Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
Nenhum dos antecedentes
candidatos - Norton de Matos e Quintão Meireles - levou as respetivas
candidaturas até ao fim, fosse por falta de coragem - como pensava Delgado -, fosse
por falta de confiança no processo eleitoral recusando-se a legitimar eleições
fraudulentas.
Os relatos da campanha
eleitoral dão conta da forte adesão popular à campanha de Delgado, mostrando
haver na sociedade portuguesa de então forte disponibilidade para novas
propostas políticas. Na época, as oposições eram constituídas pelo ex-Partido
Republicano Democrático, pelas correntes liberais progressistas e socialistas, por
alguns setores da igreja Católica - como o Bispo do Porto, D. António Ferreira
Gomes; Manuel Serra, oficial de máquinas da Marinha Mercante um dos líderes do
assalto ao quartel de Beja em Janeiro de 1962 que já participara no Golpe da Sé
em 1959; padre Perestrelo de Vasconcelos, ex-capelão da Marinha envolvido na
mesma conspiração da Sé - e personalidades como; Vasco da Gama Fernandes, Jaime
Cortesão, Mário Soares, Mário de Azevedo Gomes, Francisco da Cunha Leal, Mendes
Cabeçadas, Ramon de La Féria, António Lomelino, Acácio Gouveia, Fernando
Piteira Santos, capitão Almeida Santos - um dos líderes da Revolta da Sé, em
Março de 1959 -, coronel Varela Gomes - outro líder do assalto ao Quartel de
Beja -,Vasco Gonçalves e muitos outros.
Apesar da grande
recetividade popular à campanha de Delgado, que, ao que parece, decorreu sem
restrições, a sua candidatura obteve apenas 25% dos votos. Convencido de fraude
eleitoral - a oposição não participou na contagem dos votos -, Humberto Delgado
considerou-se legítimo vencedor. Já Américo Thomaz, cuja campanha teve, também,
grande recetividade popular, considerou - nas suas “Últimas décadas da
República” -, tais declarações como as habituais desculpas dos derrotados.
Entre o fascínio do sucesso popular e a
compulsão da revolta, Humberto Delgado recusou o convite do Governo para
integrar uma ação formação em ciências económicas em curso no Canadá. Temendo
pela vida - agentes da PIDE pareciam controlar-lhe os movimentos -
apresentou-se na embaixada do Brasil onde pediu asilo político. Após
prolongadas peripécias de cariz político-diplomático, este, é-lhe concedido,
graças à intervenção de Álvaro Lins, intelectual de prestígio e embaixador do
Brasil em Lisboa.
Determinado a
prosseguir a luta, Delgado fundou, em 18/06/1958 com os delegados distritais e
nacionais da sua candidatura, o MNI - Movimento Nacional Independente - e, já
no Brasil, o jornal “Portugal Livre”, “porta-voz do movimento.
Inviabilizada a intervenção
democrática Delgado sentiu-se legitimado a recorrer à luta armada, declarando-o
sem restrições onde quer que o recebessem, no frenético périplo que desencadeou
pela Europa, Norte de África, América do Sul, Europa de Leste e Rússia. Esta atitude
haveria de conduzi-lo à morte, como preconizou Henrique Galvão.
Peniche, 28 de Janeiro de 2019
António JR Barreto
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