(Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)
O Terrorismo:
Quanto ao terrorismo, Alexandre de Marenches destaca os campos
de treino na Líbia, na Síria e no Iémen do Sul. Refere que o terrorismo não
inventa causas, serve-se das que existem, como por exemplo, dos arménios contra
os turcos em retaliação pelo genocídio que estes, em 1915, cometeram contra
aqueles. Surpreendentemente, revela que a Líbia era o grande financiador do IRA
e um elemento dos canais de financiamento, que compreendiam grupos separatistas
do Quebec, do IRA e da Bretanha.
Advogava Marenches que o combate ao terrorismo se deve fazer de forma global
visto que é uma espécie de doença internacional. Exemplos disso foram os casos
do terrorismo Basco e do Exército Revolucionário Vermelho Japonês cujas ações
poderiam ter sido limitadas se tivesse havido colaboração entre os serviços
secretos de Espanha, da França e da Holanda. As práticas do Exército Vermelho
Japonês consistiam em atar a vítima a uma árvore e retirar-lhe a pele em tiras,
da cabeça aos pés, e esquartejar os traidores.
Lord Mountbatten, ignorando, displicentemente, o aviso do
espião gaulês, não escapou ao atentado, ocorrido na Irlanda, em 27 de Agosto de
1979, ao seu iate, onde um dos seus netos perdeu a vida e outros familiares
ficaram feridos.
Sobre o atentado a João Paulo II,
Alexandre de Marenches soube que iria ocorrer e conseguiu avisá-lo através de um
eclesiasta francês. O Santo Padre, confiante de que a sua sorte estava nas mãos
do senhor, não tomou quaisquer precauções particulares. E o atentado ocorreu. Ali Agca, o seu autor, não passou de um
instrumento ao serviço da União Soviética. Não era do interesse desta um papa
não marxista, conhecedor do mundo comunista. Apesar de falhado, o atentado
debilitou o Santo Padre, que, a partir daí teve um forte declínio físico.
O terrorismo na Europa procura
desmembrar os países que a compõem a fim de impedir a formação da Grande Europa,
beneficiando da permeabilidade das suas fronteiras. A origem do terrorismo não
está na Europa nem no Médio Oriente; os primeiros terroristas contemporâneos
foram os Tupamaros do Uruguai.
Há um certo romantismo nas
causas do terrorismo que fascina o terrorista como uma espécie de droga, e
suscita admiração nalgumas pessoas. O fanatismo religioso é uma via
privilegiada para o recrutamento dos terroristas, os quais, doutrinados,
encaram a morte como uma espécie de libertação para o além paradisíaco.
A expansão xiita:
A expansão do xiismo,
maioritariamente concentrado no Irão, era apontado como um risco para a União
Soviética (sendo hoje uma das principais causas do terrorismo no Ocidente). No
entanto, surpreendentemente, os soviéticos infiltraram a estrutura eclesiástica
iraniana, acabando descobertos e saneados ou fuzilados.
O ativismo ecologista:
Alexandre de Marenches,
já retirado, advoga a necessidade de um Conselho Nacional de Segurança com a
finalidade de coordenar os serviços entre os vários ministérios, dando-lhe
coerência e eficácia. Atribui à democracia, concretamente à incompatibilidade
partidária, a ausência de progressos. O semiamadorismo dos Serviços teria sido
a causa do escândalo da ONG Greenpeace
ocorrido em 19 de Agosto de 1985 -
sabotagem da sua embarcação Rainbow
Warrior num porto da Nova Zelândia na qual faleceu o fotógrafo português
Fernando Pereira, em retaliação pelos protestos que fazia aos testes nucleares
que a França realizava no atol da Muroroa
-, que provocou grande turbulência diplomática entre os dois países e acabou
por custar três anos de prisão a dois operacionais franceses.
Neste tipo de ONGs de protesto,
sendo, muitas delas, fundadas por gente bem-intencionada, logo que ganham
alguma relevância são infiltradas por operacionais ao serviço de Moscovo que
acabam por subverter os princípios da fundação do organismo, manipulando-o em
conformidade com o seu interesse estratégico (pratica do PC português desde os
primórdios).
Alexandre de Marenches
António Barreto
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