(Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)
Pressupostos do 25 de Abril:
Na última fase do Estado Novo, décadas de sessenta e setenta, os
serviços secretos franceses estavam ao corrente do que se passava em Portugal.
Tinham consciência de que o regime envelhecera com Salazar e que se preparava
um revolução em todos os territórios ultramarinos, na sequência do que sucedera
na Índia. Sabiam que o exército português estava subvertido em virtude do
recrutamento militar de oficiais milicianos nas universidades do Porto e de
Lisboa onde o marxismo tinha proliferado, beneficiando da abertura política
proporcionada pela “Primavera Marcelista”. Erradamente pensavam que os serviços
da PIDE desconheciam a conspiração dos capitães. Um episódio ocorrido em Paris em
1974, entre Alexandre de Marenches e o
senhor B (Barbieri Cardoso? o chefe
da PIDE, à época, era Silva Pais), em que este, alegado “patrão” daqueles
oficiais, revelara total desconhecimento da revolução no preciso momento em que
esta ocorria, dera-lhes essa convicção.
Autocracia e totalitarismo comunista:
Alexandre de Marenches tem
uma curiosa interpretação do comunismo; compara-o ao catolicismo por terem
estruturas semelhantes! Assim, no regime soviético também há um papa, um
colégio de cardeais - o Politburo - a assembleia dos arcebispos e bispos - o
comité central e respetivos secretariados - e a Santa Inquisição - o KGB, para
combater as dissidências e prevenir os divisionismos. Contudo, considera que há
uma diferença fatal doutrinária que condenará a ideologia comunista; enquanto o
catolicismo, tal como todas as religiões, promete a felicidade depois da morte,
o comunismo promete-a em vida, o que, sendo verificável, descredibiliza esta
ideologia.
Peniche, 07 de Março de 2020
António Barreto
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