No Segredo dos Deuses
(Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant
em 1986)
A II Guerra Mundial:
Preocupado com a crescente concentração de poderes nas mãos de Hitler e
com o pedantismo irrealista dos responsáveis da defesa francesa - ainda
empolgados com o desfecho da I GM, os políticos e militares franceses julgavam
o seu exército capaz de manter invioláveis as suas fronteiras, revelando total desconhecimento
do “estado da arte” das forças alemãs.
Durante a ocupação da França, Alexandre de Marenches, viria a testemunhar, estarrecido, o degradante
espetáculo das denúncias dos seus compatriotas ao ocupante. Terminada a guerra,
de regresso a França ao lado do marechal Juin,
o ex-combatente aristocrático, descobriu, com grande surpresa, quarenta e dois
milhões de “resistentes”! De falsos resistentes. Traidores que se afirmavam
patriotas tal como por cá depois do 25 de abril de 1974.
Este livro, entre outras coisas, descreve o bulício militar que se vivia
em Argel, onde se cruzavam as forças aliadas e fervilhavam as intrigas, bem
como o corpo expedicionário sob comando do marechal Juin. Este era composto por cerca de cento e trinta mil homens, dos
quais, cerca de cem mil, indígenas do “ultramar” - berberes, cabilas, pieds-noirs, tabores marroquinos - e pela
1ª divisão francesa livre, composta por unidades oriundas do império francês; taitianos
e gente das feitorias da Índia. Ben Bella,
futuro Presidente da Argélia, integrou este corpo expedicionário acabando
distinguido enquanto ajudante de atiradores. Para as forças armadas francesas,
estava em causa desfazer o trauma da vergonhosa debandada de quarenta após
colapso da célebre “linha Maginot. Durante
a ocupação, o jovem Alexandre de Marenches - 20 anos -, determinado a não cair
nas mãos dos ocupantes, fugiu para Madrid, atravessando os Pirinéus, sozinho e
a pé.
Entre o relato de episódios pitorescos ocorridos no teatro de guerra, Alexandre de Marenches dá conta da ingenuidade do Departamento de Estado
americano - mandato de Roosvelt - ao
confiar na boa-fé de Estaline na sequência dos acordos de Teerão em 43,
proibindo os exércitos aliados de marcharem para leste, como pretendiam os seus
chefes militares, prevendo a ameaça comunista.
Graças a este equívoco os simpatizantes soviéticos infiltraram-se em
departamentos estratégicos americanos, incluindo o círculo presidencial, onde
obtiveram documentação classificada que lhes foi útil na posterior guerra de
desinformação entre as duas potências que ficou conhecida por “guerra fria”.
Na origem da boa vontade dos americanos para com Estaline esteve a
intenção de arrefecimento da exigência deste aos aliados de abertura duma nova
frente de combate a ocidente com vista a aliviar o esforço militar do exército
russo. Roosevelt era o Presidente
americano, Eisenhower o comandante
supremo interaliado e George Marshall
o estratega militar.
Um dos episódios sinistros praticado pelos dirigentes soviéticos
relatado consistiu no fuzilamento de dezenas de milhar de russos refugiados que
se encontravam nas zonas ocupadas pelas forças americanas e inglesas e
devolvidos à União Soviética - segundo refere Nicholas Bethell no seu livro The
Last Secret, teriam sido cerca de 2 milhões; uma sentença de morte a que
muitos tentavam escapar preferindo atirar-se dos comboios em movimento contra
as redes de arame farpado eletrificado.
Consequência da desagregação institucional na França liberta os
comunistas tomaram o poder nos núcleos de Resistência, caso de Limoges,
constituindo governos locais semelhantes aos famosos “sovietes” da Revolução de
1917. Impossibilitado de impor a ordem por falta de efetivos militares devido à
recusa de cedência por parte de Eisenhower, De
Gaulle, acabou por fazer concessões aos comunistas franceses, integrando
alguns deles no seu governo e amnistiando Maurice
Thorez, desertor célebre.
Estaline, de origem camponesa e ex-seminarista, adepto dos métodos de Sun Tzu, é descrito como antigo
terrorista, patrão do Kominform e do Komintern, responsável pela morte de
milhões de pessoas. Intrujão, explorava a credibilidade dos seus
interlocutores, simulando cordialidade, tolerância e solidariedade.
A
Administração americana intercedeu no espaço público favoravelmente ao regime
soviético tornando-o simpático aos seus cidadãos. Truman, que sucedeu a Roosevelt
e que contava entre os seus colaboradores próximos um tal Joseph Davies, amigo de Estaline desde os seus tempos de embaixador
dos EUA em Moscovo, fez vista grossa à anexação de Konigsberg e parte da Prússia oriental, tal como fizera Churchil. Paradoxal!
Tudo isto levou Alexandre de Marenches
a considerar que, apesar de terem vencido o nazismo, os Aliados perderam a
guerra para outro sistema totalitário, o fascismo vermelho; o cancro
marxista espalhara-se pelo mundo. Ficou a dever-se à ingenuidade de Truman e Marshall a ocupação da Europa de Leste pela URSS.
Vinculados aos acordos de Teerão,
Yalta e Potsdam, os chefes
Aliados Ocidentais acreditaram que o mesmo ocorria com Estaline. Enganaram-se!
Caiu a “cortina de ferro” sobre milhões de europeus, a URSS passou a ter três
votos na ONU enquanto os EUA mantinham apenas um. E, se é verdade que muitos
“cérebros” nazis foram recrutados pelos Aliados, muitos mais foram engordar os
quadros da URSS.
Peniche, 14 de Março de 2020
António Barreto
Peniche, 14 de Março de 2020
António Barreto
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