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terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Humberto Delgado, O Mártir Socialista (notas, P5)


Humberto Delgado, O Mártir Socialista

(Considerações com base nos livros; O Inimigo Nº 1 de Salazar de Paulo Jorge Castro; Acuso!, de Henrique Cerqueira; A Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e outros)  

Depois das muitas peripécias de preparação, nas quais Camilo Mortágua teve ação destacada - no recrutamento de operacionais e na obtenção de donativos e alimentos para o projeto -, e onde surgem personalidades como Miguel Urbano Rodrigues, Victor da Cunha Rego e Jaime Cortesão, após um período de treino na colónia de férias Los Caracas, inicia-se em La Guaira, a 20 de Janeiro de 1961, a operação Dulcineia, com a entrada a bordo do grosso dos operacionais e armas. Galvão e José Frias juntar-se-lhes-iam no dia seguinte na ilha holandesa de Curaçau. “Honra ou morte” foram as palavras de ordem de Humberto Delgado a Henrique Galvão.

   Quer Galvão, quer Delgado, praticaram ações de grande bravura, mas o sequestro do paquete Santa Maria não foi uma delas; dominar uma tripulação de um navio de passageiros desarmados, servindo-se destes como escudos perante a eventualidade de reações externas, não é grande feito.

   A operação saldou-se por um semifracasso; salvou-se o impacto mediático mas ficaram por consumar a tomada da ilha de Fernando pó e os ataques a São Tomé e Príncipe e a Luanda.

   O momento trágico do sequestro viveu-se ponte onde uma precipitação dos assaltantes desencadeou um tiroteio que atingiu o 3º Piloto de serviço, Nascimento Costa, que ficou no chão a esvair-se em sangue pedindo para acabarem de o matar. Já alvejado com um tiro, o 3º Piloto, tentara refugiar-se na Casa de Navegação resistindo a Jorge Sottomayor, altura em que voltou a ser alvejado e derrubado. Viria a falecer mais tarde na enfermaria, ele, que estivera para não embarcar para assistir, em Lisboa, ao nascimento do primeiro filho.

   O praticante de Piloto João Lopes foi a segunda vítima, atingido com um primeiro tiro num braço e dois nas costas quando tentava avisar o comandante Simões Maia.

   Também o médico Cícero Campos foi atingido com um tiro nas costas ao desobedecer às ordens dos assaltantes. Apesar disso, ao deparar-se com o macabro cenário na ponte, para onde o obrigaram a dirigir-se, convenceu-os a consentirem na transferência dos feridos para a enfermaria onde lhes foi prestada assistência médica pela equipa liderada pelo Dr. Teodomiro Borges1. Nascimento Costa, com uma bala alojada num pulmão, viria a falecer na manhã seguinte pelas 07h20’.

   Os comportamentos dos assaltantes - com Camilo Mortágua pateticamente armado até aos dentes, com pistola, metralhadora, granadas, bastão e faca de mato, quando a única arma a bordo era uma pistola de 6,35 mm…sem balas, e as bravatas serôdias de Henrique Galvão: “Estejam descansados e não se preocupem que ninguém lhes faz mal, eu sou o Capitão Galvão” e “Não se está a passar nada além do facto de eu ter tomado o seu navio”-, à parte as trágicas vítimas, mais se assemelhavam aos de atores de uma comédia burlesca do que aos de operacionais militarizados. Estes eram apenas 25. As mortes foram consequência da falta de treino e de sentido de missão.

Peniche, 05 de Fevereiro de 2019
António Barreto

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