapientiae Christianae defendia o amor extremoso dos cristãos à terra que os viu nascer e crescer, prontos a defendê-la, e o dever de militância política, “disciplinados” ao papa e aos bispos. ..A igreja não segue partidos políticos, mas aprova qualquer sistema de governo, desde que respeite a religião e a moral cristã.

   Na  Rerum Novarum  a igreja insurgiu-se contra o socialismo e o comunismo, contra a luta de classes e do recurso à greve, defendendo a reconciliação entre patrões e empregados nas corporações servindo e Estado de moderador.

   A Inimica Vis condena expressamente a maçonaria.

   A Graves de Communi estabelece os princípios da Democracia cristã, consistindo no reconhecimento do direito de propriedade, na independência das formas de governo, alheamento dos partidos, conciliação entre as classes sociais como uma só família, obediência às ordens justas das autoridades condicionada à conformação destas às leis de Deus. Incentivava-se à beneficência, à previdência, e acção social que levasse a democracia cristã até ao povo.

   No Centro Académico da Democracia Cristã confraternizou com vários católicos notáveis, Mendes dos Remédios, Marnoco e Sousa, Sobral Cid e o jovem minhoto Manuel Gonçalves Cerejeira.

Da influência pagã:

   Charles Maurras, reacionário, na sua Action Francaise defendia o catolicismo enquanto instrumento político - independentemente da Fé - a monarquia antiliberal, a censura e a prevalência do Estado sobre todos os outros interesses.

   Salazar conclui o curso geral do liceu, primeira secção, em 1909, com 19 valores. Em 1914, aos 25 anos, o Conselho da Faculdade de Direito atribui-lhe a classificação final de 19 valores. Em 1916 candidata-se à docência na Universidade de Coimbra na área de Ciências económicas com um estudo intitulado “A Questão Cerealífera. O Trigo”. Em 1917 candidata-se a assistente na Faculdade de Direito e conclui uma dissertação com o título “O Ágio do Ouro, sua natureza e suas causas (1891-1915)” em que analisa a balança de pagamentos e as oscilações cambiais em Portugal, no período indicado.

   Em 1912, Salazar tem uma curiosa intervenção na sua primeira palestra em público na qual, citando Alexandre Herculano, defende a liberdade de pensamento e expressão, a importância da moral e da educação na questão social, o envolvimento útil dos cristãos na sociedade, critica o regime acusando-o de antidemocrático por ser anti-cristão, rematando com uma citação de Afonso Pena onde exprime o seu sentido da vida em “Deus, Pátria, Liberdade, Família”.

   Em 1921, contra sua vontade, Salazar, escolhido pelo Centro Católico Português, é eleito deputado por Guimarães, despedindo-se, logo na primeira sessão, de José Maria Braga da Cruz.

   Nas vésperas do 28 de Maio, em 1925, sucedem mais duas tentativas de golpe militar; uma liderada pelo general Sinel de Cordes, a seguinte, pelo comandante Mendes Cabeçadas.

   Então temos um Salazar ”marrão”; trabalhador, disciplinado, católico, corajoso e ambicioso, que, grato pelo apoio eclesiástico, confundiu catolicismo com cristianismo e declinou o seu conceito de liberdade para um confortável autoritarismo anticristão, subjugado à obsessão da ordem  e disciplina; uma espécie de efeito simétrico face à insanidade da entropia republicana que se vivia na época.

Créditos a António Simões do Paço

Peniche, 29 de Dezembro de 2018

António J. R. Barreto

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