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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Humberto Delgado, O Mártir Socialista (Notas, P2)


Humberto Delgado, O Mártir Socialista

(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
 
  
Nenhum dos antecedentes candidatos - Norton de Matos e Quintão Meireles - levou as respetivas candidaturas até ao fim, fosse por falta de coragem - como pensava Delgado -, fosse por falta de confiança no processo eleitoral recusando-se a legitimar eleições fraudulentas.

   Os relatos da campanha eleitoral dão conta da forte adesão popular à campanha de Delgado, mostrando haver na sociedade portuguesa de então forte disponibilidade para novas propostas políticas. Na época, as oposições eram constituídas pelo ex-Partido Republicano Democrático, pelas correntes liberais progressistas e socialistas, por alguns setores da igreja Católica - como o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes; Manuel Serra, oficial de máquinas da Marinha Mercante um dos líderes do assalto ao quartel de Beja em Janeiro de 1962 que já participara no Golpe da Sé em 1959; padre Perestrelo de Vasconcelos, ex-capelão da Marinha envolvido na mesma conspiração da Sé - e personalidades como; Vasco da Gama Fernandes, Jaime Cortesão, Mário Soares, Mário de Azevedo Gomes, Francisco da Cunha Leal, Mendes Cabeçadas, Ramon de La Féria, António Lomelino, Acácio Gouveia, Fernando Piteira Santos, capitão Almeida Santos - um dos líderes da Revolta da Sé, em Março de 1959 -, coronel Varela Gomes - outro líder do assalto ao Quartel de Beja -,Vasco Gonçalves­ e muitos outros.

   Apesar da grande recetividade popular à campanha de Delgado, que, ao que parece, decorreu sem restrições, a sua candidatura obteve apenas 25% dos votos. Convencido de fraude eleitoral - a oposição não participou na contagem dos votos -, Humberto Delgado considerou-se legítimo vencedor. Já Américo Thomaz, cuja campanha teve, também, grande recetividade popular, considerou - nas suas “Últimas décadas da República” -, tais declarações como as habituais desculpas dos derrotados.

      Entre o fascínio do sucesso popular e a compulsão da revolta, Humberto Delgado recusou o convite do Governo para integrar uma ação formação em ciências económicas em curso no Canadá. Temendo pela vida - agentes da PIDE pareciam controlar-lhe os movimentos - apresentou-se na embaixada do Brasil onde pediu asilo político. Após prolongadas peripécias de cariz político-diplomático, este, é-lhe concedido, graças à intervenção de Álvaro Lins, intelectual de prestígio e embaixador do Brasil em Lisboa.

   Determinado a prosseguir a luta, Delgado fundou, em 18/06/1958 com os delegados distritais e nacionais da sua candidatura, o MNI - Movimento Nacional Independente - e, já no Brasil, o jornal “Portugal Livre”, “porta-voz do movimento.

   Inviabilizada a intervenção democrática Delgado sentiu-se legitimado a recorrer à luta armada, declarando-o sem restrições onde quer que o recebessem, no frenético périplo que desencadeou pela Europa, Norte de África, América do Sul, Europa de Leste e Rússia. Esta atitude haveria de conduzi-lo à morte, como preconizou Henrique Galvão.  
Peniche, 28 de Janeiro de 2019
António JR Barreto

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