(Notas da entrevista de Alexandre de Marenches a Christine Ockrant em 1986)
A instrumentalização soviética:
A instrumentalização soviética:
Na luta insana pelos recursos
do planeta os soviéticos privilegiavam o recurso a intermediários para travarem
as suas lutas a troco de proteção. No continente americano, desde o Canadá à
Terra do fogo - Margem norte do Estreito de Magalhães -, tal missão cometia a
Fidel Castro - cuja administração dependia do financiamento vermelho -, em
África, para a região do Magreb e até ao sul de Angola, o “mandatário” era Kadhafi, o qual, além de gozar de
autonomia económica - devido ao petróleo -, comprava armamento e serviço
técnico aos soviéticos - que pagava a pronto e em moeda forte. Na Ásia essa
tarefa era desempenhada pelos veteranos de Hanói.
Exceção foi o Cambodja, em que os sanguinários Khmers vermelhos eram apoiados pela
China - fedelhos, armados de kalachnikov,
saídos das florestas, exterminaram cerca de um quarto da população da cidade, fazendo
jus a um dos lemas da Revolução francesa segundo o qual “a revolução não
precisa de sábios”.
O interesse Ocidental em
liquidar Kadhafi vem desta época - em
70 houve atentados egípcios contra ele -, acabando por se concretizar na guerra
civil de 2011. Curiosamente, Alexandre de
Marenches explica a falta de ação dos
americanos nestes casos - assassinato dos seus inimigos -, com razões de ordem
moral e falta de pessoal qualificado na CIA.
A administração Cárter dizimara
os recursos humanos dos serviços secretos americanos, facilitando a vida aos
seus inimigos. Conta-se um episódio em que, tendo-lhe sido proposto, por
iniciativa dos serviços secretos franceses, o sequestro de Khomeini, para moeda de troca com os americanos sequestrados na
embaixada de Teerão, Jimmy Carter
recusou, respondendo que não se fazia isso a um bispo e, sobretudo, a um homem
daquela idade. Nos Estados Unidos a Lei constitucional proíbe o assassinato em
nome da razão de Estado.
Em plena III Guerra Mundial:
Para o ex-chefe dos SDECE, a
terceira guerra mundial começara muitos anos antes desta entrevista - realizada
em 1986 - resumindo-se aos múltiplos conflitos armados locais e ao terrorismo,
que visam o acesso às matérias-primas e o controlo psicológico das populações.
A falta de perceção geral desta
realidade dever-se-á à ausência do padrão das guerras clássicas. Por outro
lado, não deveria temer-se o risco de conflito atómico em larga escala pela
simples razão de que a união soviética, o grande promotor do terrorismo
internacional - “a violência é a parteira da História, dizia Lenine” -, estaria
interessada em controlar os meios de produção industriais e tecnológicos do
Ocidente e não em destrui-los.
Já então, o “nosso” Marenches tinha percebido que uma Europa
alargada à Europa de Leste era inconveniente ao bloco soviético, dado o elevado
poder económico resultante, superior ao dos próprios Estados Unidos. (A
“invasão” de imigrantes afro-asiáticos a que assistimos hoje, pode estar
relacionada com o plano de desagregação da Europa, congeminado nos “bons” tempos
da URSS, e, coincidentemente, do interesse dos EUA).
Peniche, 7 de Março de 2020
António Barreto
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