(Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)
Geoestratégia soviética:
Jean-François Revel em Comment
les democraties finissent refere que, entre 1970 e 1980, os soviéticos,
instalaram-se em África, na Ásia do Sudeste, na Ásia Central, na América
Central, no Próximo Oriente e nas duas margens do Mar Vermelho. O grande jogo
do nacional-comunismo operava em dois palcos principais, o euro-asiático e o
americano.
Os Estados Unidos, apesar de
detentores de meios materiais invulgares, carecem de experiência, imaginação e
continuidade, e do afeto que, por ingenuidade, procuram obter dos outros:
“amam-se os pequenos, raramente os gigantes”.
Com uma fronteira de três mil
quilómetros a sul, com o México pobre e sobrepovoado - atualmente com 129
milhões de habitantes - dificilmente os EUA a conseguirão defender. O plano foi
delineado há muito pela URSS; Cuba como agitador, América central como
detonador e México como bomba.
Outros riscos ameaçam a
estabilidade futura dos EUA; doze a quinze milhões de pessoas ilegais - se
organizadas (algo que parece ocorrer atualmente) poderão formar a quinta coluna
-, falta de bilhete de identidade nacional, a não imposição do idioma inglês e
chegada maciça de hispânicos - que um dia reclamarão o regresso aos territórios
dos seus antigos proprietários.
Quanto à Europa, diz Alexandre de Marenches que deve aprender
a defender-se por si só, sem a muleta americana; um dia, os americanos farão regressar
as tropas que lá têm estacionadas para defender a sua fronteira a sul. Tal era
parte do plano soviético (que alguém parece ter posto em marcha atualmente).
Porém, o abandono pelos EUA da defesa da Europa, em especial das ilhas
britânicas e Marrocos, seria um desastre para os americanos (na verdade, o
abandono de África aos soviéticos, está a revelar-se fatal para o Ocidente).
Propostas para a defesa do
Ocidente:
Finalmente, o conde Alexandre de Marenches, ex-chefe dos
SDECE franceses, esquematiza o que, à época, seria uma estratégia de defesa
militar do Ocidente:
o Constituição de um Estado-Maior supremo
interaliado, de guerra global, pluridisciplinar, militar e civil pronto para
responder em todas as ameaças.
o Constituição de um exército Europeu equipado
conforme ao modelo americano, composto por armas nucleares, um corpo para o
teatro Europeu, uma força expedicionária para os teatros externos e um exército
de milícia do tipo suíço. Defesa civil e proteção da população, uso das armas
ideológicas junto das populações dos países inimigos - “as palavras e as ideias
são a tropa de choque da guerra revolucionária” (Suzanne Labin) -, e ajuda em tempo de paz aos que se batem pela
liberdade, a exemplo de Savimbi.
Propunha, veementemente, uma
aliança estratégica com os países do Magreb - Marrocos, Argélia e Tunísia -,
“para que este não venha a ser um dia inimigo é preciso que seja complementar
da Europa”. O lado Europeu contribuiria com alimentos, capitais e tecnologia, o
lado africano com os grandes espaços, a mão-de-obra e o sentido do sagrado.
Em caso de guerra – invasão das
forças do extinto Pacto de Varsóvia pelo norte, a Península Ibérica e o Magrebe
constituiriam o último bastião europeu. Exemplificou com um acontecimento
histórico curioso, e pouco conhecido do grande público, ocorrido em Outubro de
1940 entre Franco e Hitler em Hendaia, nas margens do rio Bidassoa: Com Hitler
no auge do poder, Franco recusou-lhe passagem para o Norte de África
lembrando-lhe que Napoleão perdera mais soldados em Espanha do que na Rússia.
Finalmente, sugeria a retirada
do N do acrónimo NATO, naturalmente na sequência do alargamento o campo de ação
daquela organização militar ao Atlântico Sul.
Peniche, 07 de Março de 2020
António
Barreto
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