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sábado, 23 de fevereiro de 2019

Humberto Delgado, O Mártir Socialista (notas, P 12)

 
Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
 
Resumindo, em vésperas da viagem fatídica de Humberto Delgado a Espanha, verificava-se o seguinte quadro:
o   Henrique Galvão, por esta altura, já está fora do circuito oposicionista ativo.
o   Sediada em Argel, a F.P.L.N (Patriótica), de Álvaro Cunhal, Ramos de Almeida, Lopes Cardoso, Piteira Santos, Tito de Morais, Manuel Alegre e outros, controlada pelo Partido Comunista, cuja estratégia, contrariamente ao que acordara por ocasião da 1ª conferência, consistia na rejeição da luta armada em favor da consciencialização de massas, nas escolas, universidades, Forças Armadas, fábricas, mundo rural, etc., de forma a criar as condições de apoio popular a um futuro golpe militar revolucionário. Aconteceu no 25 de Abril de 1974. Note-se que, por esta altura, o PCP beneficiava de um apoio financeiro da União Soviética da ordem dos 10 milhões de euros mensais, o que permitia a profissionalização da militância e a elaboração de uma estrutura consistente que ainda hoje se mantém sem grandes alterações. Os restantes membros tinham constituição incipiente e diminuta.
o   Também sediada em Argel, a F.P.L.N. (Portuguesa), constituída com os dissidentes da F.P.L.N. (Patriótica), liderada por Humberto Delgado, Adolfo Ayala, grupo de apoiantes da sua candidatura, F.A.P. (como observadores), e outros, cuja estratégia consistia no recurso à luta armada para derrubar os regimes de Salazar e de Franco.
o   Mário Soares, Emídio Guerreiro e Jaime Vilhena de Andrade, acompanharam Humberto Delgado na sua Frente Portuguesa, mas houve quem acreditasse convictamente que estavam em missão ao serviço da Frente Patriótica - Henrique Cerqueira colaborador próximo de Humberto Delgado.
o   A Associação de Portugueses Livres de Marrocos, sediada em Rabat, constituída por portugueses oposicionistas, que tomaram o partido de Humberto Delgado.
o   Oposicionistas residentes em Argel, dependentes dos bons ofícios da F.P.L.N. (Patriótica) junto do Governo Argelino, que tomaram o partido de Humberto Delgado.
o   Ben Bella, o lendário Presidente Argelino, ex-jogador do Olympique de Marseille, amigo de Pélé e de Garrincha, líder das forças rebeldes que conduziriam a Argélia à independência da França, apoiava Humberto Delgado, instalando-o no Palácio e oferecendo-lhe meios de treino para 600 operacionais, armas e apoio aéreo.
o   Portugueses oposicionistas na diáspora; Venezuela, Argentina, Brasil, Paris, Roma (D. Maria Pia, filha de D Carlos), cuja missão consistia, no apoio financeiro e institucional ao movimento e na sua difusão.
o   Oposicionistas residentes em Portugal, “sobreviventes” da O.R. (Organização República), cujo propósito seria o de organizar estruturas de apoio popular prontas a entrar em ação logo que se iniciassem as hostilidades.
o   Líderes dos guerrilheiros das colónias portuguesas, com destaque para Amílcar Cabral e sua mulher Helena Cabral, e outros, que mantinham contactos regulares com os oposicionistas em Argel e Rabat, proporcionando algumas facilidades institucionais aos portugueses residentes nestes locais.
o   A P.I.D.E. com agentes infiltrados nas comunidades oposicionistas, lançando a desconfiança entre estes e procurando desacredita-los institucionalmente. 
o   A comunidade internacional, cautelosamente, com grandes restrições, ia dando algum conforto aos oposicionistas, salvaguardando, em geral, o relacionamento com o Governo Português, cuja diplomacia, sob a batuta de Fernando Nogueira, se revelava extremamente ativa e pertinente.
   No plano das ideias para o país verificavam-se incompatibilidades insanáveis entre as várias fações. Do lado da F.P.L.N. (Patriótica) liderada por Álvaro Cunhal defendia-se o advento da democracia e a imediata descolonização e independência dos territórios ultramarinos. Na verdade, os acontecimentos de 74/75, no período que foi designado por P.R.E.C., mostrou-nos um Partido Comunista pouco empenhado na implementação efetiva da democracia. Já a F.P.L.N. (Portuguesa), liderada por Humberto Delgado, defendia uma democracia socialista, a suspensão da guerra colonial e a autodeterminação do povo das colónias via consulta popular, opondo-se a qualquer tipo de totalitarismo. Por outro lado, a O.R. defendia a deposição da ditadura e a implementação da democracia com exclusão do Partido Comunista. O grupo de Mário Soares e Emídio Guerreiro, acompanharam Humberto Delgado na Frente Portuguesa, aderindo, aparentemente, ao seu projeto, em detrimento do da Frente Patriótica.
   É, pois, num contexto de guerrilha entre fações oposicionistas - inevitável face ao exposto, sobretudo entre as duas Frentes, em que cada uma tenta desacreditar a outra junto da comunidade internacional, em especial junto do Presidente argelino e junto da comunidade oposicionista -, vigiadas de perto pela polícia política de Salazar (suspeita de as ter infiltrado) que Humberto Delgado se desloca a Badajós, na sequência da “célebre” reunião de Paris, realizada no hotel Caumartin em 26 de Dezembro de 1964 com oposicionistas radicados em França e delegados de Lisboa e Porto, om o intuito de preparar os apoios internos para a intervenção armada em Portugal que tinha congeminado com o apoio de Ben Bella.
   Nessa reunião, terão participado, além do General, Rolando Verdial, Jaime Vilhena de Andrade, Mário de Carvalho, um tal Azevedo, Emídio Guerreiro e Ernesto Castro e Sousa (Ernesto Lopes Ramos), tendo ficado decidido a ida de Humberto Delgado a Badajós onde se encontraria com correligionários em Portugal, incluindo altas patentes das Forças Armadas, e ainda os delegados de Roma e Paris.
Foto: navio misto, a motor, Amboim, da CCN (não tripulei, mas pisei-lhe o convés)

Peniche, 23 de Fevereiro de 2019
António Barreto
 
 

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