Humberto Delgado, O Mártir Socialista
(Considerações com base nos livros; O
Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)
Quer Galvão, quer
Delgado, praticaram ações de grande bravura, mas o sequestro do paquete Santa
Maria não foi uma delas; dominar uma tripulação de um navio de passageiros
desarmados, servindo-se destes como escudos perante a eventualidade de reações
externas, não é grande feito.
A operação saldou-se
por um semifracasso; salvou-se o impacto mediático mas ficaram por consumar a
tomada da ilha de Fernando pó e os ataques a São Tomé e Príncipe e a Luanda.
O momento trágico do
sequestro viveu-se ponte onde uma precipitação dos assaltantes desencadeou um
tiroteio que atingiu o 3º Piloto de serviço, Nascimento Costa, que ficou no
chão a esvair-se em sangue pedindo para acabarem de o matar. Já alvejado com um
tiro, o 3º Piloto, tentara refugiar-se na Casa de Navegação resistindo a Jorge Sottomayor, altura em que voltou a
ser alvejado e derrubado. Viria a falecer mais tarde na enfermaria, ele, que
estivera para não embarcar para assistir, em Lisboa, ao nascimento do primeiro
filho.
O praticante de
Piloto João Lopes foi a segunda vítima, atingido com um primeiro tiro num braço
e dois nas costas quando tentava avisar o comandante Simões Maia.
Também o médico
Cícero Campos foi atingido com um tiro nas costas ao desobedecer às ordens dos
assaltantes. Apesar disso, ao deparar-se com o macabro cenário na ponte, para
onde o obrigaram a dirigir-se, convenceu-os a consentirem na transferência dos
feridos para a enfermaria onde lhes foi prestada assistência médica pela equipa
liderada pelo Dr. Teodomiro Borges1. Nascimento Costa, com uma bala
alojada num pulmão, viria a falecer na manhã seguinte pelas 07h20’.
Os comportamentos
dos assaltantes - com Camilo Mortágua pateticamente armado até aos dentes, com
pistola, metralhadora, granadas, bastão e faca de mato, quando a única arma a
bordo era uma pistola de 6,35 mm…sem balas, e as bravatas serôdias de Henrique
Galvão: “Estejam descansados e não se preocupem que ninguém lhes faz mal, eu
sou o Capitão Galvão” e “Não se está a passar nada além do facto de eu ter
tomado o seu navio”-, à parte as trágicas vítimas, mais se assemelhavam aos de
atores de uma comédia burlesca do que aos de operacionais militarizados. Estes
eram apenas 25. As mortes foram consequência da falta de treino e de sentido de
missão.
Peniche, 05 de Fevereiro de 2019
António Barreto
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