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domingo, 27 de janeiro de 2019

Humberto Delgado, O Mártir Socialista (Notas P1)


Humberto Delgado, O Mártir Socialista

(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
 

  
Humberto Delgado opunha-se a qualquer tipo de tirania. Nunca aderiu ao comunismo; não queria substituir a ditadura de salazar pela comunista, apesar de ter sido bem tratado na Checoslováquia - onde foi submetido a duas intervenções cirúrgicas a uma hérnia, por influência de Álvaro Cunhal - e na União Soviética - que visitou a convite dos comunistas russos. Admirava a qualidade de vida de ambos. Defendia o Socialismo Democrático mas nunca o definiu. O Partido Socialista é o herdeiro político de Humberto Delgado. Compreende-se a atribuição do seu nome ao aeroporto da Portela pelo executivo socialista da Câmara Municipal de Lisboa.

   Foi em Outubro de 1957 que Henrique Galvão desafiou Humberto Delgado a candidatar-se, no ano seguinte, à Presidência da República, como parte da sua estratégia para derrubar Salazar. Galvão, que chegou a ser um dos correligionários diletos de Salazar, não lhe perdoou o apoio a Duarte Pacheco com quem rivalizara por ocasião da grande exposição da portugalidade que foi o Mundo Português - cujas reminiscências ainda hoje se podem ver lá para os lados da Torre de Belém.

   Indignado com a miséria que viu em África - decorrente da corrupção e do da servidão abjeta a que os negros eram sujeitos -, denunciou os abusos a Salazar e Marcelo Caetano, e, na Assembleia Nacional, confrontou os deputados com as brutalidades da política colonial. Perplexo com a passividade salazarista, íntegro e corajoso, logo decidiu derrubar o regime, pela insurreição armada, conspirando na estruturação dum projeto de ação.

   Foi descoberto e preso pela PIDE, sucedendo-se uma série de peripécias dignas dos melhores filmes de ação, cujos pontos altos foram a fuga do Hospital de Santa Maria, a entrada na embaixada da Argentina, onde esteve asilado, e o sequestro do paquete Santa Maria.

   Galvão associou-se à organização do galego Pepe Vela - DRIL, Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação - com o propósito de derrubar as ditaduras ibéricas pela via armada e substitui-las por regimes democráticos. Já depois do termo da aventura do paquete Santa Maria, com o apoio dos emigrantes portugueses do Brasil, chegou a implementar e dirigir um campo de treino de operacionais em Campinas com a finalidade de derrubar, pela força, o regime de Salazar.  

   Humberto Delgado, embaixador militar na Nato, idólatra de Salazar e defensor incondicional do Estado Novo, era também grande admirador de Henrique Galvão visitando-o com frequência, nas prisões da ditadura. Nasceu entre ambos uma empatia e admiração que culminaria na candidatura de Delgado à Presidência da República, em 1958. Haveriam de odiar-se irredutivelmente mais tarde num inevitável choque de egos.
Peniche, 27 de Janeiro de 2019
António JR Barreto
 

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