Nós os portugueses (27 de Agosto de 2006)
“…Outra forma ainda mais idiossincrática, de se olhar o país, consiste
em relembrar as frases que os seus filhos mais ilustres proferiram, alguns no
leito de morte. Antes de expirar, a 11
de Maio de 1858, eis o que o grande cético Rodrigo da Fonseca terá dito:
“nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste” Poucos
anos mais tarde, Alexandre Herculano, o intelectual do regime, proclamava do
alto da sua cátedra rural: “Isto (o país) dá vontade de a gente morrer”, o que
faria, com reconhecido êxito, em 13 de Setembro de 1877. Mas não eram apenas os
políticos e os intelectuais que se compraziam em denegrir o país. Após uma ida
a Alcobaça em 1852, o futuro rei D. Pedro V anotava, com desagrado, a forma
como a família real ali havia sido recebida: “era quase impossível romper por
entre as turbas que rompiam em aclamações, ao som das músicas e ao ruído
insuportável dos clássicos foguetes, sem os quais não pode haver regozijo
público em Portugal”. Mais próximo de nós, Salazar olhava a população que a
providência o encarregara de disciplinar com mal disfarçado desgosto. Entre os
intelectuais e as massas existiu sempre um abismo.”…/
/…Tal como sucede no caso de uma
pessoa, a memória de uma nação é a base da sua identidade. É por isso que
considero que, sem uma historiografia rica, viva e polémica, o debate sobre as
características nacionais é uma imbecilidade.”
Maria Filomena Mónica
Peniche, 22 de Fevereiro de 2020
António Barreto
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