Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
Humberto Delgado opunha-se a qualquer tipo de tirania. Nunca aderiu ao comunismo; não queria substituir a ditadura de salazar pela comunista, apesar de ter sido bem tratado na Checoslováquia - onde foi submetido a duas intervenções cirúrgicas a uma hérnia, por influência de Álvaro Cunhal - e na União Soviética - que visitou a convite dos comunistas russos. Admirava a qualidade de vida de ambos. Defendia o Socialismo Democrático mas nunca o definiu. O Partido Socialista é o herdeiro político de Humberto Delgado. Compreende-se a atribuição do seu nome ao aeroporto da Portela pelo executivo socialista da Câmara Municipal de Lisboa.
Foi em Outubro de
1957 que Henrique Galvão desafiou Humberto Delgado a candidatar-se, no ano
seguinte, à Presidência da República, como parte da sua estratégia para
derrubar Salazar. Galvão, que chegou a ser um dos correligionários diletos de
Salazar, não lhe perdoou o apoio a Duarte Pacheco com quem rivalizara por ocasião
da grande exposição da portugalidade que foi o Mundo Português - cujas
reminiscências ainda hoje se podem ver lá para os lados da Torre de Belém.
Indignado com a miséria
que viu em África - decorrente da corrupção e do da servidão abjeta a que os
negros eram sujeitos -, denunciou os abusos a Salazar e Marcelo Caetano, e, na
Assembleia Nacional, confrontou os deputados com as brutalidades da política
colonial. Perplexo com a passividade salazarista, íntegro e corajoso, logo
decidiu derrubar o regime, pela insurreição armada, conspirando na estruturação
dum projeto de ação.
Foi descoberto e
preso pela PIDE, sucedendo-se uma série de peripécias dignas dos melhores
filmes de ação, cujos pontos altos
foram a fuga do Hospital de Santa Maria, a entrada na embaixada da Argentina,
onde esteve asilado, e o sequestro do paquete Santa Maria.
Galvão associou-se à
organização do galego Pepe Vela - DRIL, Diretório Revolucionário Ibérico de
Libertação - com o propósito de derrubar as ditaduras ibéricas pela via armada
e substitui-las por regimes democráticos. Já depois do termo da aventura do
paquete Santa Maria, com o apoio dos emigrantes portugueses do Brasil, chegou a
implementar e dirigir um campo de treino de operacionais em Campinas com a
finalidade de derrubar, pela força, o regime de Salazar.
Humberto Delgado,
embaixador militar na Nato, idólatra de Salazar e defensor incondicional do
Estado Novo, era também grande admirador de Henrique Galvão visitando-o com
frequência, nas prisões da ditadura. Nasceu entre ambos uma empatia e admiração
que culminaria na candidatura de Delgado à Presidência da República, em 1958. Haveriam
de odiar-se irredutivelmente mais tarde num inevitável choque de egos.
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