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domingo, 9 de dezembro de 2018

O 25 de Abril visto da História (notas, P14)



 O 25 de Abril Visto da História
(Livraria Bertrand)
Diálogo entre José António Saraiva e Vicente Jorge Silva em 1976 sobre a atualidade política, em vésperas as primeiras eleições presidenciais
 
 
…O primeiro dirigente político português a sugerir - indiretamente embora – a fórmula da “maioria de esquerda”, não foi Álvaro Cunhal, foi Mário Soares numa mesa-redonda na TV, depois de conhecidos os resultados das eleições de Abril de 1975. Demarcando-se com nitidez do PPD - que, no entanto, ultrapassa largamente o Partido Comunista em termos eleitorais -, Mário Soares preferiu colocar a tónica no peso maioritário da esquerda (facto que, aliás, se viria a refletir no conteúdo do texto constitucional, elaborado essencialmente com base na conjugação PS-PSD na Assembleia) …(VJS)
    Velhas cumplicidades dos tempos de Argel e da Frente Patriótica de Libertação Nacional. O resultado traduziu-se no PREC, na destruição do tecido económico e do capital, de que o país ainda padece. António Costa, “acossado” pela inesperada derrota eleitoral em 2015, recuperou este modelo reeditando o PREC em versão atualizada, optando pela satisfação das suas clientelas graças à inversão do ciclo económico e ao agravamento do endividamento e da carga fiscal, em vez de preparar o país para a inevitável crise futura. (AB)
 
….A posição de Melo Antunes a respeito do PCP, na sequência do 25 de Novembro, terá muito pouco - ou rigorosamente nada - que ver com a posição de Eanes sobre o mesmo assunto. Para Melo Antunes importava “recuperar” o PCP depois de lhe ter sido provada, em definitivo, a impossibilidade de levar por diante a sua tática golpista. Para Eanes - como para outros elementos militares - o que interessava era a marginalização do PCP….(VJS)
 
   Melo Antunes, comunista desde a juventude e principal mentor ideológico da insurreição de Abril e da desastrosa descolonização, detendo, à época, preponderância política, junto do “Grupo dos nove”, tratou de “salvar a pele” aos instigadores dos insurretos de Novembro - parte deles integrando atualmente o Bloco de Esquerda, nomeadamente a UDP nova designação dos dissidentes de 1964 do PCP, constituindo então a FAR, defensora da intervenção armada, a que aquele partido se opôs, e que em 75 concretizaram saindo derrotados - opondo-se à sua ilegalização. Quanto a Eanes, sendo, segundo VJS, pela marginalização do PCP - mas considerado por muitos como simpatizante deste partido, motivo do apoio do PSD ao General Soares Carneiro para as presidenciais em detrimento de Eanes a quem tinham apoiado anteriormente -, terá acabado por anuir à sua integração, eventualmente cedendo à tendência maioritária do Grupo dos nove.
 
…promulgada a nova constituição (elaborada num período em que a relação de forças ao nível do Poder pende claramente para o lado da esquerda, o que teria naturalmente reflexos no texto constitucional) passa a dar-se o contrário: o cumprimento da lei passa a ser uma reivindicação da esquerda (Vê-se o próprio deputado da UDP a exigir o cumprimento da lei…). …..Eanes, aparecendo como o homem (incorruptível) que faz cumprir a lei, torna-se naturalmente um aliado possível da esquerda (e em particular do PS, o partido mais responsável pela feitura da constituição)… (JAS)
   Talvez seja esta a razão de alguns atribuírem a Ramalho Eanes excessiva simpatia pela esquerda; PS e PCP. (AB)

….Para Eanes não existem classes com interesses distintos nem contradições no corpo social: existem, sim, a Nação, o País, a Salvação ou a Reconstrução Nacional.

    Por isso continua a ser respeitado pela generalidade dos portugueses e considerado o melhor Presidente da III República. A lealdade, a probidade e o espírito de missão são características irreconhecíveis no atual panorama político. O oportunismo, o nepotismo, a demagogia, a mentira descarada, fazem parte do dia-a-dia; uma espécie de novo tribalismo caracteriza o comportamento dos diretórios partidários, seus militantes e correligionários. O debate leal de ideias é a utopia das democracias. Estas transformaram-se numa caricatura de si próprias. Sem o “tempero” cultural adequado não há democracia. E esse “tempero”, para mim, são os valores cristãos, que, desde a Revolução francesa de 1789 têm vindo a ser substituídos, na Europa - em Portugal, a partir de 1934 -, pela doutrina maçónica. (AB)
Foto: Porto Novo

Peniche 10 de Dezembro de 2018
António J. R. Barreto

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